The Chi é uma série dramática estadunidense que retrata as dores e alegrias sofridas pela população negra no cotidiano de Chicago!!!
Acabou no último sábado 18/03 a primeira temporada da série exibida pelo canal Showtime, The Chi (2018), série da criadora Lena Waithe que tem como cenário as ruas da zona sul de Chicago. Contando com a estrela mirim Alex R. Hibbert (Moonlight), a série se desenvolve após o assassinato de uma jovem estrela do basquete da região. A partir dessa tragédia, vários personagens passam aos poucos a se interligar numa trama onde a redenção passa a ser a meta de muitos deles.
Centrado em construir a trama através do cotidiano, ao invés do contrário, do muito que se tem produzido sobre comunidades negras estadunidense nos últimos anos em séries de TV, The Chi se aproxima bastante do modo como Treme (2010) era construído. Se em Treme era o furacão Katrina o motor para descobrir a força dos personagens para reconstruir sua vida e a cidade, é através de outro acontecimento trágico, que vamos aos poucos descobrindo os personagens e seu entorno. Assim como na série de criação do grande mestre David Simon (The Wire – A Escuta), aqui Lena Waithe nos surpreende, os personagens nos são apresentados devagarinho e somente através de sua ligação com o crime fundador da trama, alçando-os aos poucos às posições mais centrais.
No entanto, ao contrário do que pareceria a série se preocupa mais em nos revelar como cada um dos personagens se relacionam com essa violência fundadora do que propriamente em nos mostrar um bairro violento. Vingança, luto, solidariedade, a busca por superação e igualdade, são talvez os verdadeiros personagens presentes ao longo dos episódios.
Sem perder a especificidade do contexto e dos habitantes locais, no final das contas o que The Chi e sua criadora parece querer nos fazer entender é de que modo essas pessoas reagem. Através de quais procedimentos e de que forma elas conseguem sobreviver ou viver, dentro de um sistema que lhes reserva sempre a margem social e as empurra para uma guerra interna, em sua própria comunidade.
O que poderia nos levar, e de fato nos leva a refletir, abstraindo o local e as condições particulares ali presentes, sobre a situação de mulheres e homens negros em toda a Diáspora. De modo condensado, a educação dos pequenos, a tentativa de superar uma realidade com poucas perspectivas, a necessidade de arriscar saltos profissionais maiores, são algumas das questões levantadas pela série.
Relações familiares fragilizadas ou que mantem o rigor necessário para fazer com que o enfrentamento dessa situação seja efetivo. Uma educação pública com mais qualidade e que oportunize outras possibilidades de expressão para nossas crianças. Relações comunitárias mais próximas e auto sustentáveis, são algumas possibilidades, outras tantas respostas que a série vai aos poucos ensaiando.
Com os homens em primeiro plano até metade desta primeira temporada de The Chi, as atuações são um show a parte, tendo os atores: Alex R. Hibbert, Jason Mitchell, Ntare Guma Mbaho Mwine e Jacob Latimore como o quarteto principal. Porém da metade da série em diante, é possível perceber um progressivo crescimento na importância dramática das personagens mulheres. Como é o caso das maravilhosas: Yolanda Ross, Sonja Sohn, Tai’isha Davis e Tiffany Boone. Dada a violência inicial e a reação dos homens, é como se as mulheres chegassem depois, assumindo as dores, apoiando ou evitando as decisões.
Não por algum tipo de preconceito ou ideia preconcebida do papel delas em suas famílias e comunidade, mas ao tomar a violência como elemento fundador do eixo dramático, nos pareceu que sua criadora Lena Waithe optou por mostrar as respostas impulsivas dos homens, colocando as mulheres num primeiro momento como pano de fundo. Para na sequência do desenrolar dos acontecimentos, deixar evidente o seus papeis de suporte, seja para as decisões erradas, seja para os acertos. Um recorte entre outros possíveis.
A velocidade hoje tão em voga, é aqui reduzida ao sabor dos acontecimentos, das decisões, das vacilações diante de um desafio, enfim, abre-se mão do espetáculo de cortes rápidos e a câmera se detêm hora nas pessoas, outras na paisagem ao redor. Um ritmo natural e agradavél que pode parecer estranho para quem está mais acostumado aos cortes rápidos e às tramas que se desenrolam muito rápido.
Um dos furos deixados nessa primeira temporada de The Chi é a emergência de um gangster oldschool que não possui nenhum traço verossimilhante, mais parecendo um personagem da Blaxploitation, transportado para um contexto contemporâneo e realista. Sua chegada na trama, só ao final desvendada, parece querer dar-nos uma lição de moral que poderia ter sido evitada.
Agora se tem uma coisa que não vai lhe decepcionar de modo algum, essa coisa é a maravilhosa trilha sonora, que traz apenas o fino do fino da música norte americana contemporânea. Rap, Blues, Trap, R&B, são os estilos escolhidos. Nesse site você pode encontrar todas as músicas de cada episódio em diversos links. Inserido-se em passagens de The Chi de modo certeiro e já no piloto da série a escolha de nomes como NONAME, R.L. Boyce, Dj Shadow lhe dá a certeza de estar ouvindo a música adequada para cada cena.
Saca só essa playlist e corre atrás da série que vale muito a pena!
– The Chi uma série tocante que retrata o cotidiano do gueto
Por Danilo Cruz
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