The End Tour foi a última turnê do Black Sabbath ao redor do mundo, os veteranos passaram pelo Rio em dezembro. Oganpazan lhe conta como foi!
Por Raquel Oliveira
No último dia 02 de dezembro, a Praça da Apoteose, no Rio de Janeiro, recebeu a The End, anunciada como a última turnê mundial do Black Sabbath, tendo como convidada a banda norte-americana Rival Sons. Seria a terceira e penúltima apresentação da tour no Brasil. Os portões foram abertos às 16 horas, iniciando uma longa espera, embalada pelo som do AC/DC, até o show de abertura. Nada contra a banda australiana, mas uma playlist mais variada ajudaria a administrar melhor a ansiedade e a expectativa, pois o show de abertura estava marcado somente para as 21 horas.
Com a Praça da Apoteose já lotada, o Rival Sons subiu ao palco trazendo uma sonoridade bastante calcada no hard rock setentista, remetendo a bandas como Led Zeppelin e o Nazareth dos primeiros álbuns. O público se mostrou bastante receptivo aos estadunidenses, vibrando e cantando todas as músicas. Algumas pessoas presentes comentaram que o vocalista Jay Buchanan lembrava muito o jovem Ozzy Osbourne. A propósito, eu achei o guitarrista Scott Holiday parecido com o mago das seis cordas do Black Sabbath, Tony Iommi. Semelhanças físicas à parte, o Rival Sons, também formado pelo baterista Mike Milley e pelo baixista David Beste, apresentou sete músicas: “Electric Man”, “Secret”, “Pressure The Time”, “Open My Eyes” (e seu refrão marcante), “Fade Out”, “Torture” e “Keep On Swinging”.
Após o Rival Sons, todos os olhares foram atraídos pela lindíssima abertura, no telão, do show do Black Sabbath. Eu nunca vira uma introdução tão suntuosa, com um belíssimo Lúcifer nascendo, cuspindo fogo para todos os lados e levando os presentes ao delírio, sendo encerrada pelo já emblemático logo em chamas da banda. Todo o impacto da abertura foi emendado com os sinos da música “Black Sabbath” e a entrada dos ingleses no palco.
Contando atualmente com Ozzy Osbourne (vocal), Tony Iommi (guitarra) e Geezer Butler (baixo), faltou apenas o quarto membro original da banda de Birmingham, o baterista Bill Ward. Polêmicas e contendas à parte, seria mágico poder prestigiá-lo junto com os outros integrantes da formação clássica, sobretudo porque essa vem sendo promovida como a última turnê do Black Sabbath. Porém, isso não chegou a comprometer o espetáculo. A bateria foi muito bem executada por Tommy Clufetos e o teclado, por Adam Wakeman.
O setlist pareceu curto, mesmo contendo treze faixas, devido à imensa quantidade de clássicos que o Black Sabbath compôs na sua chamada “fase Ozzy”. As ausências mais sentidas foram das músicas dos discos Sabbath Bloody Sabbath (1973), Sabotage (1975) e Never Say Die! (1978), além de “Hand of Doom”, canção que inicialmente era tocada nos shows, mas que acabou sendo retirada do set da turnê. Nem mesmo os apelos do público, pedindo por essa faixa, fizeram os ingleses mudarem de ideia. Também ficaram faltando músicas de 13 (2013), o álbum mais recente da banda. Entretanto, mesmo não sendo tão longo quanto gostaríamos, o setlist foi recheado por algumas das canções mais antológicas do Sabbath, como “Fairies Wear Boots”, “War Pigs”, “Rat Salad” (com um demorado solo do baterista Tommy Clufetos), “Iron Man” e “Paranoid”, do disco Paranoid (1970); “After Forever”, “Into the Void” e “Children of the Grave”, do álbum Master of Reality (1971), “Snowblind”, do Vol. 4 (1972), a já citada “Black Sabbath”, “Behind the Wall of Sleep” e “N.I.B.”, do disco de estreia Black Sabbath (1970), e “Dirty Women”, do álbum Technical Ecstasy (1976).
É preciso destacar que a tour foi muito bem produzida: saltava aos olhos a beleza da já mencionada abertura, das camisas da turnê e até dos copos de cerveja que foram vendidos. Esses últimos itens certamente já viraram relíquia para os fãs. Contudo, alguns comentaram sobre a falta de presença de palco dos ingleses, especialmente de Ozzy, que falou pouco com o público e não se movimentou muito. De fato, o vocalista não tem mais o vigor físico que apresentava há décadas. Por outro lado, na minha opinião, essas críticas são detalhes insignificantes perto do espetáculo que tivemos a oportunidade de presenciar. Mesmo sem andar de um lado para o outro no palco, como fazia outrora, Ozzy continua carismático como poucos. Cada gesto seu fazia a plateia desabar. Além disso, há que se considerar que, mesmo com a idade avançada, os integrantes do Black Sabbath encararam uma turnê mundial, com shows em vários continentes e, ainda assim, nos ofereceram uma apresentação totalmente digna e cheia de canções definidoras de subestilos do rock/metal, além de terem marcado a vida de milhões de roqueiros mundo afora, como esta que vos fala.
Já tive a oportunidade de assistir a alguns shows de bandas famosas, mas devo admitir que essa apresentação foi ainda mais especial. É uma sensação que certamente compartilho com todos os que presenciaram esse momento. Há bandas maravilhosas em atividade, só que o Black Sabbath é algo fora de série. Para além do fato de Ozzy, Iommi e Geezer serem conhecidos como os pais do heavy metal, esse show teve o sabor da consumação de um amor há muito tempo cultivado. Para mim, que conheci a banda aos doze anos, através de uma fita K7 do Master of Reality, foi impossível conter a emoção ao ver ao vivo aqueles que me fizeram apaixonar pelo rock (junto com o Led Zeppelin). Por isso, cada clássico executado, cada vez que Tony Iommi acenou para o público, solicitando que participássemos da música cantando ou solfejando em coro, cada vez que Ozzy bradou o seu famoso “I love you aaaaall!”, todas essas cenas encantaram quem teve o privilégio de vivê-las. Hoje, nos lembramos delas com aquela conhecida “depressão pós-show”, nostalgia, saudade ou como queiram chamar, sobretudo porque essa será a última turnê da banda. Mas seus integrantes continuarão gravando discos e fazendo apresentações, e o legado do Black Sabbath permanecerá na história da música, deslumbrando antigos e novos fãs.