O rapper baiano Vandal lançou na última sexta- feira uma pedrada feat Heavy Baile, com um icônico audiovisual da Phodismo
“Não tá fudido no hospital então levanta a guia”
O artista baiano Vandal soltou mais uma faixa single daquelas que não buscam acerto ou diálogo. Como vem fazendo ao longo de toda sua carreira, suas afirmações são de uma violência inaudita e sem recúo. A parceria com o Heavy Baile, é o primeira de uma série de lançamentos que vem preencher o fim de ano do artista.
Quem acompanha a trajetória do artista baiano sabe que Vandal não busca esse acordo fajuto e limitante com a indústria cultural que atualmente absorve o rap nacional. O público da classe média branca que hoje impulsiona e eleva o rap nacional ao mainstream, e a xenofobia estrutural emanada do eixo Rio-São Paulo, não encontra arrego por parte do MC.
Essa postura é percebida pelo seu público local com o qual o artista luta dentro das trincheiras anti-fascistas e anti-racistas, pelos “favelão” de Salvador no dia a dia. Com um pente alongado de rimas, o rapper vive o corpo a corpo no cotidiano de guerrilha cultural, social e política que vivemos em Salcity e no Brasil. Em ano pandêmico isso não mudou, e apesar da impossibilidade de shows, Vandal lançou Romariah, Vingadorah e Na Trama com os parceiros da UGangue. Esse contexto atrasou o seu disco, mas diante de mais uma impossibilidade a música do artista parece se inflamar mais ainda!
Após um remix em ritmo de samba-duro do grande Lord Breu da faixa MIMIMIH, 100 apresenta mais uma produção com produtores de renome da cena nacional. Dessa vez a pesada 100 contou com a produção do Heavy Baile, que caiu como uma luva para a linhas agressivas onde o MC baiano, segue expondo o fakegame, acima mencionado. Na faixa, Vandal bate e convoca, se afirma uma negritude ancestral e combativa, das que não entregam flores ou apertam a mão dos algozes.
“Vandal das pokas ideia, Vandal das pokas conversa”
Falemos a verdade seguindo o próprio Vandal, é realmente revigorante ouvir uma faixa como 100, em meio a uma cena onde os traps de melodia explodem como traques de massa. Pokas ideias com essas bobagens que estão ai nas vitrines do rap nacional, com discursos palatáveis aos ouvidos de uma esquerda que segue em Salvador apoiando o genocídio negro. Um público cada dia mais preguiçoso com expressões realmente divergentes
Numa época em que meritocracia serve de consolo e de justificativa antecipada para evitar críticas a trabalhos ruins, Vandal segue trabalhando e lançando produções cada vez melhores e mais singulares. Enquanto cozinha um disco que a pandemia atrasou, Vandal segue gravando dezenas de músicas, muitas não lançadas, e colando com artistas que estão começando na cena de Salvador. Buscando arrejar sua músicalidade com beats e sonoridades diversas: house, grime, eletrônico, funk, pagodão, drill, trap, em muitas delas como pioneiro.
Em um ano tão conturbado, Vandal lançou trabalhos que compoem um quadro inventivo e combativo. Pioneiro no Brasil em gêneros hoje amplamente consumidos como o trap, grime e o drill, é interessante notar como ele não se prende nem nos louros – que insistem em não lhe dar – como em repetir fórmulas. O que nos leva a uma curiosidade maior ainda, quanto ao disco que está sendo preparado. Muitas faixas gravadas durante a pandemia e algumas delas prometem vir a luz agora no fim do ano!
Porém, enquanto o disco não chega, Vandal leva a luta a frente, mantém de sua parte uma independência agressiva, sem recuar nenhum centímetro. E ao mesmo tempo levando a frente uma identidade audiovisual que é o outro lado de sua singularidade artística. E o nome responsável por essa caminhada de cameras e edições é Coreh e a sua produtora Phodismo, que vem colaborando ao longo dos anos com um trabalho sem igual no Brasil. Hoje, a Phodismo soma esforços com dois outros cabeças caras da arte de Salcity, neste trabalho a captação de Thomas Magone (drones), Neghet (fotografia) e do próprio Coreh (vídeo).
As imagens flagram Vandal em cima de um carro queimado e abandonado e em mais um audiovisual icônico da Phodismo, duas questões nos chamam atenção. O carro onde Vandal é capturado rimando em cima, e todo grafitado em transformado através de efeitos numa máquina capaz de passar por cima de quaisquer dificuldades. Seria em nossa visão, uma analogia muito bem construída pelo Coreh a potência dos versos.
E o equivalente disso seria exatamente a subversão da cultura do “Grau” filmado com os manos da Família CajaCity mandando as manobras insanas pelas ruas. Algo muito presente entre os jovens das periferias de Salvador. Toque fundamental para o entendimento daqueles que subvertem o trâncito, que a phodismo transforma numa poesia visual marginal, preta e periférica intercalando as imagens da rapaziada do “grau” com as rimas de Vandal criticando duramente o tráfego do fakegame.
O racismo estrutural do nosso país e os mecanismos da industria cultural podem ser vistos aí, porém essas dificuldades instigam o ballah ih fogoh, rimas que nos acertam como tiros, e o carro incendiado que através do hip hop se transformam em um monster truck, que com Vandal na direção é 100 freiuh!
-Vandal feat Heavy Baile está 100 freio, e quem segura?
Por Danilo Cruz