A banca do Ugangue não vive e nem cria de forma sazonal, a caminhada dos caras é na busca de aliados e armas para o revide constante. Na disposição seja aqui ou no capão, os manos fortalecem o rap BA e BR.
O ano de 2015 foi de produção intensa e resistente para a produtora e gravadora de rap UGangue, foram muitos shows trazendo excelentes atrações de São Paulo como: DBS Gordão Chefe, Big & Jr RDG (Rapa da Godoy), Negredo e Mauricio DTS (Detentos do Rap). O volume 2 da mixtape Radio UGangue (que nós resenhamos aqui no site) foi lançado, insistindo e deixando claro que os hinos construídos no vol. 1 terão ainda muitos herdeiros. Porém um forte intercâmbio também aconteceu no sentido inverso, e os rappers baianos: Galf AC, Nova Era, Vandal e Kiko Mc foram alguns dos nomes que se apresentaram em festas e boates na grande São Paulo.
Mas não satisfeitos com mais este ano de trabalho intenso – desejo é produção – lançaram no último dia do ano de 2015 uma flecha que coroa todo o trabalho que vem sendo feito e une realmente os guetos. Capão & Suburbana & CBX & Boa Vista de São Caetano. A música Revide no parece se configurar como uma track fronteiriça em tempo e espaço, fechando e abrindo ao mesmo tempo os anos (2015-2016) e quem sabe pressagiando uma nova era. Onde os guetos estarão buscando o revide a todas as merdas que os fascistas nos impõem nesse país de forma mais unida e promovendo intercâmbios entre diferentes escolas regionais.
A ideia é quebrar as algemas, afinal quem não revida rasteja, mesmo que por vezes aparentemente possa parecer bem, aliás, o filosofo francês Etienne De La Boetie certa vez analisou bem os círculos do poder e demonstrou que quanto mais nós rastejamos mais adentramos o circulo. Uma vida toda trabalhada por uma servidão voluntária que visa estar à frente de outros para também possuir por menor que seja o gostinho do comando e do controle sobre o Outro. Um dilema para classe mérdia, servir aos poderes estabelecidos e subir, ou olhar pra baixo e assumir a revolução?
O bando do UGangue já escolheu um lado e é através dos seus gritos de liberdade e independência que revidam o sistema por uma vida não fascista – Revide – que os pretos problemas podem com sua música, brocar o muro branco do sistema e ao mesmo tempo botar fogo no barril que são os buracos negros. Limando os racistas e fugindo das armadilhas estrategicamente plantadas nas nossas periferias.
Como bem cantou-rimou Galf AC, no labirinto do sistema as rimas flanam e traçam o fio capaz de guiar outros manos mais atentos para a contra efetuação, rumo a uma saída ativa. Linha de fuga ideologicamente convertida das ruas para o conhecimento do sistema, alquimistas do horror em que vivemos cotidianamente. Poetas que transfiguram crueldade em arte, e combatem constantemente a alienação, e o moralismo com que a sociedade olha para os desviantes do sistema.
Não ser pisado e nem lamber bota de nada nem de ninguém, esmagar os boicotes, acreditar que o homem como hoje se encontra pode ser superado. Parece ser sempre a intenção das produções da gravadora UGangue, buscando unir e produzindo em alto nível. Uhhhhh, Mano Peter na contenção do outro lado do vidro sem imagem refletida, apenas diferença, devir Roscharch.
Uma característica que algumas produções da gravadora possuem e que essa música contém, é certa pegada temática, onde juntam-se cabeças caras para rimar suas repetições, variações sobre um mesmo tema. Em Revide, a missão é dada aos rappers baianos e paulistas: Galf AC, Kiko Mc, JR (RDG), Mauricio DTS, Nova Era (Moreno e Ravi), BIG (RDG) e Negredo que vão pouco a pouco, linha a linha propondo suas variações sobre as possibilidades de revide sem seguirem um mesmo padrão – o que assegura a singularidade de cada um. Mas ao mesmo tempo numa mesma intensidade que atravessa toda a música, e que por fim encontra o que podemos chamar de modo de produção UGangue.
De cá seguimos castelando o que vier dessa banca e recomendando fortemente a audição dessa track, segue abaixo o link e é pra lá que vai.