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Sinta A Liga Crew Vai fazer o campo minado explodir em 2018!

Sinta A Liga Crew é um grupo de rap paraibano que se uniu em torno dos 5 elementos do hip hop, e hoje segue militando dentro do cenário local

 

Grupos musicais podem começar por diversos motivos, encontro de amigas, reconhecimento mutuo de interesses musicais, produtores que constroem uma formação, mas no caso do Sinta A Liga Crew, a formação é numa pegada politica. Como o nome mesmo sugere, o Sinta A Liga Crew, surgiu inicialmente como um coletivo feminista para fomentar e tornar visivel o trabalho das mulheres dentro do movimento hip hop paraibano.

O próprio nome do grupo, já sugere uma resignificação politica, de um objeto que é uma peça de lingerie usada muitas vezes para objetificar as mulheres. Nesse contexto, a peça intima se transforma numa sensação, num sentir outro diante de mulheres artistas que produzem um discurso politico potente, algo que dá um “liga” diferente, um “sinta” em forma de troca de afetos e percepções tendo a cultura hip hop como terreno. Mas é o artigo feminino no singular colocado entre as duas palavras a grande sacada, A. 

Ativistas que se reuniram em torno da música rap depois de terem ampla e coerente militância dentro da cena local, o grupo se formou dentro de uma necessidade politica e formou um grupo completo de artistas dentro dos elementos da cultura hip hop. Música, poesia, pintura e dança, tudo reunido em torno do quinto elemento, a produção de conhecimento.

Ativismo e arte, numa conjugação explosiva e muito bem preparada, contando hoje com: Kalyne Lima, Camila Rocha e Preta Langy, rappers e ativistas culturais, ao lado do DJ e produtor musical Guirraiz, da grafiteira Priscila Lima (Witch) e da dançarina Giordana Leite. Artistas que fazem do rap e da arte ligada ao hip hop uma arma contra o machismo, “minando” com muita qualidade e aos poucos o “campo” do patriarcado.

Ao nos aprofundarmos um pouco no currículo das pessoas que formam esse grupo, é automático o reconhecimento de que não estamos diante de uma formação de artistas em início de carreira. Pelo contrário, o Sinta A Liga Crew é formado em suas diversas áreas, por um ator e atrizes com larga atuação e história dentro da música, dança e grafite no cenário Paraibano, tipo um dream team da região.

Filhas de Maria Bonita, dentro desse cenário atual onde o nordeste busca reconhecimento na cena do “rap nacional”, elas estão nesse caminho de se firmar através do enfrentamento e da luta constante. Uma luta que atravessa obviamente todas as dimensões de suas existências, não apenas a dimensão artística. Afinal, existe outra forma de uma mulher se fazer ouvir dentro de uma sociedade machista como a nossa?

Mulheres, mães, trabalhadoras da arte e exercendo também outras funções, vocês sabem, enfrentam jornada quadrupla – para dizer o mínimo – em seus cotidianos, pois encontram muito mais dificuldades para produzir. A peleja é muito maior, e por isso mesmo, em geral carregam um conteúdo mais explicito e de maior afronta a tudo que bebe de alguma maneira, na seara do status quo e dos seus privilégios.

O ano de 2017 foi muito importante para o Sinta A Liga Crew, que a custa de muito esforço conseguiu lançar seu primeiro EP, o elogiado Campo Minado (2017) e ainda fez uma turnê pelo Nordeste encantando a todos por onde passou. O EP, contou com a produção do Dj Guiraiz e traz na maioria das faixas uma sonoridade plena e mais suave do que está na moda. 

Sem esquecer de beats mais pesados como em “Quem Diss”, faixa que encerra o disquinho que contem 5 faixas. Porém, a musicalidade presente aí, é de bases mais suaves e ritmicamente mais swingadas, onde as minas trazem um conjunto de flows mais pedagogicamente encaixados. Afinal, o principal signo a atravessar esse primeiro trabalho é uma luta que perpassa também por um processo de ensino da possibilidade de desconstrução dos nossos preconceitos.

Obviamente, não estamos falando apenas do machismo, apesar desse ser o primeiro e talvez o principal alvo das minas. Talvez possamos dizer que a luta politica do Sinta A Liga Crew parte almejando a igualdade de gênero, mas atravessa e toca também a luta contra a homofobia e a luta de classes. Já na primeira faixa do EP, “Campo Minado” podemos ouvir: Eu tô com as manas/ eu tô com as minas/ tô com as monas/ tô com as gay/ em terra de machocrata quem se desconstrói é rei.

Dentro do espectro politico de luta pelo respeito a diversidade, as singularidades e a liberdade do desejo, é o devir-mulher, o tornar-se quem carrega quase que de modo biológico todos os outros devires minoritários. E a SALC, está nesse devir revolucionário capaz de agenciar com outras lutas que se desconectadas podem enfraquecer-se mutuamente. 

Fundado em 2016 o grupo em quase dois anos de existência não para em termos de produção, e recentemente lançou um vídeo clipe muito interessante. A faixa escolhida foi a quarta do EP, “Correria”, uma elegia as guerreiras famosas ou anônimas, que fazem o corre diário em múltiplas frentes. 

O vídeo clipe contou com a produção executiva e direção do talentoso e multi tarefas Dj Guirraiz que escolheu o close como plano principal para filmar as diversas mulheres que aparecem na tela. Uma escolha elegante e ao mesmo tempo prenhe de mistério e que aprofunda o sentido presente no texto da música. O vídeo contou também com a direção de fotografia da Sara Andrade, com edição e finalização do Rieg Rodig/BBS e a assistência de produção da mc Camila Rocha.

Ao assistir o vídeo, temos a impressão de sermos tragados por aqueles rostos, portas de entrada das subjetividades. Atrás de cada traço de expressão, cada sorriso e olhar, somos convidados a pensar em quem são aquelas mulheres, quais os seus desejos, seus sonhos, suas batalhas, seus traumas na guerra cotidiana. Por quais e quantos sofrimentos elas já passaram, estão passando ou vão passar, afinal a nossa forma de organização social é fundada no apagamento do ser feminino e nesse sentido, a afirmação: “sou mulher, mulher de correria“, traz em sua complementaridade visual o signo da diversidade de histórias que  compõem e estão ali presas nas imagens.

Sem parar de produzir, porque afinal, elas tão na correria de “minar” o campo e ao mesmo tempo caminhar com desenvoltura e muita arte, desarmando o campo minado do machismo, o grupo lançou em parceria com a banda Gatunas, o single “Escalada”. Banda fundada no final do ano passado, as minas e o mano do Gatunas, navegam por diversos ritmos musicais, segurando nessa faixa em especifico a onda do reggae, mezzo orgânico, mezzo eletrônico.

Como presente nessa vibe positiva, aqui presente na sonoridade e na letra de autoria de Camila Rocha e Kalyne Lima, que contou com o beat do Guiraiz e os arranjos das Gatunas, a caminhada é pra cima. A custa de muito trabalho, 2018 é um ano de muita ascensão para o Sinta A Liga Crew que vai colocar na rua projetos muito importantes.

A “escalada” contará com um novo single em formato de clipe,  de lançamento previsto para junho no mês dos namorados, e para variar o tema abordado promete causar celeuma entre os desavisados. Depois, na agenda de novidades temos também o lançamento de um novo EP para julho, um pouco depois, mas não menos importante, a crew vai produzir em setembro o primeiro festival de Hip Hop feminino do Nordeste.

O festival que já possui o nome certeiro de: Campo Minado: Festival Hip Hop Delas, contará, seguindo a linha de atuação, militância e arte do Sinta Liga Crew com diversas atividades de formação artística e politica voltada exclusivamente para o público feminino. Nesse bang histórico, estarão presentes mulheres importantes da cena paraibana, mas também de outros estados do Brasil, a exemplo do PE, RN, CE, SP, RJ, BA e do Atitude Feminina do DF. Acontecerá também durante o evento, mutirão de grafite e campeonato de danças urbanas, além de lançamento de livro e o prêmio: Mulher que Ocupa

Enfim, como vocês podem notar a Sinta A Liga Crew tem muito a aprontar em 2018, apenas o segundo ano de existência do grupo, porém mais um de muitos na caminhada das suas componentes e do seu DJ, produtor e diretor visual. Nós daqui seguimos admirando a correria e a força da arte dessa crew e torcemos para que em breve elas voltem para Salvador.

Escutem o Ep Campo Minado (2017) completo abaixo e acompanhe o trabalho do Sinta A Liga Crew nas redes sociais.

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