A noite do último sábado de novembro passei curtindo The Honkers e HAO juntos pela primeira vez.
Já havia assumido comigo mesmo, desde o final de setembro quando ouvi a banda pela primeira vez, o compromisso de ouvir os The Honkers ao vivo. Assisti alguns vídeos de apresentações ao vivo dos caras disponíveis no youtube, instantaneamente fui invadido por toda energia emanada pelo som e performance dos The Honkers em cima do palco. Naquele momento acrescentei à minha lista de 1001 coisas para fazer antes de morrer: assistir um show dos The Honkers in loco.
Nos últimos dois meses foram três oportunidades de riscar desta lista o item que acabara de ser acrescentado. A primeira delas foi em outubro, quando fizeram um show no Taverna, no Rio Vermelho, comemorando os 17 anos de estrada da banda. Não fui. A segunda veio no dia 13 de novembro quando tocaram no Festival do Sol edição Salvador. Também não fui. Daí veio a terceira no sábado 28 de novembro, esta não tinha como deixar de ir. O show seria na Praça Pedro Arcanjo, no Pelourinho (próximo à minha casa) seria de graça e além do show dos The Honkers haveria o show da HAO, banda que até então eu não conhecia. Era a chance de realizar um desejo e ao mesmo tempo conhecer uma banda nova!
A promessa de meu empregador de adiantar o pagamento do salário para a sexta feira aumentou ainda mais minhas expectativas quanto ao show. Eu funciono melhor em show quando posso beber além da conta. Contudo o banho de água fria veio no sábado pela manhã quando tirei meu extrato bancário. Nada de salário, restavam apenas alguns centavos em minha conta. Patrões, a escória que caminha sobre a Terra! Enchi uma garrafinha de água com cachaça, comecei a bebê-la em casa durante a concentração para o show. Sai e fui caminhando até o local, cada passo impulsionado por uma golada na pinga. Cheguei totalmente no clima para curtir o som!
No domingo pela manhã, enquanto era castigado pela ressaca, recebi de um companheiro de Oganpazan a pergunta de como haviam sido os shows. Com uma britadeira detonado seu cérebro fica difícil lembrar de qualquer coisa que tenha acontecido na noite anterior. Respondi que não lembrava de muita coisa, só que tinha sido animal! Recebi uma intimação vinda em forma da pergunta/exclamação: “Cadê seu profissionalismo rapá!?” Disse que não dava pra ser profissional curtindo shows de punk/hardcore/pscobilly/ska/grunge/stoner, ainda mais por eu ser extremamente limitado, só consigo fazer uma coisa por vez. Diante dessas condições, optei pela mais prazerosa, curtir os shows! Foi a única coisa que fiz na Pedro Arcanjo naquela noite de sábado.
Livre da ressaca, comecei a lembrar de como haviam sido os shows, algumas lembranças mais vivas, outras esmaecidas. Corri para frente do notebook e comecei a escrever. Eis o que foi a minha noite com The Honkers e HAO.
Os Honkers abririam a noite. Eufórico graças à cachaça mineira e ao gesto de tomá-la direto do gargalo, esperava o início de uma apresentação SÓ PARA OS LOUCOS. Pouco antes já era sabido em toda Bahia que o Vitória havia sido atropelado pelo Santa Cruz no Arruda. Em tom de provocação e também de comemoração, claro, o baixista com nome de asteroide, T612, subiu ao palco vestido com a camisa do Santinha. O gesto provocativo do baixista deixava claro o que viria quando os primeiros riffs fossem tocados!
A loucura teve início! Desprovido de qualquer profissionalismo me deixei levar apenas pelo som da banda sem me preocupar em anotar, sem papel e caneta fica difícil, as músicas que iam sendo tocadas. Felizmente a força do som dos The Honkers foi mais forte que o efeito do álcool, marcando forte em minha memória as sensações daquela experiência insana. Quando os caras começaram a tocar não houve intervalo para anunciar a próxima música, veio tudo num pacote só, a banda só parou quando o setlist do show havia sido vencido.
Vale constar que naquela noite o The Honkers estava desfalcado de seu baterista Tripa. Mas a bateria esteve em excelentes mãos. Rodrigo Gagliano, irmão do guitarrista Rogério, assumiu as baquetas dando ao The Honkers o ritmo que precisava. O show teve esse toque especial por contar com o Rodrigo, que antes deste show, se apresentara em um show completo do The Honkers nos idos de 2010 em Vitória da Conquista.
Diante do aviso que Sputter de que não haviam ensaiado para o show, ficou claro que Rodrigo também é um Honker. Sinceramente, se Sputter não tivesse comentado, jamais iria perceber estarem com outro baterista na formação, tamanho o entrosamento entre a banda. Até o show não tinha me dado conta de que na verdade Sputter é o vocalista que não toca guitarra do The Honkers. Isso porque Felipe Brust mostrou-se extremamente competente e expressivo ao cantar os trechos que lhe são destinados.
As fotos da Nina Guerra mostram como foi a agitação no palco! Sputter com seu vocal agressivo e performance elétrica interagiu com público e demais integrantes da banda durante todo o show. Dá pra ver pelo registro da Nina Guerra o vocalista jogado dramaticamente aos pés do guitarrista Rogério Gagliano enquanto a banda segue tocando freneticamente.
A cena estampada nesta foto diz muito sobre a relação da banda. Vemos Sputter agarrado aos pés do Rogério, dando a impressão de que está mordendo o coturno do cara, e não se vê nenhum traço de abalo do guitarrista com a situação. Rogério segue tocando, arrastando Sputter como se fosse um chiclete preso à sola do seu calçado. Percebe-se o clima descontraído entre os membros da banda, que antes de tudo compartilham o palco para curtirem bons momentos juntos. O palco para o The Honkers é como o parque de diversões para as crianças!
Sputter pareceu, dentre todos os presentes na Pedro Arcanjo, o mais contagiado pelo som do The Honkers. Tirou a calça preta que vestia no instante em que pisou no palco. Logo depois arrancou a camisa, para algumas músicas depois vesti-la novamente. O homi foi completamente tomado pelo som, que parecia ter lhe roubado qualquer traço de racionalidade. Vou mais longe, ele parecia não ter controle sobre si mesmo.
Na pista o público dançava e se debatia inflamado pela música que invadia seus ouvidos sem pedir licença. Cada gesto de Sputter era com uma injeção de adrenalina aplicada diretamente na veia de cada pessoa acompanhando o show. O ambiente estava completamente dominado pelos Honkers. Quando a última nota foi tocada, todos pareciam ter acabado de sair da influência de um poderoso feitiço. Olhando a reação das pessoa ao final do show, pareciam um monte de Vince Vega atordoados, virando-se para um lado e para outro sem saber ao certo o que havia acontecido.
Logo em seguida o The Honkers deu lugar à HAO. Não conhecia a banda, durante seu show pude perceber o quanto é horrível a ignorância. Na sexta a noite acessei o canal da banda no youtube para saber o que encontraria no Pelourinho. Imediatamente gostei e fiquei ansioso para vê-los em ação. A HAO faz um som diretamente influenciado pelo grunge e pelo stoner rock. Se estiver errado já vou logo dizendo, a culpa é da cachaça!
O show dos caras começou com um cover do Rage Against The Machine, Bulls On Parede. O arranjo feito pela HAO para esta música lhe revestiu com toda roupagem própria à sonoridade da banda. Inspirados, criaram uma atmosfera abstrata conferindo à música uma outra identidade. O vocalista Rodrigo Reis, neste primeiro momento deixou a voz de lado e se municiou com o saxofone. Aquela orquestração levou o público, em maior número naquele momento da noite, a viajar sob sua influência. Todos balançavam seus corpos levemente, como se estivessem numa viagem introspectiva, totalmente avessos ao que acontecia ao seu redor.
De repente aquele clima foi totalmente quebrado por riffs pesados e um vocal urrado, fazendo todos deixarem suas viagens pessoais e caírem numa outra “realidade”. Cabeças bangueavam alucinadamente, corpos se chocavam, enquanto a música ganhava cada vez mais força e intensidade. A HAO não deixou a pegada forte do início do show esmorecer em nenhum instante da apresentação. Os caras incendiaram o público, cujas chamas só se extinguiram muito tempo após o término do show. Estejam sempre alertas à este nome, eu já estou atento aos próximos passos da banda.
Não posso deixar de registrar aqui um fato surpreendente e muito foda que presenciei. Encontrei com Sputter durante o show da HAO. Enquanto conversávamos e curtíamos o som uma senhora chegou para cumprimentá-lo. A senhora vestia uma camiseta com uma estampa do The Honkers! A surpresa foi ainda maior quando flagrei Sputter perguntando à senhora onde ela havia conseguido aquela camisa! Pelo entusiamo da senhorinha curtindo o show da HAO após se despedir de Sputter, parece que tem anos na estrada do rock!
Bom, é isso aí. Depois de tudo isso fui andando pra casa, não sem antes para uma última rodada com os amigos, que por acaso encontrei no caminho pra casa. Os caras estavam no show e tinham saído antes de mim. Sentei ao lado deles pra terminar a noite. Tomamos umas cervejas e continuei minha caminhada até em casa revivendo em minha mente os grandes momentos daqueles shows.
The Honkers:
Rodrigo Sputter – Vocais
Felipe Brust – Guitarra
Roger Gagliano – Guitarra
Tripa 77 – Bateria
T612 – Baixo
Os The Honkers nas redes sociais: Facebook , Fotolog , Youtoube
HAO é:
Rodrigo Reis – Vocal
Pedro Canuto – Baixo
Pedro Leonelli – Guitarra
Igor Quadros – Bateria
HAO nas redes sociais: Facebook, Youtoube
Abaixo show dos The Honkers, intitulado INFERNO. Assista o vídeo e saiba o porque.
Em seguida o excelente EP da HAO, a Imoralidade das Rosas, compartilhado pela banda em seu perfil no youtoube.
https://www.youtube.com/watch?v=dWQoOLLnUi4
https://www.youtube.com/watch?v=cTw117cDkr0