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Discos, Resenha

The End, requiem para o Black Sabbath!

sabbath the endO Fim está cada vez mais próximo, o lançamento de The End, último álbum de carreira do Black Sabbath é o soar simultâneo das sete trombetas!

Meses atrás, ao anunciar o fim definitivo do Black Sabbath, Ozzy agitou o mundo do rock. Houve quem considerasse tratar-se de mais uma jogada de marketing afim de promover a banda. Já naquele anúncio o vocalista do Sabbath avisava que junto à última turnê da banda estava previsto o lançamento de seu último álbum de estúdio.

Embora não tenha confirmado o lançamento do álbum na época, a simples menção da possibilidade de seu lançamento fez crescer a níveis estratosféricos a expectativa do Início do Fim, nome com o qual foi batizada a última turnê do Black Sabbath.

Quando Ozzy, Toni Iommi, Geezer Butle e Tommi Cufletos (tentando ser um substituto à altura de Bill Ward) subiram ao palco do Century Link Center, na cidade estadunidense de Omaha, no estado do Nebraska, no dia 20 de janeiro de 2016,  deram início à turnê mais esperada dos últimos 40 anos. A data e local também passam a ter importância, pois se trata da data de lançamento do último álbum de estúdio da banda, cujo nome, assim como o da turnê é The End.

O álbum físico só pode se adquirido nos shows da turnê, ao que parece vai demorar para chegar às lojas. Na verdade, não se trata de um álbum em seu sentido pleno. Não fossem acrescentadas à sua track list as 4 músicas executadas ao vivo ao longo do ano de 2013, durante a turnê do álbum 13 (2013) – God Is Dead, End Of Beginning, Age of Reason (todas do 13) e Under The Sun, do Vol.4 – e poderíamos considerá-lo um EP. Outro fator pesa contra The End, as 4 músicas inéditas foram gravadas para fazerem parte do álbum anterior. Elas não entraram para a track list e a banda decidiu aproveitá-las em The End para não deixar passar em branco o seu canto do cisne. 

Assim, as 4 faixas inéditas de The End são facilmente relacionadas com a sonoridade apresentada em 13. Por serem músicas pensadas para compôr aquele disco e fazer parte da unidade apresentada pelo conjunto desta obra, é inevitável pensar os álbuns vinculados um ao outro. Talvez possamos ir mais longe e levantar uma questão ainda mais complexa: The End seria realmente um álbum? A coisa é tão séria que não dá pra considerar The End uma continuação de 13. Somos tentados a considerar se tratar do mesmo álbum. Sente-se um incômodo ao fazer isso, pois a interação das músicas inéditas de The End são naturalmente associadas à estrutura sonora de 13

Não sei se outras pessoas tiveram essa impressão, mas a meu ver essa retomada do Black Sabbath com Ozzy nos vocais a partir do disco de 2013, remete-me à tendência revival muito em voga entre as bandas de rock durante um determinado período. Muitas bandas começaram a fazer um som extremamente inspirado na estética sonora das grandes bandas de rock dos anos 70. O Black Sabbath ao longo de 45 anos passou por muitas transformações em termos sonoros, o que é muito bom. Seguiu as mudanças do heavy metal ao longo de todas essas décadas. Eles foram responsáveis por criar a matéria prima necessária à criação e consequente desenvolvimento do heavy metal. O interessante no caso particular do Black Sabbath consiste no fato de terem sido, eles mesmos, influenciados pelas novas vertentes de heavy metal criadas por aquelas bandas que eles haviam influenciado. 

Com 13 e agora com The End, o Black Sabbath é influenciado pelo próprio Black Sabbath. Paradoxal? Explico. O Black Sabbath da segunda década dos anos 2000 busca no Black Sabbath dos anos 70, aquele dos Ozzy years, a influência necessária para uma retomada daquela sonoridade que foi o auge da banda. O mais interessante é não haver uma mimetização por parte do Sabbath atual daquele dos anos 70. Tal qual as bandas que surfaram a onda revival, o Sabbath do presente tem uma identidade própria, se difere da sonoridade do passado, embora se aproprie de elementos daquele período.

Season of Dead é a primeira faixa do álbum. Logo na primeira nota tocada, que revelará o riff de introdução da música, sente-se a presença marcante do Black Sabbath. A paleta de Toni Iommi corre por toda corda da guitarra, anunciando a presença da banda, criando o efeito dramático, para então começar um riff naquela cadência arrastada característica, que ganha intensidade através da levada aplicada pela bateria e pela linha de baixo. Pausa e outro riff se inicia, agora com Toni Iommi sozinho. Os outros instrumentos se apresentam e fazem o convite para Ozzy entrar na brincadeira. A voz do frontman assume lugar na música, apresentando a melodia revestida por seu timbre vocal característico, dando a pitada de morbidez que faltava à Season of Dead. Geezer Butler fez questão de acentuar os graves do baixo, dando destaque à presença do instrumento por toda música. Essa combinação tão presente na primeira década de vida do Black Sabbath é mais uma vez utilizada com propriedade pelos três membros originais da banda. 

Em Cry All Night, temos o que em termos de Black Sabbath poderíamos considerar ser uma balada. Andamento cadenciado com trocas de riffs constante por parte de Toni Iommi, dando à música uma movimentação interessante, gerando a sensação de agitação interna. Aliás, essa característica dos riffs de Iommi, mesmo em músicas mais cadenciadas, dão a impressão de uma atividade frenética, por vezes de revelar tendências obsessivas. 

Quem não se lembra das vinhetinhas tão usadas nos álbuns dos anos 70, que serviam de interlúdio entre uma música e outra. Bom, não há vinhetas em The End, mas há algo que nos remete a elas. Em Take Me Home, terceira faixa, o som de um violão aparece em meio ao caos distorcivo iluminando o clima sombrio. Ele aparece no meio da música. Guitarra, baixo e bateria vão para segundo plano e o improviso de Toni Iommi ao violão se destaca. Esse é pra mim o ápice do álbum devido a disposição entre agressividade de um lado e graciosidade de outro. Muito interessante o efeito gerado dessa interposição. Geezer Butler em todas as 4 faixas não tem o menor pudor em regular os graves do seu baixo o mais intensamente possível. Nesta música em particular, baixo e guitarra vão lado a lado produzindo os riffs do começo ao fim. A parede sonora gerada dessa parceria dão volume à música que ressoa agressivamente a cada segundo.

Isolated Man fecha a sequência de músicas inéditas. A presença marcante de riffs executados com 3 ou mais acordes destoa um pouco daquela tese lançada em determinada parte do texto, quando defendemos a ideia de retomada estética do Black Sabbath dos anos 70. Isolated Man pode ser relacionada à fase final dos Ozzy years. Momento em que o Black Sabbath caminhava para uma nova proposta sonora, que só se completaria com a saída de Ozzy e a chegada de Dio no Heaven and Hell

The End pode ser apenas um suvenir lançado ao sabor do momento. Sem dúvida, comparado a todos os outros álbuns do Black Sabbath, inclusive os ruins, fica devendo. Porém, são quatro músicas novas do Sabbath que chegam até nós, que vivemos durante pelo menos duas décadas ansiando por um retorno de Ozzy aos vocais da banda e sempre na expectativa de músicas inéditas serem compostas e disponibilizadas. Vivemos esses tempos, vamos comemorá-los, pois estão prestes a terminar de vez.

Nota de protesto:

Quero registrar minha profunda insatisfação, indignação e fúria pela ausência de Bill Ward tanto na gravação de 13 quanto na turnê que finaliza a atividade de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos.

Das grandes bandas dos anos 70 ainda em atividade, provavelmente o Black Sabbath é a única que tem todos os seus membros originais vivos. Por mais que Bill Ward tenha dificultado sua inclusão neste projeto, Ozzy, Toni Iommi e Geezer Butler deveriam ter reconsiderado, talvez até cedido às exigências de Bill Ward, por mais extravagantes que possam ser, para que de fato tivéssemos a derradeira turnê da banda. The End Tour carregará para sempre essa mancha, por ter deixado de fora um dos Quatro Originais. 

Não bastasse a ausência de Bill Ward na The End Tour, o site oficial do Black Sabbath também colocou o baterista pra escanteio da forma mais desrespeitosa. O pano de fundo do site é formado por fotos antigas da banda, referentes aos anos 70, ou seja, quando Bill Ward era parte integrante da banda, Pamem, o baterista original é cortado em todas as fotos daquela época presentes no site. Cliquem aqui e vejam com seus próprios olhos.

Se a presença de fotos da banda com Bill Ward em qualquer material promocional ou produto vinculado ao Black Sabbath acarretasse problemas legais pra banda, que ao menos, o site oficial fosse estilizado com fotos de 2013 pra cá. Por isso coloco como imagem destacada dessa matéria uma foto dos anos 70 com a presença de todos os membros originais da banda.

Nota: 

O próximo vídeo traz o terceiro show da The End Tour realizado no dia 25 de janeiro na cidade de Mineneapolis. 

https://www.youtube.com/watch?v=-fDvwMFY17E

Ficha Técnica:

Lançamento: 20/01/2016

Gravação: 08/2012 – 01/2013

Estúdios: Shangri La Studios (Malibu, California) e Tone Hall (Lapworth, Warwickshire, Inglaterra)

Gêneros: Heavy Metal, Blues Rock, Doom Metal

Formato: CD

Gravadoras: Vertigo e Universal

Produção: Rick Rubin

Abaixo War Pigs sendo executada no show em Omaha – NE, local onde se iniciou a The End Tour. O show aconteceu no dia 21 de janeiro.

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