Oganpazan
Resenha, Shows

Uma Noite de Festa para Almas Livres

Uma noite de celebração para Almas Livres, cheia de alegria e real fortalecimento da cultura hip hop brindando os 2 anos do Afreeka.

Almas Livres

O que caracteriza uma marca? O que faz com que algo como um sinal se diferencie tanto de outros sinais? Na esfera pura do mercado, obviamente a qualidade dos produtos oferecidos, o pioneirismo e o marketing das propostas são sem dúvida alguma qualidades primordiais. Qualidades as quais a marca Afreeka carrega, mas certamente não param por aí. Existe um algo mais e talvez a própria grafia nos ensine: A-Free-Ka, liberdade embebida com a herança africana, curtida em anos de vivência com a cultura hip-hop e conhecedora de muitos dos aspectos que nos compõe enquanto filhos separados de nosso solo ancestral, descendentes da Diáspora. Um diferencial importantíssimo em se tratando de uma loja que se compõe e se diferencia abraçando diversas propostas no campo da cultura.

A Festa da Afreeka, realizada no último sábado dia 05/03 ajudou-nos a enegrecer um pouco mais as nossas ideias e compreender melhor essa gama de qualidades agregadas. Ideias e qualidades as quais nós do Oganpazan viemos desenvolvendo e percebendo no contanto e na observação desse empreendimento em seus múltiplos braços ao longo do último ano. E essa observação nos ensinou como é possível desenvolver um trabalho honesto e ao mesmo tempo ser capaz de engajar uma grande quantidade de pessoas no mesmo espirito.

Sensação reafirmada nesta celebração, misto de alegria, satisfação nos encontros, conhecimento musical, afirmação de vitórias conquistadas com muito trabalho e excelentes ideias. São dois anos de sucesso crescente da loja e dos seus outros braços, como a Afreeka Music por exemplo. Que mereciam exatamente o êxtase que percorreu a todos que se uniram em mais esse evento.

A grade reuniu grandes artistas da cena hip-hop, sim, pois foi além da música como já é tradição, e foi também composto pelos manos do InRitmo, que junto ao público meteu dança com a propriedade de quem domina o corpo em suas diversas possibilidades, dançando através de diversos estilos com a qualidade já reconhecida. As apresentações musicais foram outros shows a parte, ou melhor, foram outras partes que se fizeram num todo, muito bonito de se presenciar e fazer parte, pois difícil não perder a mera objetividade do espectador externo.

A abertura musical da noite ficou a cargo do maestro Dj Dinossauro que do alto de sua sabedoria adquirida em anos de atuação na cena, deixou a pista na temperatura adequada para o início das apresentações.

V310  assumiu a responsabilidade do mic, com toda sua bagagem militante e poética de anos de atuação nas cenas punk e hardcore, mas que agora prepara o lançamento de novo trabalho na chave do rap, sem perder toda sua veia punk-contestadora.

Foram cinco canções que contagiaram a todos com a qualidade incontestável e criou em nós a ansiedade para os próximos lançamentos que vem sendo anunciados (é bom ficar ligado). Junto a apresentação do V310, a performer Mirela apresentou uma espécie de Happening, enriquecendo ainda mais o show.

Capitaneado pelo Dj Jarrão (El Jarron) nos toca discos a apresentação de Alvaro Réu nos brindou com a força já conhecida do seu show da mixtape Vivendo de Música.

Hip-hop em toda sua essência e em diálogos muito interessantes, como na participação de Nanashara Vaz junto a Réu. Rap e R&B, na deliciosa Amor de Festa que deu a deixa para os amores que dali por diante pudessem desenrolar. Dois shows matadores e que devem se repetir sempre, pois o frisson causado pela potência das música esquentou ainda mais o ambiente.

A InRitmo entrou em cena após a apresentação de Réu e mandou um espetáculo de dança que tirou a poeira e impulsionava a todos os presentes a tentar fazer o mesmo, pois os movimentos pareciam tão naturalmente executados que a audiência, inclusive esse que vos escreve, também erroneamente sentiu a vontade de executar da mesma forma sua performance. Mas é sempre bom lembrar que não é coisa pra amadores, o InRitmo deixa esse aviso explicito.

DogaLove completou essa dupla apresentação no ritmo do trap, com seus raps embebidos de luta e progresso, algo que na minha humilde opinião casou perfeitamente com o clima da festa.

Para em seguida Dj Akani assumir as pick-ups e dar prosseguimento na vibe que então imperava já absoluta na noite, preparando a pista para o grande homenageado, trabalhador da noite, produto e produtor, dialeticamente resultado de si e dos seus atos: Mobbiu. 

Formando uma tríade junto a Victor Xamã e Suburbano e deixando claro com Essa Porra é Minha Vida, como os conceitos e as práticas andam juntas na frente do Afreeka e consequentemente na música produzida.

Mobbiu acompanhado do Dj Indio, em sua apresentação solo, nos deixava muito a vontade para pensarmos, se tomarmos essa música como exemplo, o quanto determinado estilo de vida e a profissionalização dele pode dar certo, sobretudo no dialogo entre o artista e o empreendedor. Uma apresentação forte e cheia de uma poesia underground, suja e consciente do seu papel no mundo, transformando através da subversão o mercado e a música e que logo mais ganhará uma mixtape.

A noite permanecia quente, mas ainda havia espaço pro Clube do Ragga – Fall Clássico e Fayakaiano – largando o original raggamusic made in Salvador e levando a galera à loucura. Muita dança e boas vibrações, corpos suados e sorrisos abrilhantando a noite que seguia num ritmo crescente sem dar sinais de cansaço. Riddims de primeira numa batida sensacional que não encontrava corpo que não permanecesse balançando.

Tivemos também a dupla irmã com Dj Akani e Makonnen Tafari, com o reforço de Biel Gomez presentes também e mostrando a parceria BTB (Back To Back) e Afreeka. Makonnen e Akani colocaram literalmente Fogo na Laje que só esquentava ao passar das apresentações e dos afetos que se tornavam mais intensos.

E quando demos conta o dia clareava, como em toda festa as heinekens ultra geladas do Taverna começavam a fazer as percepções se confundirem, mas ainda não havia espaço para saudades. Pois a pista ainda permanecia quente, primeiro com o Dj Santz mantendo a temperatura da pista com um set matador, artista mega conhecido em diversas cenas musicais da cidade. Depois foi a vez de Dj Nai Sena, que tinha mandado dança a noite inteira pilotava agora as pick-ups, com a maestria de quem não deixa a pista morrer para os sobreviventes dessa noite iluminada.

E aquele espaço pra saudades não teve tempo de acercar-nos o coração, afinal dia 07 de maio já tem a segunda edição da Festa do Afreeka anunciada. Ainda não sabemos maiores detalhes, porém uma coisa é certa, o espirito permanece forte. A marca segue um diferencial importante para a cena musical baiana, inclusive transcendendo a esfera do hip-hop.

Se eu fosse você ficaria ligado na página do facebook, no instagram, whatsapp, twitter, sinais de fumaça, telepatia e outras formas de comunicação para não perder a próxima. Pra quem foi, não é preciso dizer nada, as fotos de Fernando Gomes eternizaram momentos que ficaram pra sempre guardados e serão com certeza ao longo das próximas edições revividos.

Veja mais fotos da festa clicando aqui.

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