Se você gosta de alguma abertura em específico que não foi contemplada pelo presente Top 5, por favor compartilhe conosco nos comentários. Pretendo mais adiante fazer outras listas como essa e continuar esse trabalho maravilhoso de garimpar grandes canções que aparecem em aberturas de séries.
Sem mais delongas, vamos logo pra o nosso Top 5 – Aberturas de Séries e Canções parte 1!
1 – Vikings
Essa série surpreendentemente bem produzida pelo History Channel (canal sem muita tradição em produções dessa magnitude) conta a trajetória de Ragnar Lothbrok de simples fazendeiro até se tornar um dos maiores conquistadores vikings que se tem notícia.
Como era de se esperar, a acuidade histórica é um dos grandes trunfos da série, ainda que ela tome algumas liberdades à favor da narrativa. Apesar do seu orçamento modesto, Vikings consegue ser extremamente convincente e cativante, principalmente por conta de roteiros hábeis, atuações inspiradas e de um design de produção que acerta pela sobriedade e bom gosto.
A abertura da série é um espetáculo à parte. Em menos de 1 minuto ela resume muito bem a atmosfera de Vikings, totalmente mergulhada na mitologia nórdica. Parte do impacto dessa abertura deve ser creditado sem dúvida alguma à canção If I Had a Heart da musicista sueca Fever Ray.
Lançada em 2008 em Fever Ray (disco que inaugurou a carreira solo da artista), If I Had a Heart aposta no experimentalismo para instituir um clima sombrio e opressivo que parece entrever o movimento ameaçador de forças ocultas que estão além do conhecimento humano.
O clipe original da música é particularmente assustador. Assista:
Vida longa a Ragnar Lothbrok!
2 – True Detective
Ok, a segunda temporada de True Detective foi uma decepção gigantesca! Mas se teve algo que se salvou nesse desastre todo foi a abertura. A primeira temporada (que foi primorosa) já tinha uma abertura muito boa, trazendo o bluegrass Far From Any Road executado pelo The Handsome Family, dando um clima meio caipira/freak que casava demais com a história de Rust Cohle e seu parceiro perseguindo um serial killer.
Como a série foi planejada para ser uma antologia (com cada temporada contando uma história diferente) era de se esperar que a segunda temporada trouxesse uma abertura diferente. E pelo menos nisso eles acertaram em cheio! A música escolhida foi Nevermind de Leonard Cohen e a voz grave do veterano músico e poeta combina perfeitamente com o clima sombrio e desesperançoso proposto pela série.
Nevermind pertence ao último disco de Cohen que levou o nome de Popular Problems (2014). Porém, antes disso a letra da música já havia sido publicada como poesia no livro Leonard Cohen Files de 2005 com o título Never Mind – diferença sutil, mas que faz toda a diferença no significado do título.
Na canção ouvimos Leonard Cohen refletir sobre o sentido da vida (ou melhor, a sua suposta falta de sentido) criando uma atmosfera densa que busca dialogar com o niilismo contemporâneo e com as guerras em curso no Oriente Médio. Na versão original da música a participação da cantora Donna DeLory deixa essa relação bem evidente.
Realmente uma pena que a temporada não tenha correspondido à beleza de sua abertura. Confira:
Aqui a música completa:
3 – The Leftovers
The Leftovers é uma das minhas séries favoritas atualmente. Na história, uma porcentagem significativa da humanidade desaparece no mesmo dia sem deixar vestígios. Aqueles que escaparam têm que viver num mundo totalmente transformado por conta desse evento.
Pelo enredo pode parecer que a série é mais uma daquelas que vieram na esteira de Lost, em que um mistério é apresentado e o espectador é enrolado durante incontáveis episódios esperando a resolução da trama. Porém, até o momento a preocupação da série está mais voltada para o que aconteceria com as pessoas numa situação como essa, do que propriamente com a resolução do mistério.
Sempre achei que se Lost tivesse optado por um caminho semelhante o resultado final poderia ter sido muito mais satisfatório. Mistérios são assim, eles perdem toda a graça depois de revelados e essa é uma armadilha com a qual muitos filmes e séries precisam que lidar.
A abertura da segunda temporada de The Leftovers (aliás, uma das mais bonitas que já vi) parece nos dar uma pista de que esse realmente foi o caminho que as cabeças criativas da produção decidiram seguir. A música que toca na abertura tem o sugestivo título de Let The Mystery Be e a letra fala justamente sobre como nos relacionamos com o mistério da vida.
A responsável pela canção (que pertence ao disco Infamous Angel de 1992) é a cantora e compositora americana Iris DeMent. Let The Mystery Be é um belíssimo folk que já foi regravado por bandas como 1.000 Maniacs e serviu como tema de abertura do filme O Pequeno Buda (1993) de Bernardo Bertolucci.
Veja abaixo a abertura da segunda temporada de The Leftovers:
Veja também Iris DeMent tocando a música:
4 – House M.D.
Confesso que fiquei em dúvida se colocaria a abertura de House M.D. nesse Top 5. O motivo da minha hesitação é que House tem uma daquelas aberturas que a primeira vista pode parecer bastante genérica. São apenas 30 segundos de imagens de livros de medicina mescladas à cenas da série, com uma música que para ouvidos desavisados pode parecer somente uma vinheta.
No entanto, resolvi incluir a abertura desse grande sucesso da Fox porque, depois de 8 temporadas, terminei criando uma relação emotiva com ela. Mas acima de tudo porque a tal vinheta trata-se na verdade de um trecho da música Teardrop da banda britânica Massive Attack.
Teardrop pertence ao terceiro disco do Massive Attack, Mezzanine de 1998. Se por aqui a música é uma ilustre desconhecida, na Inglaterra ela foi um hit no ano em que foi lançada. A batida que ouvimos em Teardrop simula as batidas de um coração, o que funciona muito bem dentro do universo daquela que talvez seja a mais emblemática série hospitalar da história da televisão.
Veja abaixo a quase sumária abertura de House:
E o fantástico clipe de Teardrop:
5 – The Affair
Nosso número cinco é o único caso dessa lista de uma música composta especialmente para a série. The Affair do canal americano Showtime já está na segunda temporada e vem sendo bem recebido por público e crítica. A história mostra um pai de família que vai passar as férias numa pequena cidade litorânea e termina se envolvendo amorosamente com uma mulher casada que parece esconder alguns segredos.
A grande sacada de The Affair é contar a história revesando os pontos de vista dos personagens. Em um episódio vemos os acontecimentos da perspectiva de um deles, no outro os mesmos eventos são mostrados pelos olhos de outra pessoa. Esse jogo vai criando um suspense que fisga o espectador. Passamos a duvidar da veracidade do que está sendo mostrado, enquanto esperamos as outras versões do fato.
Inspirada pela trama da série, Fiona Apple compôs a canção Container para servir de tema na abertura. Com pouco mais de um minuto de duração, ela resume poeticamente a essência de The Affair ao narrar a história de uma mulher que comete suicídio se jogando de um precipício. Seu último grito provoca uma avalanche que termina tirando a vida de um homem que passava pelo local.
A força de Container (quase toda cantada acapella por Apple) é tão grande que, segundo uma das produtoras, sua mensagem terminou influenciando o próprio roteiro da série.
Ouça que coisa linda: