O artista baiano Trevo Lock solta o segundo single em audiovisual com Salve Família, e já prepara o seu primeiro EP solo: Toda Vida (2021)
“Meter é sem meio termo, meter é muito talento, mete lento, mete lento”
Fazer arte vindo da periferia é sempre um desafio, se meter num campo de atuação que muitas vezes busca cercar talentos e impedi-los de se manifestar e de se expandir. Além das artimanhas do estado, que já busca ceifar vidas de jovens negros desde a mais tenra idade, a própria relação do artista com o binômio música e mercado é um obstáculo. Alcançar liberdade artística e não se limitar a um determinado gênero musical é a exceção que confirma a regra, porém na Bahia surge uma geração que não respeita nada disso, e dentro dessa nova safra Trevo Lock é um nome importante.
Uma das faixas da Demotape (2018), Pega Pá Capá exemplifica tudo isso que falamos acima com maestria, e pasme, gravada num freestyle. Foi com o seu antigo grupo: Underismo que conhecemos o trabalho do então rapper Trevo Lock, e rapidamente notamos o quanto o coletivo e o próprio, carregavam potencialidades diversas. Algo que vem se consolidando nos trabalhos solo dos participantes e ex-participantes , assim como nos trampos da atual formação.
O lançamento do disco solo Nada de Novo Sob o Sol (2018), é um acontecimento iniciático e um divisor de águas na carreira de Trevo, pois se mostrou a alguns a imensa qualidade de sua arte. Certamente, ajudou-lhe a ver que o mercado da música não entende quaisquer ideias imbecis de meritocracia. Naquele ano, nenhum dos grandes portais que premiam nomes do rap nacional ouviu, ou se ouvir fingiu não ver e dessa forma o disco se tornou um clássico recente e desconhecido do grande público do rap. Preto e periférico Trevo abriu uma lanchonete a Laricas Trevor, um tempo depois anunciou nas redes sociais em meio a problemas psicológicos e lutando com a depressão que iria largar a música.
Foi nas mesas e cadeiras do Laricas Trevor que Trevo negou a oportunidade de se tornar um Gustavo Friggs, e começou a groovar com os parceiros que colavam na lanchonete. Ali, o pagodão que rodeia a todos nós moradores de periferia em Salvador, se abriu como um campo possível de experimentação de sua arte, e junto aos amigos, Trevo Lock entendeu que precisava lubrificar seu talento e meter marcha naquilo que nasceu pra fazer: Música & Trabalho, o pique era MT: kelascoisa!
Com a dificuldade inerente a todo artista periférico, Trevo cozinhou o EP “Toda Vida” (2021), um trabalho que está lindo e que será lançado em breve. Nessa correria, chegou a hora do segundo clipe, um “Salve Família”, é o último single antes do disco! Trabalho todo forjado nas altas temperaturas do ferro quente do pagotrap, tem nessa faixa o single perfeito para representar o segundo single. Sinônimo de hit, “Salve Família” ganhou um audiovisual ensolarado diretamente do subúrbio de Salcity e inclusive com a participação da OG da cena Sista Katia.
“prosperidade pra nós, salve de ponta a ponta as maloca do gueto e da ilha”
A faixa que traz a produça groovadeira discarada do LIPHS encontra a câmera, o roteiro e a direção da Maria Mariana, que conseguiu construir um clima familiar típico do que rola na praia da Boa Viagem em Salcity. Iury Cairon que participou do primeiro clipe no feat de MT, colou também com as ceras e faz participação no clipe. Trevo passou bronzeador e tá gostosinho igual o Queijinho no calvão com orégano e melaço de cana. É uma música e um audiovisual com a autenticidade de quem consegue transmutar suas origens e vivências numa forma de arte potente e porque não sublime, principalmente nesses tempos tão assombrosos.
Agora é aquilo né familía, pega esse salve do Trevo e mete dança!
-Trevo manda um “Salve Família”, rumo ao EP “Toda Vida”
Por Danilo Cruz
