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“Shakespeare do Gueto” é o primeiro clipe solo de Ravi Lobo. “Puxando a matilha”

Ravi Lobo

Ravi Lobo se lança em projeto solo com a super produção Shakespeare do Gueto, primeiro single em chave de drill! 

 

Ravi – um – Lobo no Drill

Em tempos onde a simulação de uma “bandidagem airsoft” é vendida como imagem sem referência real, Ravi Lobo estreia sua carreira solo com um clipe desde já icônico: “Shakespeare do Gueto”. Real MC, o artista com mais de 10 anos de carreira junto ao seu grupo Rap Nova Era, abriu mais esse braço em sua caminhada. 

Conhecido pelas ruas e palcos de Salvador como um dos cabeça cara da cena, Ravi passou a pandemia em ampla atuação junto a cultura hip-hop local. E cozinhou um EP de estreia solo, do qual este single dá início aos trabalhos. 

Mais afeito a linha gangsta rap, com três discos lançados junto ao Rap Nova Era, participações clássicas junto a diversos outros artistas da cena baiana e nacional, com duas mixtapes junto a família UGangue. 

Ravi Lobo faz agora uma incursão pelo drill, onde sua versatilidade de flow e a agressividade das rimas passeiam com tranquilidade. Mas, para além da estética sonora as ideias permanecem intactas, a malandragem que a rua deu segue sendo transmutada em melhoria e luta pelos nossos. Sempre e todas as vezes, não importa qual o beat escolhido, a obra de Ravi Lobo é Hip-Hop, desde o cadeião, onde essa cultura lhe deu um horizonte. 

Shakespeare do Gueto, várias peça fria!

O videoclipe de estreia, “Shakespeare do Gueto”, chegou às plataformas de streaming, primeiro como single e depois como clipe, e aqui estamos falando de uma superprodução da vida real. A qualidade das tomadas, os personagens, as ideias imagéticas presentes no trabalho, estão ali muito bem eternizadas, porém o contexto também. A música é produção do JLZ que entregou um beat de drill muito produzido. 

Enquanto as filmagens aconteciam, retratando uma “peça” possível que o gueto transformou em poesia, os esquadrões da morte atuavam dentro da favela. E nesse sentido, a realidade transborda na tela pela lente afiada de Iury Taillan, mas como sensação de um horizonte possível do que como imagem real.

A esta altura do campeonato, neste palco da vida onde muitos simulam ter o que não tem, ser aquilo que não é, para vender essas imagens sem referenciais reais, Ravi Lobo investe sua poesia no que podemos ser.

“Ao invés de furar viatura, meus pivete vão virar doutor”, há aqui uma ideia que deveria ser central para entender a referência ao escritor e poeta inglês Shakespeare. Enquanto MC que viveu a dura realidade do gueto e que foi resgatado pela cultura hip-hop, Ravi Lobo assumiu para si a ingrata missão de fazer de sua arte um chamado. 

Levando ininterruptamente poesia e arte para o gueto, ao longo de mais de dez anos, a alcunha de Shakespeare do Gueto, lhe cai como uma luva. Pois, as peças que narrou e narra, tem servido de palco para a reflexão de muitos, de que o caminho do crime é inglório. Essa perspectiva ficou muito bem traduzido no roteiro e na direção de Iury Taillan que criou um personagem como uma espécie de duplo e espelho, um pequeno Ravi, que corre para levar uma chave. 

Calça de homem não veste menino, o hip-hop é a chave!

Enquanto Salvador atravessa uma guerra entre facções criminosas, a política de genocídio do governador Rui Costa segue a todo vapor, e a fome é crescente entre a nossa população mais vulnerável, o hip-hop luta. A arte de Ravi Lobo é reflexo de sua atuação, uma postura que tem se mantido intacta, e que tem sido lapidada. “Lacoste não compra postura”! 

Junto a família Ugangue, desde a pandemia várias ações que não produzem hype foram feitas nas favelas de Salvador. Da distribuição de alimentos e outros itens de necessidade básica até lives que levaram a cultura hip-hop para as nossas favelas. Essa postura aliada a exímia técnica e qualidade artística, assim como as vivências, o capacitaram para que essa estreia solo venha tendo o reconhecimento devido.

Em tempos onde o hip-hop perde aderência junto ao rap que viraliza no mainstream, é curioso notar como produções como esta, carregam uma verdade que é difícil de traduzir. Uma verdade que é mais sentida do que dita, um horizonte do possível que parece cada dia mais ser construído com muito sangue e suor. E que só pode ser vislumbrado por quem possui uma caminhada para além dos holofotes da indústria cultural. É nesse sentido, que o roteiro de Shakespeare do Gueto consegue produzir uma meta narrativa que fixa nas imagens o que é e o que pode ser. 

A bag do motoboy que carrega as tags e as assinaturas de grandes artistas das ruas de Salvador que não se encontram mais entre nós. Os artistas e pessoas que são focalizados como referências, Vandal, Shook, Moreno (Rap Nova Era) de proteção e luta pelos favelões de Salcity. São alusões deste coletivo que é a cultura hip-hop, e que juntos podem gerar a matéria prima para essa chave, que é carregada nesta música e na vida por Ravi Lobo.

A pequena Lis, neta de Dona Lili, filha de Ravi Lobo, encerra o clipe como uma pequena princesa, em um dos takes mais bonitos e carregados de esperança da história do rap baiano. Ela, como todas as outras crianças pelas quais lutamos para entregar um país mais justo e menos desigual, um dia carregaram essa chave adiante. As obras completas de Ravi Lobo, serão parte deste acervo, que só poderá ser entendido por quem possui essa chave!

-“Shakespeare do Gueto” é o primeiro clipe solo de Ravi Lobo. “Puxando a matilha”

Por Danilo Cruz 

 

 

 

 

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