Sly & The Family Stone – Live At The Fillmore East: October 4th & 5th, 1968

Quando a piração do Funk atingir níveis sísmicos e causar um terremoto em sua mente. Quando o grove sai do plano astral e adentra o celestial, filtrando apenas o puro néctar do ONE como aliterações ácidas e passagens instrumentais supersônicas. É meu rapaz, caso tudo isso esteja acontecendo…
Caso EXATAMENTE tudo isso esteja acontecendo (e ao mesmo tempo), é que podemos dizer que o Sly Stone começou a bater. A hora que o coletivo entrava na psicodelia para canalizar tudo na mesma veia, com arranjos Jazzísticos e desafiadores dos padrões do tempo, aí sim meu chapa, agora estamos na frente de um dos maiores atos de todos os tempos.

Um grupo de músicos fantástico e que liderado por um dos maiores Black Power’s de todos os tempos, elevou o status de apenas um Sly para toda uma family Stone. Na época que o som estava no primeiro plano do downbeat, foi nesse momento que a música dos caras esteve no auge, depois as drogas entraram na jogada e a sequela dos envolvidos dura até hoje.
No groove, com todos os nomes em campo, o conjunto da obra do Sly And The Family era de uma malícia suprema. O começo marca uma banda que produzia riffs deliciosos, mas que quando saiu do trilho, descarrilhou o swing: Sly Stone puxou o bonde para os vícios frenéticos e, apesar de bons discos até 1974, todos sabiam (até a banda) que quem dava as cortas era o próximo baque.
Sly, Freddie, Rose, Graham… Era só a nata e no começo a jam nunca qualhava, algo que para ser realmente explanado e sentido de maneira não platônica, finalmente pode ser decodificado em sentimentos. Compre, roube, pegue do vizinho, mas arrume um jeito de colocar ”Live At The Fillmore East” no som rapaz, essa união de melodias de neon atingiu graus insólitos de potência numa passagem de duas noites pelo Fillmore, concretizando um lançamento que sintetiza tudo que esses caras foram.
Bill Graham tinha o fino do LS… Perdão, o fino da música, nesta meca criativa da Bay Area. Não é por sorte que todas as grandes bandas da época arrebentavam quando subiam ao palco do senhor Grajonca. O ar da Hippie São Francisco oxigenava demais o cérebro, as performances eram absurdas e esse pack quádruplo surge para mostrar não só a força do Fillmore, mas sim todo o frenesi que o Sly And The Family Stone proporcionava no auge do loop Funkeado. 1968 baby!

Track List CD1:
”Are You Ready”
”Color Me True”
”Won’t Be Long”
”We Love All (Freedom)”
”Medley: Turn Me Loose/I Can’t Turn You Loose”
”Chicken”
”Love City”

Track List CD2:
”M’Lady”
”Don’t Burn Baby”
”Color Me True”
”Won’t Be Long”
”St. James Infirmary”
”Medley: Turn Me Loose/I Can’t Turn You Loose”
”Are You Ready”
”Dance To The Music”
”Music Lover”
”Medley: Life/Music Lover”

Track List CD3:
”Life”
”Color Me True”
”Won’t Be Long”
”Are You Ready”
”Dance To The Music”
”Music Lover”
”M’Lady”

Track List CD4:
”M’Lady”
”Life”
”Are You Ready”
”Won’t Be Long”
”Color Me True”
”Dance To The Music”
”Music Lover”
”Love City”
”Medley: Turn Me Loose/I Can’t Turn You Loose”
”The Riffs”

Quando o Sly estacionou a van em Manhattan para duas noites no Fillmore, o que aconteceria sob o palco seria apenas um presságio para o que estava reservado para a banda dentro de um futuro bem próximo. No início do mesmo ano de 1968 a banda teve seu primeiro single no Top 10 das paradas (”Dance To The Music”), e mesmo com pouco repertório (apoiado no seu terceiro disco, o excelente ”Stand”), o que temos aqui, apesar de parecer repetitivo, é um retrato libidinoso de toda a potência do grupo.

Fazendo sempre dois sets por noite, este pacote nos mostra como é possível cozinhar cérebros mesmo com pouco repertório, afinal de contas quem conhece sabe: o Sly nunca toca a mesma faixa da mesma maneira.

E é exatamente isso que este disco tenta ressaltar: uma banda no topo de seu jogo. É impressionante a versatilidade e a vitalidade que os caras empregam nos mesmos sons, na mesma noite e no calor do improviso. No set do dia 04 de outubro (eternizado nos 2 primeiros discos), por exemplo, notamos que apesar de ”Are You Ready” e ”Color Me True” se repetirem, não teve um membro da plateia que não mostrou os dotes rebolativos de sua respectiva bacia. Dava pra cortar a fumaça e a energia com uma faca!

As linhas de baixo de Larry Grahm passavam como rituais psicodélicos travestidos de efeitos Doppler. Sly destilava o vocal com sua tradicional tranquilidade mundana e, entre doses cavalares de Funk em medleys cataclísmicos (como ”Turn Me Loose/I Can’t Turn You Loose” e ”Life/Music Lover”), o que fica claro é o caráter arisco dessas músicas.

Tanto ao vivo quanto em estúdio, era impossível prever o que iria acontecer, nem mesmo a banda sabia o que ia rolar, mas, pelo menos nesta fase, não importava o set list, o resultado era sempre apoteótico, tal qual a versão de ”Chicken” que recheia o box.

Os metais davam a largada, uivando por passagem, atravessando e fazendo todos se adequarem a novos padrões. Seja infileirando hits como ”Dance To The Music” e releituras que outrora viraram standards na voz de Aretha Franklin. ”Won’t Be Long” e Rose Stone, senhoras e senhores.

O som era apaixonante, dava pra sacar que a banda estava ali de corpo e alma e o tesão, a vontade de fazer acontecer, eram os polos positivos e negativos que confundiam e energizavam banda e platéria. ”Live At The Fillmore East” não é apenas um bloco de 208 minutos de swing, groove e slap, é muito mais do que isso.

Eis aqui um som que vai além dos direitos civis e de todas as experimentações ácidas para chegar ao cerne do swing. O lance não era tirar as pessoas para dançar, era ver até onde a coqueluche de ritmos quentes poderia levar o ouvinte… É uma pena que todos os envolvidos tenham se perdido no caminho.

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