Será que estamos testemunhando o fim do CD, o tempo tá voando e novas formas de ouvir música surgindo rapidamente, fica aí uma boa reflexão!
Cheguei a iniciar um papo com meu camarada Danilo Cruz a respeito desse assunto, mas acabamos por não finalizar nossa resenha por conta do ambiente em que estávamos, que não era próprio para aquela discussão.
Estávamos no evento LAMA, várias paradas acontecendo simultaneamente, vários camaradas chegando e saindo o tempo todo, troca de ideias, várias brejas, diversos assuntos e uma efervescência da porra, como tem que ser, e o “papo-CD” foi ficando pelo meio do caminho.
Afinal, não estávamos ali pra falar de porra de CD e sim, resenhar, rever amigos, tomar umas brejas e curtir o som… e foi o que fizemos! Porém, chegando em casa, fiquei matutando sobre essa questão….
Mídia altamente cultuada no início dos anos 90, como sendo a substituta direta do vinil, o CD hoje vive um declínio mercadológico e que muitos afirmam categoricamente estarmos caminhando para o fim desse formato de comercialização da música!
Se por um lado há quem afirme que a bolachinha digital está com os dias contados, outros que caminham na contracorrente dessa afirmativa, sustentam uma ideia exatamente contrária e tomam como suporte para tal afirmativa, a insistente permanência do vinil, ainda que para um nicho restrito. O vinil a despeito de todas as suas qualidades e de sua história, passou por maus bocados justamente por conta da rápida ascensão dos CD’s, e hoje em nosso país insiste em ser uma mídia permanente ainda nos dias atuais. Pois em outros lugares do globo não cessou de ser produzida e consumida.
Concebidos no início dos anos 80 mas tendo sua popularidade impulsionada na década seguinte, o que gerou o declínio das vendas dos LP’s, os CD’s chegaram no mercado fonográfico mundial com o status de revolucionar e trazer uma proposta de música mais filtrada e de“qualidade” aos ouvidos e num formato mais compacto e livre dos famosos ruídos.
Fruto de uma parceria entre duas gigantes do mercado fonográfico mundial, a holandesa Philips e japonesa Sony, os primeiros compact disc começaram a serem produzidos no ano de 1982, também nesse mesmo ano em paralelo a produção dos CD’s, a Sony produziu o primeiro aparelho de CD player, para execução sonora das compactas bolachinhas. O maior salto na produção de mídias fonográficas até então!
A inauguração da era digital no universo da musica mundial ficou a cargo do cantor norte-americano Billy Joel, com o seu sexto álbum de carreira, o: 52nd Street, de 1978 – gravado ao vivo em um dos templos sagrados de grandes eventos norte-americano, o Madson Saqure Garden, foi ele o primeiro álbum musical lançado na mídia compacta.
Logo, o novo formato e conceito de produção musical chegaria ao Brasil e para também inaugurar essa nova era musical da música brasileira, o luxuoso e icônico álbum: Garota de Ipanema, de Nara Leão (Philips/1986) e produção impecável do mestre e inoxidável Roberto Menescal.
Estabilizado como a principal mídia musical no Brasil e no mundo por mais de 20 anos, o CD começa a ver o seu império ser ameaçado e a começar a ruir, primeiro por causa da pirataria. E aqui temos uma contradição interna, existia a pirataria durante a era dos vinis, com as famosas fitinhas cassete. No entanto, quem tinha suas fitas gravadas de discos que amavam, pretendia em algum momento adquirir o vinilzão, com sua forma exuberante, dobras e encartes que eram uma obra de arte em si mesmas.
O compact disc, compactou tudo, do som aos encartes, e com o advento da invenção do mp3, dos computadores caseiros, impressoras, a pirataria floresceu como uma verdadeira cópia do original. Época em que a indústria fonográfica criou o mito de que as bolachinhas piratas prejudicavam os aparelhos, quando na verdade o que queriam mesmo eram proteger seus negócios e blindar seus artistas ainda que sem sucesso. E em seguida, a popularização da internet, que foi o tiro de misericórdia nos compact disc, com o imenso crescimento dos compartilhamentos em programas P2P.
Atualmente quase que não se encontra mais lojas de CD’s pelo país, duas grandes redes mundiais com sede nos Estados Unidos, as norte-americanas Best Buy e Target afirmaram através de suas redes socais que não irão mais comercializar a mídia.
Temos de ter em mente e convir também que com os avanços tecnológicos, a forma de se consumir música mudou, a grande maioria dos que consomem música atualmente, não param pra escutar música propriamente e sim “dar o play” para exercer alguma atividade e ter na audição do que se ouve uma espécie de atividade secundária. É cada vez mais fácil perceber que as novas gerações não se interessam por “discos”, como obra, e sim em sacar os últimos hits, singles e etc..
Vem se tendo pressa para se escutar música, ao invés de, parar pra escutar música. A era dos downloads e streaming meio que acabou por definir um novo perfil de ouvinte. A facilidade de encontrar música, tem aos poucos diminuido o interesse por ouvir música com atenção e de modo mais profundo.
Alguns que buscam os hit’s e não pesquisar se aquilo que se escuta faz parte de algo maior, se tá contextualizado em um trabalho conceitual de determinado artista, por outro lado, os artistas também tem percebido essa mudança do perfil de consumo e procurado se adaptar as novas demandas mercadológicas.
Apesar desse contexto dos CD’s dentro da conjuntura atual, não nos parece que os mesmos vão sumir, até porque temos muitos artistas que ainda lançam neste formato. Mas para as novas gerações o disco, seja em sua forma de Cd, Vinil ou mesmo digital, não é algo relevante, e muitas pessoas também tem abandonado o hábito de ouvir um forma artistica maior.
Mas acredito que, por conta das crescentes quedas das produções e consequentemente das vendas, o mercado se limite as produções em pequenas escalas, o que iria por consequência inflacionar os preços e restringir o consumo a um nicho de alguns poucos colecionadores, tal como vem sendo feito com o vinil após a retomada da produção nacional…!!
Escute essa pedrada do mc paulista Rashid que nos mostra a importência da produção de cd’s para a cultura hip hop, um exemplo de como a “facilidade” do cd, transcende um pouco a mera obsolência desse formato físico.
-Será que estamos testemunhando o fim do CD?
Por Paulo Brazil