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Fundadores do Stoner Rock, 5 discos clássicos

keep-stoned-and-listen-to-stoner-rock-2Como definir um subgênero musical que se construiu numa gênese de outros seis ou sete subgêneros do rock – pelo menos no seu começo – com pitadas e medidas diferentes caso a caso? Psicodelic + Hard + Acid  + Space + Metal + Punk + Hardcore = Stoner Rock. Parece óbvio? Misturado demais?  

É como se Dewey Finn do filme Escola do Rock tivesse realmente talento artístico e gravasse um disco ao invés de aceitar o emprego de professor. Durante esse filme, vemos o professor traçar organogramas explicando os desdobramentos originais do rock, os cruzamentos e influências de um gênero para o outro. Dando dicas para cada aluno sobre os maiores em cada instrumento. O stoner é o campo onde Dewey Finn se torna um artista, capaz de emular e criar de fato. Pois não é o conhecimento das eras e dos clichês do rock que capacitam alguém a produzir um disco de qualidade. Afinal, como Dewey nos ensina: “Quem não sabe fazer, ensina, quem não sabe ensinar, ensina educação física”.

O problema deste subgênero, o frescor trazido por essas bandas que se convencionou chamar de Stoner Rock – referência as Generator Parties, festas no deserto de Palm, na Califórnia no fim dos anos 80, regadas a muito álcool e drogas – é que elas não podem facilmente ser enquadradas apenas como meras somas de subgêneros do rock, pois a depender da banda, os acentos e as porções nesta conta mudam. Pode entrar uma subtração aqui, numa divisão ali, um fracionamento acolá. Verdadeira arte matemática. Toda apropriação da tradição que se preze, propõe modificações que farão com que o objeto de partida se modifique. Parte-se da repetição para alcançar a diferença e neste caso aqui tratado, há extrações singulares, seja nos subgêneros, seja nas misturas propostas, seja nos timbres utilizados e mesmo no visual estético.

O que definirá os resultados destas alianças é justamente a potência de diferenciação que cada banda consegue imprimir em seu trabalho. Procedimento criativo que vale para qualquer arte, pois só se pensa com a tradição. A cena stoner rock é justamente isso: encontrar os aliados certos e povoar o deserto, cavalgar as fraturas que compõem a cartografia nômade do rock’roll. Não há casos de mera filiação (tal banda é a cara do Led Zeppelin, tal outra é um filhote do Blue Cheer, aquela outra é uma irmã mais nova do Sabbath) não, o que existe são alianças, traições que visam através da repetição buscar diferenciar-se e consequentemente fazer parte do movimento e dos mapas que a geografia do rock foi capaz de construir, levando-o consequentemente a traçar outras linhas de fuga, outros caminhos e paragens, dando-lhe outra vida, outras percepções, criando o futuro.

Sendo assim, aqui vai um top cinco dos discos fundadores, considerando os mais importantes dentro do Stoner então emergente, e que foram responsáveis pela popularização do subgênero mundo a fora.


1 – Kyuss – Blues For The Red Sun [1992]

Esse disco reúne dois dos melhores artistas surgidos da cena Stoner. O guitarrista Josh Homme é sem dúvida alguma, o mais talentoso e influente músico desta geração, junto ao vocalista John Garcia, cantor de amplos recursos. Junte-se a isso, os baixistas Nick Olivieri e o baterista Brant Bjork e neste segundo álbum temos o Kyuss assinando o atestado definitivo de nascimento do Stoner Rock, com a excelente produção de Chris Goss.

Os caras conseguiram moldar uma estética própria, suja, pesada, em andamentos monoliticamente construídos junto a um groove escondido atrás de camadas maciças de poeira, em grandes clássicos como Green Machine, Thumb, Thong Song. Esta última um blues torto, onde John Garcia canta bem alto nos nossos ouvidos: “I hate slow song”.

No estúdio Josh ligou a sua guitarra no amplificador de baixo, e afinou em tons baixos tanto a sua guitarra quanto o contrabaixo de Nick Olivieri, o que nos faz sentir intensamente o do peso dos instrumentos.


2- Monster Magnet – Spine Of God [1992] 

Uma viagem rumo ao cosmos, Pill Shove lhe apresentará a pílula que promoverá o impulso necessário, a intensa partida, deste maravilhoso artefato do Space Metal Rock, atualizado e modificado. Outras peças deixadas são aqui rearranjadas para uma viagem diferencial por dimensões até então não exploradas.

A nave emperra por vezes nas bordas de buracos negros (Nod Scene), para em seguida retomar a força e encontrar os espaços-tempo irresistíveis. Um mergulho no zodíaco. A quase perda da individualidade (Black Mastermind).  Rockão interestelar, uma viagem de ácido? A viagem aqui é outra.

O Metal das galáxias, as substâncias formadoras do universo. Dave Wyndorf e sua trupe seguram a onda e lhes mostrará a Espinha de Deus!


3- Fu Manchu – No One Rides For Free [1994] 

Velocidade, mudanças inesperadas de direção, quebras de ritmo. Esse é o terceiro pilar do Stoner. Sonoridade plena de distorção e peso. O tema obsessão desta banda são os carrõess antigos, girando ao longo dos seus discos como um motor envenenado. Autoestrada psicótica, um thriller veloz de sexo, drogas e rock’roll.  

Genial e sedutor, pra quem curte um som acelerado, com aquela pegada Psicohard, essa é a pedida. A formação original do Fu Manchu é lendária: Scott Hill (guitarra e vocais), Eddie Glass (guitarra), Mark Abshire (baixo) e Rubem Romano (bateria), esses últimos três sairiam depois para formar outro sustentáculo inicial do movimento, o Nebula.

O disco conta ainda com a produção de Brant Bjork.

https://www.youtube.com/watch?v=xJeCdOzr8CI


4 – Nebula – To The Center [1999]

O Nebula é uma das bandas que ilustra bem dois fenômenos recorrentes nesta cena. Em primeiro lugar é uma banda formada a partir do desmembramento de outra (Fu Manchu) e como Gremlins, se reproduzem e nos presenteiam com excelentes discos. Segundo que a banda consegue agrupar em um mesmo álbum, aquela heterogeneidade de subgêneros e sonoridades citada, e ao mesmo tempo possuir um som único e singular.

O formato de power trio do grupo, demonstra versatilidade capaz de incursionar pelo peso do hard (Come Down),  num clima viajandão (Freedom), blusear em homenagem aos Stooges (I Need Somebody) e cair num folk místico indiano, com direito a cítara (Fields Psilocybin), sem deixar a peteca cair.

A tônica geral do disco são porradas com um acento mais ácido. Novamente, estamos falando de excelentes músicos, Mark Abshire é um guitarrista e vocalista que se destaca, com um punch excelente nos riffs e solos certeiros, alternando com a construção de climas transcendentes. Ruben Romano conduz as baterias com um groove impressionante e Eddie Glass segura a onda com bastante habilidade. Enfim, uma banda imprescindível para quem quer conhecer os pioneiros Stoner.


5 – Queens Of The Stone Age – Rated R [2000] 

A segunda banda do craque Josh Homme inaugura a modernidade do movimento. Em Rated R (segundo álbum da banda), aqueles elementos retirados dos subgêneros formadores do estilo são depurados e a aproximação com o rock alternativo dá a tônica do disco. Mas a depuração aqui novamente consagra o gênio inventivo ao invés da diluição.

O som do Queens é sujo, violento e pesado, balançado em alguns momentos ( In the Fade). Nada de pseudos cults indies posando de cool. As composições das Rainhas não se orientam mais apenas em um riff. O que em sua fase artística anterior conferia qualidade e peso às composições de Homme. Porém o tresloucado baixista da primeira formação do Kyuss, Nick Olivieri está presente e o espirito rebelde de suas composições não deixam de forma alguma a intensidade diminuir. 

Feel Good Hit Of The Summer abre o disco com uma porrada direta: “Nicotine, Valium, Vicodin, Marijuana, Ecstasy and Alcoohol, Co-co-co-co-co-cocaine”. Fazendo-nos rememorar o verão que nos faz sentir bem e deixando claro suas intenções nada inocentes. A banda conta com o baterista e o vocalista da Screaming Trees (maravilhosa banda grunge) Barrett Martin e Mark Lanegan, respectivamente, além dos back vocals de ninguém menos que Rob Halford (Judas Priest).  O disco vale cada minuto de sua atenção e além de sua qualidade intrínseca ajuda-nos a perceber as infinitas possibilidades que o stoner rock exploraria da aurora do século 21 em diante. Obrigatório.


Passada essa fase inicial (que aqui optamos por delimitar entre 1992 e 2000, ou seja, antes do começo oficial do século XXI), hoje o stoner rock conquistou definitivamente o mundo. Centenas de bandas compõem essa cena, e ao que parece só se fortalece e expande. Países como a Suécia, para ficarmos apenas num exemplo, possuem uma cena stoner muito forte. Mas explodem bandas por todos os lados: Argentina, Brasil, Portugal, Canadá. O que demonstra uma vitalidade que em nada cheira a mofo e que inclusive amplia o leque de influencias, retrabalhando o rock’n roll por dentro. Tendo incorporado subgêneros do metal como o doom, trazendo toda essa reapropriação do passado, acreditamos que o Stoner é um subgênero fundamental hoje, que inclusive resiste a apropriação e diluição da música pelo mercado.

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