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O Jazz e o protagonismo do saxofone da Sintia Piccin

Uma das mulheres referência no cenário instrumental/Jazz brasileiro, Sintia Piccin é uma das grandes vozes femininas no Jazz na atualidade.

Quando se fala sobre Jazz, as mulheres são lembradas muito mais na forma de cantoras do que instrumentistas. Num universo musical que ainda reflete o que James Brown narra na clássica “its a man’s world” – lançada em 1966 – o cenário do instrumental/Jazz nacional conta com diversas musicistas, hora veja só, e trabalha (dobrado) pela manutenção dos espaços com voz feminina.

Compositoras, multi instrumentistas, arranjadoras… O cenário é prolífico e conta com diversos talentos, sempre produzindo discos impossíveis de serem ignorados. E para mostrar esse protagonismo, uma das mulheres que hoje se transformou numa referência, principalmente em São Paulo, é a Sintia Piccin Fermino.

Sintia em seu show de lançamento no Blue Note São Paulo – Foto: @deanclaudiofoto

Nascida em São Carlos numa família de músicos, com penas 13 de anos de idade, já tocava profissionalmente. Formado no tradicional Conservatório de Tatuí – onde também lecionou durante 7 anos – Sintia cunhou sua sonoridade e desde então passeia pelo Jazz, MPB, Hip-Hop e instrumental, com rara facilidade.

Já pude assisti-la ao lado da Liniker, Chico César, Tássia Reis e do Rapper Dow Raiz, por exemplo, além do seu projeto solo em quinteto. Em cada uma dessas situações, mais do que tocar muitas notas, Sintia trouxe o que o som precisava de fato. Nada mais, nada menos.

É uma instrumentista versátil e que consegue deixar sua marca, independente do gênero que esteja tocando. E depois de tantos anos lecionando, acompanhando e colaborando com grandes mestres, era chegada a hora de um disco solo, e isso aconteceu em 2019.

Ao lado de um quinteto de notáveis, formado por Jackson Silva (baixo fretless), Fábio Leal (guitarra), Richard Fermino (trompete/trombone/clarofone/clarone contra baixo/saxofone soprano), Miguel Assis (bateria) e Robson Nogueira (piano/teclados), Sintia – que no disco toca sax tenor, alto, flauta e também faz vozes – começou a tirar o projeto do papel em 2015.

A ideia era estruturar as composições, pensar os arranjos, além de montar uma banda capaz de dar vida ao repertório que foi gravado no estúdio C4 e contou com show de lançamento no Blue Note São Paulo.

Line Up:

Jackson Silva (baixo fretless/baixo acústico)

Fábio Leal (guitarra)

Sintia Piccin Fermino (saxofone alto e tenor/flauta/voz)

Robson Nogueira (piano/teclados)

Miguel Assis (bateria/percussão)

Richard Fermino (trompete/trombone/clarone/clarone contra baixo/saxofone soprano)

Track List:

“Projeto 2”

“Freedom Harries Dance”

“Five Elements”

 

O trabalho intitulado “Freedom Of Mind” – lançado no dia 11 de julho de 2019 surge na forma de EP, com 3 temas e praticamente 30 minutos de som. A veia principal é o Jazz e com esse quinteto, Sintia adentra o território do Fusion, com faixas sinuosas e desfechos absolutamente imprevisíveis.

O groove é elementar nesse contexto. Mostrando seu timbre limpo e influência de nomes como Joe Henderson, por exemplo, a saxofonista revela um repertório pungente e que valoriza o trabalho de composição e improvisação, pensando no roteiro de cada faixa.

Os temas são longos e oferecem uma paleta de cores variadas. O trabalho da cozinha – formado por Miguel e Jackson – é impecável. Miguel ajuda a dar forma, sincopando todos os elementos presentes no som, enquanto Jackson entrega ritmo para o pulso.

O trabalho de captação, mix e masterização – feito por Luis Lopes – precisa ser elogiado, pois em todo momento escuta-se tudo e muito bem. A bateria do Miguel, principalmente nas passagens mais pesadas, é cristalina e bastante nítida. Os teclados do Robson Nogueira, sempre presentes, fazendo a cama… O trabalho do Richard nos metais entrega uma riqueza timbristica muito interessante ao projeto. O cidadão toca 5 sopros diferentes. Não é brinquedo não.

A faixa que abre o disco “Projeto 2” aparece como uma tour de force nos seus fones de ouvido. A pressão do saxofone da Cíntia com a cozinha do Miguel e do Jackson é latente. Quando tudo parece que vai explodir, Miguel volta com um groove de bateria que tem tudo pra causar uma hérnia até nos ouvintes mais experientes. O solo de baixo (elétrico) que o reverendo Jackson faz nessa faixa é de rara sensibilidade.

Foto: @deanclaudiofoto

Essa é outra característica muito forte nesse disco. Os músicos tocam com bastante liberdade. Dá pra perceber ouvindo que todos estavam muito soltos. Com isso, o resultado fica bastante orgânico e mantém a essência de um disco de Jazz gravado ao vivo. A parte A do “Projeto 2” é um daqueles grooves que você deixa rolando o dia todo sem nem ver a hora passar.

Harmonicamente e melodicamente é um trabalho muito inteligente. “Freedom Harries Dance” surge com uma proposta diferente. O clarone contra baixo, a percussão e o saxofone criam um clima quase espiritual, mas assim que o Jackson bola o groove no rabecão, Sintia e Richard sopram os caminhos do instrumental.

É impressionante a unidade do quinteto. O disco é muito sólido. Todos conseguem aparecer e com papéis muito bem definidos em cada uma das propostas apresentados. O solo de trompete do Richard e o piano do Robson Nogueira são 2 destaques dessa sessão em particular. A forma como o Miguel acompanha os instrumentos durante os solos merece honroso destaque também. Utilizar o baixo elétrico e o acústico foi outra bela sacada do Jackson. É notável como ele consegue extrair som de ambos e aparecer de forma categórica, tanto elétrica, quanto acusticamente.

Para fechar o disco, “Five Elements”. Com uma verdadeira guitarrada de Fábio Leal, a faixa encerra uma gravação que consegue criar um verdadeiro ecossistema em cada faixa. Os espaços para improvisação, os grooves, a riqueza de timbres, a atenção às harmonias, o peso, a leveza, além da abordagem da Sintia… Todos esses elementos colaboraram para que o grupo eternizasse um disco moderno e que passa longe do revisionismo.

É um trabalho soberbo, feito pelos músicos mais requisitados da cena e que mostra uma visão moderna sobre o Jazz. A Sintia é cirúrgica. Sempre que ela aparece no som, seja no sax ou na flauta, você vai saber.

Só aperte o play, a banda faz o resto.

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