Uma trilha Ho Chi Minh para o hip hop nacional, é um texto sobre ligações divergentes possibilitando lutar ativamente por outras visões na cena
No rap nacional, principalmente com a desvinculação deste ao hip hop tem muita gente de brincadeira. Se você chegou aqui de brincadeira saia, não te queremos aqui. Se você chegou por engano, pode pegar a pista, porque aqui o jogo é a vera. Selecionamos 7 audiovisuais que dialogam com a cultura hip-hop de algum modo, e que lhe encaminham por lugares que são perigosos e transformadores se você acredita que o rap é mera música de consumo.
Se você proseguiu até aqui então vamos lhe explicar. Vivemos à espreita, cercando daqui e dali pelos caminhos da vida, os bons encontros que nos encaminham, que nos violentam e nos obrigam a pensar, e entendemos que isso potencializa nossa vida. O charco do pensamento em que vivemos, a escória informacional e a carência na busca por atenção virtual só vale a pena ser enfrentada se for para encontrar aliados, senão pode ser um batalha de morte. Muitas vezes eles estão bastante distantes mas ao entrar em contato com seus mundos, encarnamos outros devires, outras possibilidades, somos levados obrigatoriamente a pensar.
Alguns anos atrás, muitos anos atrás na verdade, escrevi um texto onde eu tentava expressar a sensação que a internet imprimia em mim quando por noites e mais noites, descobria uma míriade de artistas. O soulseek, os blogs e sites gringos formavam o que chamei naquela altura de floresta virtual, e naquele momento eu me sentia verdadeiramente um mateiro que abria picadas pela mata, e traçava caminhos inéditos. Descobria muita coisa de literatura, música, cinema, quadrinhos e os caralho a quatro e tudo era de certa forma grátis, mas nunca foi de graça.
Passadas duas décadas, finquei junto a outros amigos/aliados o nosso quilombo: o Oganpazan, que é fruto dessa trajetória. E hoje, seguimos fazendo o mesmo: pesquisando, lendo, pensando e agora recebendo indicações de sons initerruptamente, conseguindo encontrar aliados que vem também habitar e trampar no nosso quilombo que se expande. É um movimento de expressar saúde, de conquistá-la, pesquisar e escrever sobre essa ruma de arte que tem nos assaltado é saudável. É uma dis-posição de estar aberto e seguindo críticos, de ser respeitoso com a arte de gente que luta a nossa mesma guerra de guerrilha, escrever num país de analfabetos, num período onde as imagens faceis e os raciocínios do duplipensar proliferam.
O rap nacional tem sido 95% do que tenho ouvido e escrito sobre e obviamente não temos dom pra ser bitolado, sendo assim temos muito orgulho de ter percorrido quase todos os estados do país ouvindo as produções locais. Desde as aparências de superfície até os fluxos criativos e subterrâneos de alguns guerreiros e guerreiras que não desistem de afrontar o ordinário, e que a seus modos cavam suas trincheiras nas quais acoplamos as nossas e seguimos expandindo e desterritorializando nosso quilombo. O underground nacional precisa de algum modo potencializar outros modos de distribuição e de consumo, porque de produção eles estão voando.
No final das contas o movimento que nos interessa é o de cavar imensos túneis subterrâneos como bons vietcongue, criar linhas de fuga por fora do front principal de guerra como a lendária trilha Ho Chi Minh. Essa imagem histórica nos serve para pensarmos como é possível criar um público que expanda os trabalhos, que formem condições de possibilidade para a circulação desses artistas. Selecionamos aqui alguns aliados nessa luta, e espero que vocês se dis-ponham a ouvir, ver, sentir, pensar, conversar, compartilhar…
Pois acreditamos que se você leu até aqui, já percebeu que estamos falando da vida de pessoas talentosas que querem apresentar sua arte e viver com dignidade a partir dela. Estamos no campo do audiovisual então saquem as visões, desses clipes que ilustram a matéria… percebam as trilhas do underground que nos servem pra um aquilombamento potente.
Uma proposta final, que tal se ao invés de nos Re-Conhecermos nós nos tornamos todos um devir, nos ramificarmos uns nos outros ou como diria o mestre Arnaldo Baptista nos reunirmos numa pessoa só, flow megazord? EHZ SAUDAVEUH!
O rap no Amapá cresce, você deveria se ligar… se gosta de artistas originais, Zion chegou num clipe com produção da já conhecida pela excelência OCORRE. Esse single que nos apresenta o trabalho do MC vem com um beat rapjazz com um sample maravilhoso do clássico Sentimental Mood, presente no beat produzido pelo Malaria… Classe A total onde o MC dixava idéias verídicas e um flow bacana. Saca o som.
Essas minas são pesadas demais separadas, e juntas então são um grupo que precisa ser conhecido, agradecemos a equipe de colunistas do oganpazan nas pessoas da Karinny de Magalhães e Gabriela Santos, que nos indicaram Fenda (Laura Sette, Iza Sabino , Paige, Mayí e Dj Kingdom). Assistam esse clipe muito bem dirigido e roteirizado num plano sequência por Carolina Barbi. Só MC de alto nível e o beat do Coyote Beatz que dispensa apresentações.
nabru começa o ano num nível muito alto, e se você acompanhou ela ano passado, esse ano vai ficar só de cabelo em pé. Esse ano muitos projetos estão sendo preparados pela MC mineira e esses projetos vão consolidar de vez o seu nome entre as maiores de sua geração.
Seu estilo singular, e sua sintaxe under and sweet receberam um excelente audiovisual com Summerlove. drigido por gerran e lucas maia, com excelente fotografia do mesmo lucas e roterizado pela dupla de diretores e mais o freitag. Uma artista grandiosa, um dos maiores valores do nosso underground, que além de diversas participações em projetos, parece que vai lançar seu primeiro disco. Pega a visão…
Artista oriundo da Baixada Fluminense no Rio, muito interessante e que traz uma nova cara para o rap (Lo-fi), ou pelo menos inicia e ou se coloca próximo a esse gênero com as parcerias que nos levaram até ele: Lessa Gustavo e JOCA. Tendo estudado Audiovisual, colaborando em curtas e projetos entrelaçados com sua arte, Duvô nos apresenta um videoclipe belíssimo. Direção de Gerran Damaceno e direção de arte do próprio Duvô, o clipe traz signos visuais muito interessantes que dialogam muito bem com a letra da canção. Ouçam também o EP Almoço de Domingo.
Falando de underground, não dá pra deixar o Aori de fora, ele que soltou XX/XX e aqui vai um tanto quanto no encontro do que tratamos lá em cima. Os critérios do mainstream são nebulosos, injustos, excludentes e não é a meritocracia o que define as estrelas. O Inumano Aori está cozinhando um disco e um clipe que tivemos a oportunidade de ouvir e que certamente atingirá os corações de quem curte rap. Com participação de Dj Tuna13, beat do Makalister , imagens de Washington Kelmer e edição e cor de Almanak de Outono e Polvo Roxo Records, o vídeo apresentado é o começo do ano desse veterano do under.
Fechando esse trecho da trilha, o gaucho de Porto Alegre Graça tem nos obrigado a mergulhos exaustivos em sua obra. Ele que soltou além de APNEIA, uma parceria com o manaura Victor Xamã no beat, um outro audiovisual: Fruto desse Tempo e um disco sobre o qual estamos preparando uma resenha. A delícia do acaso, nos trouxe a esse fechamento que nos parece bem significativo. Vocês escutaram o album desse mano? leram algo sobre? Para bom entendedor pingo é letra, pois é né, a corrida de ratos impede àqueles que querem se aprofundar com folêgo intacto em sua arte, produzindo outros caminhos, aos quais chamamos atenção ao longo desse artigo.
Sendo assim, escute APNEIA, pesquise os artistas aqui citados, leia os portais que realmente dão espaço para os artistas e não apenas para sua tchurminha, E fiquem atentos ao Oganpazan, pois em 2020 vamos expandir nossa cobertura do hip hop nacional.
-Uma trilha Ho Chi Minh para o Hip Hop nacional
Por Danilo Cruz
Edição e correção André Clemente de Farias