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Destaque, Resenha

The Jesus and Mary Chain – Damage and Joy – 2017

Enfim a espera terminou! Após 19 anos  TheJesus and Mary Chain lança um novo álbum de estúdio!

Quase duas décadas se passaram desde o lançamento de Munki em 1998, último álbum de estúdio da The Jesus and Mary Chain. Haviam dado uma pista, consciente ou inconscientemente, sobre o desinteresse em prosseguir trilhando o caminho do rock´n roll. Talvez não pelo rock, mas pelos compromissos que estão atrelados a uma carreira apoiada na indústria fonográfica, que naquele momento ainda dominava as almas dos músicos.

Logo no título da última faixa de Munki fica evidente a saturação da vida rocker: I Hate Rock´n Roll. Todos os versos, sem exceção, colocam sob os holofotes a concepção da banda, seu sentimento, a respeito do que representava, após 15 anos de atividade, ser uma banda de rock. E não se trata de uma perspectiva positiva.

Na segunda e terceira estrofes são desferidos golpes diretos e mortais, que tocam diretamente na crítica da banda à toda conjuntura nutrida pelo show business:

I love the BBC/ I love it when they’re pissin’ on me/ And I love MTV/ I love it when they’re shittin’ on me”

“I hate rock’n’ roll/ And all these people with nothing to show/ I hate rock’n’ roll/ I hate it cause its fucks whith my soul”

Versos de conteúdo cáustico despejados sobre tudo aquilo responsável pelo que tinham se tornado “I hate it (rock’n’ roll) cause its fucks whith my soul”, podemos até encarar como sendo o diagnóstico feito da banda sobre o que eram. Conscientes de si, rejeitaram a nova identidade, atacando as causas que resultaram naquilo. Especulações à parte, fato é que meses depois do lançamento de Munki a banda encerrou suas atividades.

Em 2007 Jim Reid e William Reid (vocalista e guitarrista respectivamente) voltaram a se reunir e a The Jesus and Mary Chain ergueu-se novamente. Contudo o retorno ocorreu para uma turnê batizada de Reunion Tour. A experiencia agradou e as apresentações continuaram ao longo dos anos.

Parecia que os irmãos Reid tiveram que engolir seu ódio pelo rock e show business afim de ganhar a vida fazendo shows, valendo-se do status que sua banda adquiriu durante os anos 80 e0 90. Veio a surpresa: anunciaram em novembro de 2016 que estavam gravando um novo álbum, cujo lançamento aconteceria no início de 2017. Dois singles foram lançados antes para atiçar a expectativa dos fans: Amputation lançado em 09 de dezembro de 2016 e Always Sad lançado em fevereiro de 2017.

Ouvindo o álbum conclui-se terem sido dominados mais uma vez pelo desejo criativo. Damage and Joy mostra não se tratar de projeto caça níquel, estamos diante do resultado do trabalho de mentes guiadas pela necessidade de fazer algo novo, de trazer ao mundo algo que deseja nascer.

Foram seduzidos novamente pelo rock. Cegos de paixão, movidos pela febre que esse sentimento provoca, suspenderam a razão, apagaram os registros das péssimas experiencias do passado e compuseram um dos melhores álbuns de 2017 até aqui.

Sempre presente nas entrevistas dos irmãos Reid, o desabafo sobre as discrepâncias da vida de rock star, que permite satisfazer desejos e ao mesmo tempo impõe uma rotina entediantes com o passar do tempo, Amputation explora essa dualidade.  Associado a isso está a transitoriedade dos momentos bom. O desejo logo que é satisfeito retorna a nos assombrar para buscar uma nova satisfação. Estes versos exploram essa perspectiva: “It´s just like a grape in a bottle/ It’s wine today but piss tomorrow”.

Estar amputado pode tanto ser uma metáfora sobre a condição de se sentir incompleto por não estar compondo novas músicas quanto sentir-se mutilado pela indústria do show businnes: “I´m a rock and roll amputation”.

War on Peace se espalha na atmosfera propagando-se como uma densa neblina, envolvendo os ouvidos, conduzindo o ouvinte para uma ruptura deflagrada pela batida constante do bombo e caixa. O ritmo acelerado impõe nova dinâmica totalmente imprevisível dado o estágio inicial da música.

Youth, responsável pela produção do álbum, busca essas alternâncias sonoras nas faixas promovendo certa ligação com a obra prima da banda, seu álbum de estreia Psychocandy (1985).  

Quando menos esperamos o passado se tornou uma imensa coleção de lembranças de bons momentos vividos. Damos conta da transitoriedade de nossa existência, algumas vezes nos perdemos nessas lembranças e acabamos presos ao desejo de reviver situações marcantes. All Things Pass convida-nos a experimentar essas sensações díspares, que de certa forma nos colocam em situação bastante desconfortável.

Em linhas gerais, trata-se de um álbum que rompe definitivamente com a aura de inocência presente nos trabalhos anteriores da banda, em particular os álbuns dos anos 80. São senhores, chegando aos 60, olhando para o passado não com nostalgia, velhos agarrados ao passado, onde tudo era melhor. Direcionam seus olhares ao passado afim de recordarem quem eram e assim enfatizar o que são. 

Menos densidade sonora, menos irritação noiser, vem a tona os efeitos barulhentos de mentes cujo poder criativo molda formas desfeitas por uma agressividade centrada, que conhece os atalhos e evita os percalços acidentados. O rock pode amadurecer e preservar seu frescor e vigor. Pode ser reflexivo afim de encontra uma síntese que condense sua essência. The Jesus And Mary Chain amadureceram e com eles a sua sonoridade. Damage and Joy faz cair por terra o complexo de Peter Pan do rock e mostra que é possível ser velho sem ser retrogrado ou decadente. 

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