The Baggios lança Juliana EP (2018), com três músicas aqui trabalhadas dentro de uma perspectiva que mistura afeto e politica e muito rock!!
Já faz algum tempo que o The Baggios deixou de ser uma surpresa saída da pequena São Cristóvão no interior de Sergipe. Com indicações ao Grammy e turnês pelo México, E.U.A e Canadá, os caras vem com muita honestidade e um trabalho forte e singular emplacando seu rock’n roll pelo mundo.
Dois anos depois do excelente terceiro disco Brutown (2016), que firmou de vez os caras no cenário nacional com sucesso de público e critica, o disco recebeu diversas menções para prêmios importantes no Brasil. Mas, foi durante a turnê americana do disco que a banda foi surpreendida pela indicação ao Grammy Latino, uma conquista bastante importante para um banda independente, porém, não foi o suficiente para arrefecer o ânimo dos caras, muito pelo contrário.
O Ep apresenta 3 faixas que ficaram fora do Brutown e que foram gravadas no estúdio Toca do Bandido no Rio de Janeiro. Contando também, em duas dessas três faixas com os auxílios luxuosos das backing vocals de Lara Celi e Winnie Souza nas faixas “Era” e “Juliana”.
As três faixas apresentam aquela execução já característica do The Baggios, misturando a tradição rockeira de inspiração setentista com a absorção de aspectos da música nordestina e da MPB de modo geral. Sem arrivismo algum, os caras tocam em duas das canções, pelo menos, em questões que hoje nos são caras, a saber, o contexto político do nosso país.
Um rock com acentos de origem indiana, como que para nos oferecer uma introdução quase de mantra, “Era” versa sobre a nossa atual crise de percepção valorativa, nas diversas esferas existenciais. A música vai numa espécie de lamento diante da cegueira que nos tem tomado a todos, sobre os destinos da nossa nação. A crescente crise ética e política que exalta a brutalidade e a banalidade do mal, como coisas normais, um tempo para “exorcizar”, realmente.
A dançante e cheia de quebradinhas “Juliana”, demonstra-nos o quanto Perninha tem alcançado uma execução que consegue aliar a leveza e o swingue, sem esquecer a força. Ao mesmo tempo, o “Julico” que desde a época do single O Azar me Consome (2010) já nos impressionava pela capacidade de riffar, solar e cantar com uma naturalidade de um velho bluesman do Mississipi, aqui recebe o complemento do Rafael nas teclas durante os intervalos entre riffs.
A canção traz uma ode sobre a saudade, com a excelência acima mencionada, é de fazer qualquer amor voltar correndo, quer dizer, a depender do vacilo, e aí nesse caso, só nos restará ao nosso bluesman uivar a lua, em homenagem a Nãna.
E fechando o disquinho, “Nó” começa já numa rifferama pesada com excelente trabalho das teclas do Rafael Ramos, é um elixir para seguir na luta cotidiana contra o caos que se instala numa velocidade absurda. É incrível que uma música como essa tenha ficado fora do excelente Brutown, é somente mais uma prova inconteste de que os caras tem muita lenha pra queimar. Triste, por outro lado, é notar como uma música composta ali em torno de 2016 está mais atual ainda hoje.
Há um pedido ou uma conclamação para que não percamos a bravura de lutar por dias melhores, mas que se estabeleçam diálogos, que a escuta compreensiva seja a base para desfazer esse nó que nos atravanca a vida.
O The Baggios lança agora esse EPzinho delicioso, mas já podemos esperar o novo disco que foi aprovado pelo edital da Natura Cultural. E pelo andar dessa caroça supersônica, vem mais muitos petardos por aí, escutem essa belezura.
Julico o guitarrista e vocalista do The Baggios gerou um link para download para você ouvir desconectado da rede e conectando-se apenas ao som, baixe aqui.
