Dancê faz balançar e traz agradáveis surpresas tanto para fans de Tulipa Ruiz quanto para os que esperam cada vez mais da música brasileira atual.
Muitos acontecimentos marcaram o início de março de 2015. Contudo, apenas um ainda vive em minha memória, o twite da Tulipa Ruiz anunciando seu terceiro álbum. Na twitada o aviso de um disco “beeeeem hidratado e no pique!” Cumpriu a promessa. As músicas de Dancê fazem com que seu pique seja a vazão constante de swing, impelindo o corpo a se render e ser pôr a balançar. Você que se vire pra se hidratar depois!
A sonoridade remete em alguma medida, que não sei precisar qual, ao funk dos anos 70 e o pop dos 80. Sem deixar-se contaminar a ponto de mimetizar e terminar por ser mais um álbum revival. Antes de tudo Dancê é um álbum pra se divertir. Nada daquela chatice cabeçona, muitas vezes pretensiosa, de letras viajadas demais, com atmosfera loosermana que vez por outra é trazida de volta à cena. Em nenhum momento você é convidado para o chá das cinco ou para fazer pose de estátua de Rodin. Como diz o refrão de Elixir: “Zero Reflexão!” Essa ideia há muito consolidada no meio artístico de que boa é aquela obra de arte feita para eruditos, joga por terra todo propósito do fazer artístico. Na verdade qualquer obra de arte feita com tal intento já fracassa antes de acontecer. Tulipa Ruiz borrifa swing sobre todo perímetro cabeçudo espantando os adoradores da chamada música cabeça!
Dancê é suado, sensual, ardente, vivo, emanando liberdade como um reator emanando energia nuclear. Quer conceito e teoria procure um livro de filosofia pra ler. Dancê tem formas rítmicas, melódicas, harmônicas e são as formas sonoras que dão ao álbum sua densidade. Não tente entender, busque interagir com Dancê. A experiência proposta é esta.
Tulipa traz letras de versos curtos, bem ao gosto das músicas dançantes, mas sem cair no lugar comum de temáticas clichês do gênero. Exemplo claro é a letra de Proporcional onde a cantora brinca, de maneira criativa, com as diferenças físicas das pessoas. Sem falar da pegada dançante que os metais em seu diálogo com a cozinha imprimem à música. Tafetá conta com o tempero bossanovista de João Donato que em sua participação mais que especial contribui para a atmosfera cinquentista carioca. Em Expirou Tulipa ataca com arranjos com pé no tropicalismo. A guitarra de Lanny Gordin acentua essa sensação. A participação dessas duas lendas da nossa música mostra ser possível seu diálogo com a nova geração da música brasileira de forma horizontal. Nada de pagação de pau afetada!
O início da faixa Físico tem linhas de baixo dinâmicas, aos poucos delineando as formas da disco que vem marcar o balanço da música. Uma pitadinha eletrônica para o efeito modernoso e voilà! Cabeça pra cima e pra baixo alucinadamente, pernas em marcha sem sair do lugar. Cabeça de um lado pro outro e muito agito durante os quase quatro minutos de duração! O melhor pra valer é jogar o álbum no seu celular, botar um fone potente dar o play e sair andando pela rua. Dancê é pra ouvir em movimento. Se estiver parado vai começar a se agitar já na primeira música. Os grande álbuns também são feitos para divertir!
Nota:
FICHA TÉCNICA
Produzido por Gustavo Ruiz
Produção executiva Heloisa Aidar/Pommelo Produções
Gravado em 2015, por Rodrigo “Funai” Costa, no Red Bull
Stúdios SP. Exceto gravação de baixo, sintetizadores, guitarras
e programações da faixa 9 por Kassin no estúdio Marini RJ,
gravação de sintetizados faixa 2 e 5 por Gustavo Ruiz no estúdio
Brocal SP e gravação de cuatro da faixa 10 por Tulipa Ruiz no
Garage Band.
Assistente de estúdio Marcelo Guerreiro
Edição digital Éric Yoshino
Roadies Guilherme Diniz e Bill
Mixado por Victor Rice no Studio Copan SP
Masterizado por Fernando no Estúdio El Rocha SP
Projeto gráfico Tereza Bettinardi
Desenhos Tulipa Ruiz
Fotos Jonas Tucci
Produção gráfica Lilia Góes
Assessoria de imprensa Pedro Henrique França
Revisão Mario Garrone