Suiky é uma das novas vozes do Rap Baiano, cria da região do Calafate na Fazenda Grande do Retiro, já tem excelentes trabalhos na pista!
Ainda assim, a renovação segue nos mesmos moldes dos seus pioneiros locais, muito trampo e talento. Suiky é um jovem negro que oriundo da localidade do Calafate, se criou nas batalhas de rima, pisando e se destacando por exemplo no solo sagrado da cultura hip-hop que é a pracinha do São Caetano. Em pouco tempo seu nome passou a ser comentado na cena local, seu carisma pessoal é contagiante, mas o artista não é apenas um rostinho bonito. Já em 2020 com Out Of Rich, seu disco de estreia, é possível perceber a força de seu trabalho.
O álbum com 9 faixas mostra a estreia de um jovem preparado, detentor das técnicas de flow exigidas pelo trap, o MC busca já neste trabalho se diferenciar dos traps genéricos que muitas vezes podemos ouvir no cenário. Faixas como “Django”, “Drip Hard” e sobretudo “Salcity Chicago” atualizam a estética do trap às suas vivências e aos problemas e visão de mundo dos jovens baianos. Mesclando flows diferenciados e com um uso muito consciente do autotune, Suiky consegue um resultado bastante interessante apresentando seus desejos e problemas com melodias e cadências cativantes.
Após diversos singles, 2022 viu Suiky apresentar o EP Salcity My Block, e seguir apresentando um trabalho que o tem levado a ser reconhecido pelos nomes mais velhos da cena. Seja Baco Exu do Blues, seja Ravi Lobo com quem o artista participou do EP Shakespeare do Gueto lançado também no ano passado. O jovem segue trampando pesado e trocamos uma ideia com ele para saber mais um pouco sobre suas origens e sobre suas visões de mundo, assim como sobre seus novos trampos para 2023. Confira nossa troca de ideia abaixo:
Oganpazan – Quem foram as suas principais referências para começar a rimar? Quais artistas te inspiram no começo?
Suiky – Quando guri meu pai consumia muito cd com variações de artistas como Eminem, Chris brown, Busta Rhymes, Mariah carey, 50 Cent, Ja Rule e Ashanti. Mas, de todos os que mais me inspiraram foram 50 Cent e Chris Brown, no processo de criação e interesse no meio musical.
Oganpazan – Você é cria das batalhas de rima né? Como se deu essa passagem das batalhas para a composição?
Suiky – Sim, desde os meus 14 anos eu frequentava as batalhas e logo na primeira que fui eu batalhei e sai de lá campeão. Com uma grande frequência batalhando junto a minha facilidade de criação e por consumir muito rap brasileiro, surgiu o interesse de compor junto a meu amigo Lecno que na época era minha dupla tanto em apoio moral como inspiração. E para além disso, as minhas primeiras idas ao estúdio me fizeram aflorar essa vontade também. Me identificando com as batidas eu me encontrei no Trap e vi ali uma nova maneira de me expressar fora das batalhas de rima.
Oganpazan – Como você acha que suas letras funcionam na vida de outros jovens que te escutam???
Suiky – Quando eu escrevo o meu mundo nas minhas batidas eu falo muito sobre mim. E falando sobre as minhas vivências muitos me dizem que estão vivendo o mesmo, então, existe em cada gueto um jovem negro que nem eu, com os mesmos desejos, sonhos e ambições citados em minhas letras. Acho que tudo isso trás uma segurança nesses jovens de saberem que não estão sozinhos e que há outras saídas. Fazendo com que os motivem a acreditar que é possível chegar onde desejamos, pois é justamente isso que falo na minha música. E seguindo outra perspectiva de músicas minhas que transmitem mais a realidade como “Salcity Chicago”, “Nas Ruas” e entre outras que falam justamente como acontece o dia a dia na margem da sociedade. Com isso, a junção de todas essas questões acaba me tornando um “espelho” repleto de esperança para esses jovens.
Oganpazan – Você utiliza muito bem as melodias nas suas músicas, quem mais te inspira nesse quesito?
Suiky – Todas as minhas melodias são criadas e sentidas por mim, cada beat e sonoridade. Mas não posso negar que tenho alguns artistas que admiro e também me inspiram. Eu sou um grande admirador de Don Toliver, acho fantástico o que ele faz através da sua música. E de artistas próximos tenho meu irmão da 999 , Dactes e meu irmão Finnsant que faz parte desde o início de tudo e ambos me inspiram muito com o que fazem com suas músicas.
Oganpazan – Suiky, você se vê como parte da cultura hip-hop? De que modo você acredita contribuir para esta cultura?
Suiky – Eu vivo o hip-hop, pois tudo que ponho na minha arte vem de vivências minhas. Estando inserido até na forma que me visto, falo e penso. Contribuo não só com minhas músicas, mas com o estúdio que tenho em casa que faz parte da formação de outros artistas que adentraram nesse meio através de mim, que contribuí auxiliando no processo de construção e gravação de suas músicas.
Oganpazan – Qual a sua principal inspiração para escrever? E em quais momentos você escreve?
Suiky – Tudo depende do que eu sinto, nos momentos que estou com os sentimentos mais aflorados é de onde saem mais músicas. Independente se seja ódio, raiva ou amor eu tiro tudo de dentro e jogo no “papel”, assim dando vida a minha arte.
Oganpazan – Se daqui a 5 anos, você não se tornar um artista famoso, você continuará fazendo música? O que você mais pretende alcançar com a sua arte?
Suiky – Não vejo essa possibilidade de não acontecer, sei que isso tá traçado para mim e vou alcançá-lo. Mas em uma situação hipotética eu continuaria sim, pois a música é a única coisa que realmente amo fazer e não me vejo sem ela. No momento eu só desejo o reconhecimento e que minha arte seja ouvida e expandida por ser boa e passar a minha verdade. E que todos os guetos saibam quem sou eu.
Oganpazan – Quais os próximos passos, o que você está pensando/preparando pro ano que vem?
Suiky – Só peço que tenham um pouco de paciência, pois meu EP já está batendo na porta juntamente com clipes e participações mega especiais. Garanto a vocês que vale a pena o esperar, pois o que esta vindo foi criado e trabalhado com muita dedicação e carinho, porque em cada track há um verdadeiro sentimento.
-Suiky, um cria do Calafate na renovação do Trap Baiano – Entrevista!
Por Danilo Cruz