Teyana Taylor apresenta uma atuação muito forte no papel de uma mãe lutando contra tudo e todos em uma NY em processo de gentrificação!
“Uma negra e uma criança nos braços, solitária na floresta de concreto e aço” Racionais MC’s
Lançado em março deste ano nos cinemas americanos, A Thousand and One (2023) marca a estreia muito bem sucedida de uma jovem diretora. Primeiro longa-metragem da diretora e roteirista A.V. Rockwell, o filme fez sucesso e levou o grande prêmio do júri na mostra competitiva no festival de Sundance em Janeiro, na sua estreia mundial. Neste primeiro longa, podemos sentir a força de uma artista que apresenta um visão autoral e crítica que atravessa duas décadas de uma Nova Iorque em franco processo de gentrificação.
O filme é estrelado pela cantora e atriz Teyana Taylor que protagoniza o longa no papel de Inez, uma jovem mãe recém saída da prisão e que enfrenta a necessidade de amadurecer enquanto luta para ficar com o seu filho. O drama chama atenção pelo ritmo e pelos cenários, através do contexto de transformação que a cidade de Nova Iorque irá atravessar durante os mandatos dos prefeitos Rudolph Giuliani e Michael Bloomberg.
Em um arco temporal que vai de 1994 até 2005, sem perder o folêgo, desenvolvendo com muita profundidade os personagens e aos mesmo tempo inserido inserts radiofônicos das medidas políticas repressoras das comunidades negras durante esse período. E este é um dos aspectos mais bem construídos do filme, a forma quase naturalista com que A.V. Rockwell apresenta os problemas dos personagens em ligação com o Brooklyn, com o Harlem, com a cidade de Nova York. Ao ponto de nos levar a percepção destes mesmos problemas em escala Atlântica!
Inez (Teyana Taylor) e o seu pequeno Terry (Aaron Kingsley Adentola) irão na primeira metade do filme literalmente se bater, entre si e a cidade. Lutando para ficarem juntos e ao mesmo tempo encontrar um lugar para ficar. Sem didatismos e clichês fáceis, o roteiro e a condução de A.V. Rockwell nos apresenta pouco a pouco os personagens, nos colocando inicialmente um pouco como na própria condição dos dois personagens centrais, que estão se conhecendo também de certo modo.
O longa, que conta com a produção executiva da grande Lena Waithe, uma das artistas mais interessantes a surgir nos últimos anos na indústria cinematográfica e audiovisual norte-americana, traz também a trilha sonora original do Gary Gunn. Já fazia um bom tempo que não ouvíamos uma música original tão marcante quanto o tema composto por Gary Gunn. Renomado e premiado compositor afro-americano, o artista possui larga experiência em trilhas para cinema e tv, além de arte interativa e multimídia.
Discutindo diversas questões muito localizadas na existência dos personagens e no triângulo familiar que vai se formar entre Inez, Terry e Lucky (William Catlett), a diretora e roteirista consegue traçar um perfil sobre as afetividades negras no contexto das grandes cidades. Ao retratar a repressão policial, a ausência de assistência social e de serviços públicos mínimos e o processo de gentrificação de bairros periféricos que pode se enquadrar de modo geral na experiência da diáspora.
A fotografia de Eric Yue é um espetáculo ao retratar as mudanças de mãe e filho do Brooklyn ao Harlem para onde fogem Inez e Terry. Há uma leve mudança nas cores mais abrasivas do começo do filme em um Brooklyn onde Inez está se batendo para conseguir emprego e o seu filho, para um tom mais suave na segunda parte onde a mesma já se estabeleceu no Harlem, onde nasceu e vai tentar criar o seu filho.
A trilha sonora composta por Gary Gunn baseada em uma sonoridade soul orquestral, nos oferece uma experiência sonora que não quer retratar o tempo das ações mas antes o desenvolvimento dos personagens. A marcação do baixo característica do tema central de A Thousand And One, nos transmite a sensação de urgência na qual os personagens estão inseridos, ao mesmo tempo, que nos leva a pensar na calma necessária para que eles possam se entender e resolver as questões que lhes surgem.
Com uma atuação muito elogiada pela crítica, Teyana Taylor imprime uma força gigantesca para um papel que certamente marcou a história recente do cinema negro norte americano. A artista consegue nos ofertar bastante credibilidade da jovem recém liberta da penitenciária Riker’s que imediatamente busca saber sobre seu filho, para uma mulher que vai segurar uma barra muito forte, tentando aglutinar uma familía e proteger o seu filho. Seguindo de certo modo o caminho de outras cantoras/atrizes, a exemplo da grande Diana Ross, Teyana se destaca com uma naturalidade que nos remete a trabalhos de atrizes maduras. Assim como a direção e o roteiro da estreante A.V. Rockwell, que produz um filme muito fora da curva, já alcançou reconhecimento e prêmios da crítica pela sua enorme qualidade e visão singular.
-Teyana Taylor em atuação impressionante no filme A Thousand and One!
Por Danilo Cruz
Veja o Trailer abaixo: