O nascimento
Sil Kaiala apresentou há algumas semanas o seu EP, numa linda festa de lançamento que contou com um time serie A do hip-hop baiano e nacional. Estiveram presentes os grupos: Fúria Consciente, A Rua se Conhece, Cintia Savoli e Mirapotira Sobrevivente, Noblah, Pry Kally e Dj Nai Sena, além do grafite de Sista Katia, Chermie e Talitha Andrade e do coletivo de poesia, Resistência Poética. Depois da festa ela disponibilizou seu mais novo “filho” na íntegra para download. E se você ainda não baixou, sinto muito, mas você tá por fora.
Palavras Rimadas é uma boa amostra do potencial dessa guerreira que através das rimas transmuta as palavras dando-lhe o sentido do combate. Combate ao racismo, resistência e autoafirmação enquanto mulher negra, sem perder a doçura e a capacidade de amar. Sil Kaiala explora também o tema de sua própria poética nos situando no campo em que se pretende atuar com a poesia negra e periférica. Um belo trabalho com a produção do onipresente Diego 157, nos fazendo perceber tudo o que essa carreira (recém iniciada numa nova fase) pode nos oferecer.
A fim de conhecer um pouco mais do background desta artista e desta obra, batemos um papo com ela, onde a rapper nos elucidou sobre sua caminhada, suas intenções, os parceiros de trabalho e as pessoas que a ajudaram no processo. Confiram nosso bate papo
Oganpazan – Sil Kaiala, conte-nos um pouco da sua história no rap baiano, de quais os grupos que você participou e porque a mudança de nome?
Sil Kaiala – Tudo começou quando eu conheci o movimento hip-hop em julho de 2000, através das Reuniões da Possi Ori [movimento feito por militantes e que atuavam em alguns dos elementos do hip-hop] que acontecia no Passeio Público no Campo Grande. Entrei na Possi Ori e me tornei uma militante do Movimento Hip Hop.
Fundei os grupos de rap Hera Negra e Tropa Sagaz, composto só por mulheres, mas hoje estou fazendo meu trabalho como Sil Kaiala. A mudança se deu por causa do meu trabalho solo. Queria usar algo que tivesse tudo haver com minha ancestralidade e por isso o nome Kaiala.
Ogpz – De onde surgiu seu interesse pela música? E porque você faz música?
Sil Kaiala – Meu Interesse pela musica rap surgiu quando fiz uma apresentação em 1997 na escola pública onde eu estudava. Daí, não parei mais [risos]. Faço música porque com ela consigo gritar tudo que está preso dentro de mim. Faz parte de mim, do que eu vivo. O rap é minha filosofia de vida, ele tem poder de influenciar as pessoas e eu gosto disso!
Ogpz – Como você está vendo a cena do hip-hop baiano? E nesta cena como você vê a participação feminina?
Sil Kaiala – Hoje em dia está bem mais fácil para as pessoas que fazem parte do hip-hop baiano poder divulgar seu trabalho, fazer apresentações e para alguns poder viver disso. Mas por outro lado, a militância deixa a desejar. Não se vê mais a militância seguindo de mãos dadas com a cultura. Podemos contar de dedo quantas pessoas usam a sua arte para fazer um trabalho social.
A participação da mulher dentro do movimento hip-hop está bem melhor comparado a nos atrás. O machismo ainda prevalece e percebe-se isso quando vemos em eventos de hip-hop apenas grupos masculinos e nós mulheres sempre em papéis secundários, backing vocal, participações, ou como a única mulher em um grupo masculino.
Somos poucas na cena, mas estamos na ativa. Procuramos ocupar os espaços dentro do movimento hip-hop atuando nos quatro elementos.
Ogpz – Qual a sensação de estar lançando esse EP, quem foram os parceiros que lhe ajudaram nessa caminhada e o que você espera deste trabalho?
Sil Kaiala – Missão cumprida, êxtase total. Estou muito feliz por mais essa conquista em minha vida. Foram praticamente dois anos de gravações no estúdio Maus Elementos.
Tantas pessoas fizeram parte disso. Tem Verídico, Diego 157, Tiago Negão, Mau Huts, Xarope Mc, Paulo Vendaval, Ayran Reis, Aline Nepomuceno, Iris Mariá, Mara Asantewa, Vivian Oyasse, Dj Smook, Iara Nascimento, Edmundo Junior, entre outros amigos e Família.
Espero agradar a tod@s com o meu trabalho e quero ir mais além. Desejo que ele seja ouvido pelo Brasil a fora, que as pessoas se deliciem com as minhas Palavras Rimadas.
Ogpz – Quais são suas maiores influências artísticas?
Sil Kaiala – Uma grande influência pra mim, na verdade são duas mulheres fodas! Dina Di, e Eve. Elas Foram as primeiras mulheres do rap que eu ouvi e amo de paixão! Tem outros estilos que gosto muito como reggae, R&B e músicas africanas. Todos eles me inspiraram de alguma forma.
Ogpz – Se houver algo que não perguntamos, mas você queira falar, fique a vontade, o espaço é seu.
Sil Kaiala – Queria agradecer a você por ter me convidado para entrevista, fico muito grata! Quero mandar um Salve para tod@s que curtem o meu trabalho. Espero que o hip-hop continue mostrando a sua cara e que as mulheres não desistam, que todas persistam no que gostam de fazer.
“Mulheres, Negras Mulheres. REVOLUCÃO!!!!!!”