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Underismo é “as Peça, é o Bicho”… Destranca os Cadeado

Underismo é “as Peça, é o Bicho”… Destranca os Cadeado, que os menino/ menina tem a chave pra romper qualquer obstáculo, são Produto Dugueto

Um coisa que me chamou de cara a atenção dessa “barrera” do Underismo, é o fato de descobrir o trabalho deles através de um obra cheia. R3sídu0$ (2018) é apresentação de um EP que trouxe uma estética nova, as ideias agravantes desenroladas num misto de bom humor (gastação) característico dos jovens e uma rebeldia idem. A técnica afiada e sobretudo eles possuem como grupo uma linguagem própria. 

Essa linguagem me parece, é fruto da extrema qualidade de todos os mcs Underistas, assim como de uma origem diversa que tem no freestyle talvez o ponto comum a todos. Um contraste interessante entre uma elegância de jovens negros largadamente bonitos num estilo gastação e sujeira que lhes é natural.

O trabalho solo feito por Trevo, Nada de Novo Sob o Sol (2018) é sem dúvida um dos três melhores discos/revelação produzidos no ano passado no Brasil. Existisse realmente uma mídia que não fosse bairrista (por diversos motivos) os caras teriam conseguido projeção nacional já no ano passado.

Mas, eles seguiram firmes e seguem produzindo em alto nivel e o mais importante, fazendo trabalhos que fogem do “pânico do single”. Sabemos o quanto singles hoje movimentam a cena da música mundial, no entanto como um bom velho, gosto de singles que anunciam obras maiores, ou singles que vão preparando um “nome” pra o lançamento de algo como um EP por exemplo. Não acredito em artista de single, até compreendo, mas não coloco na mesma prateleira de quem lança disco. 

No final do ano passado, os caras entregaram para todos aqueles que estavam ligados e queriam motivo pra bagunçar a ceia natalina, uma Demotape (2018) contendo 4 faixas. Novamente reafirmaram a sensação que todos que já colaram em seus shows ou vinham acompanhando o EP R3sídu0$ tinham, os meninos são a chave. Dessa vez com a produção dos mesmos responsáveis pelo disco do Trevo, a produtora GANA (Filipe Mimoso/ Mayara Ferrão), os artistas apresentaram mais uma dose cavalar, mesmo em quatro músicas, de sua poesia de elevação da negritude, de viés underground.

É importante refletir um pouco porque em apenas 12 músicas no total, as doses de ritmo e poesia em suas músicas sempre são cavalares? São nada menos que 6 mcs e um dj que também bagaça nas rimas, naquela pegada dos antigos disc jockeys. Senpai, Kolx, Trevo, Alfa, Ponci e Ares mais o DJ Moura. Esse conglomerado de talentos – e o são realmente muito talentosos – apresentam sempre em cada música, pequenas cápsulas do que podem. Isso quando condensado e bem produzido numa faixa e juntando outras tantas músicas, produz o nível alto que sempre percebemos em seus lançamentos. Pois é fácil acontecerem variações técnicas, temáticas e de flow, o que faz com que a fissura do ouvinte aumente, ao perceber que mesmo assim, eles mantém uma unidade estética muito forte.

O Underismo se denomina um coletivo e talvez venha daí uma parte importante da força daquilo que apresentam. Como dito acima, a dupla Mayara Ferrão/Filipe Mimoso (GANA producão) cola com o coletivo como colaboradores. Fazem parte do coletivo ainda Raísa Muniz, Nobru e Filipe Duarte nas partes pesadas burocráticas de organização e aconselhamento, ou seja, os caras são talentos cercados de talentos em diversas campos por todos os lados! São forças singulares em todas as áreas, desde a produção visual e musical afiadíssíma da GANA, até os trâmites executivos, organizacionais do bonde. 

Essa reunião de pretos e pretas chaves, faz com que na real estejamos diante de um chaveiro de todas as portas, não de um mera coleção de chaves. Essa união coletiva, termina por nos apresentar algo muito consistente sempre, e a pergunta é a seguinte: O que tá faltando para as portas destrancarem? E eu mesmo respondo: a cidade e a favela abraçar grandão! Assim como é o caso de diversos outros grandes nomes da cena, sejam os mais novos, sejam os antigos que se mantém.

Domingo, em pleno baile da Under (festa que os caras realizam no bairro da Mouraria no centro de Salvador) eles lançaram o clipe de Pretx Chave. Um excelente audiovisual produzido por Ramires AX, que se você acompanha aqui o Oganpazan, sabe que ele está envolvido sempre em produções que se elevam de nível a olhos vistos. A música é um excelente e porque não, um definitivo exemplo do que acima ressaltamos, onde cinco dos seis mc’s da banca rimam.

Toda a produção e a direção musical é fruto do trabalho de Filipe Mimoso (Nada de Novo Sob o Sol e a Demotape) vem com um trap pesado, com guitarras (“clássico como Ximbinha”), percussão (dele e de Nobru) e numa swingueira baiana que só é possível aqui. E em cima desse beat envenenado de dendê os meninos deitam com uma facilidade absurda. Seja para mandar uns bragaddocios sensuais tipo Alfa, seja pra ressaltar a pegada consciente e agressiva tipo Ares, ou mesmo para demonstrar a serenidade em poucas linhas como Trevo, ou ainda, para rimar sobre a malandragem tipo Kolx ou com a clareza sobre o contexto em que se inserem e o que tá dado para vários outros jovens negros como Senpai

Visualmente o clipe é muito bonito por representar com simplicidade o sublime retirado do cotidiano, jovens numa laje, cerveja e dominó, metendo dança (Drica Bispo e Kalipe Santos), fazendo música, se divertindo e sobretudo produzindo um horizonte de mudanças para si e para os outros.

Em Pretx Chave (2019), temos um excelente exemplo de como jovens negros podem fazer dinheiro e arte ao mesmo tempo. A música do Underismo está numa ligação direta com as camisas da marca Produto Dugueto que fez camisas com esse título numa collab direta com o coletivo. Uma coleção que precisa ser consumida por quem quer ver os nossos prosperar. 

Assista, divulgue e compartilhe, assim podemos fortalecer o corre de quem admiramos!

 

 

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