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Sepet e a sua trilogia audiovisual: Menino Rebelde!

Sepet

Sepet fecha a sua trilogia audiovisual: Menino Rebelde, mostrando a força da sua arte e a potência da sua carreira solo iniciada em 2020!

Desde que o rap começou a abordar as vivências mais cruéis da rua, é comum que as  letras versem sobre objetificação da mulher, uso de armas e drogas, fazer parte de gangues e do  tráfico. Há uma linha muito tênue, contudo, entre a apologia dessas práticas e o retrato crítico  da realidade periférica. E com o lançamento de Menino Rebelde III, Sepet mostra conhecer essa  linha e respeitá-la. 

Um trabalho realizado de forma independente e colaborativa pela VLM Produtora, os  clipes que compõem a trilogia contam a história do personagem Menino Rebelde desde a sua  infância, dividindo momentos de revolta com o amigo, seja no seio de uma família  desestruturada ou no tráfico, até o auge e sucessiva queda. O primeiro dos clipes nos traz um  real trap com os elementos mais característicos da vertente. Lacoste, camisa de time, chuteira  na cinta, bag de pino, armas e até o funk se faz presente. Tudo nos coloca numa posição  confortável de algo já conhecido e assenta o terreno da história de traição que será contada.  

Leia aqui sobre o primeiro episódio da trilogia menino rebelde: 

SEPET é cria do Hip-Hop baiano, Menino Rebelde

O segundo clipe chega com uma mudança completa de abordagem e sonoridade, nos  tirando rapidamente da zona de conforto em que havia colocado. No início dele vemos o  tormento pelo qual passou na infância o personagem L4tro, amigo de Menino Rebelde,  interpretado pelo Mc de mesmo nome. Enquanto brinca, seus pais discutem e ao decorrer do  vídeo é possível perceber que o pai de L4tro não se faz mais presente na sua vida. Se antes era  o real trap que embalava a troca de tiro de Menino Rebelde, agora é o boombap que acompanha  a história de L4tro, que é revelado como o X9 morto pelo próprio amigo na primeira parte da  trilogia. 

Leia aqui sobre o segundo episódio da trilogia menino rebelde: 

SEPET segue a saga do Menino Rebelde feat L4tro

No terceiro e último vídeo com a direção de Ramires AX, qualquer possibilidade de interpretar os clipes de Sepet como  uma glamourização desse tipó de vida cai por terra. Como não podia deixar de ser, é numa troca  de tiros que Menino Rebelde é alvejado e fica paraplégico. O início do vídeo nos antecipa esse  desfecho trágico e nos mostra a assistência de que ele passa a precisar para desempenhar  atividades tão simples como passar por uma porta. E como encerramento de toda a história de  Menino Rebelde, a única conclusão cabível é o aconselhamento por parte dele mesmo para a  juventude que ainda insiste nos caminhos que o levaram para a cadeira de rodas. 

O projeto todo é muito bem executado e revela suas influências de forma clara em  algumas de suas escolhas. A capa da parte III emula uma cena clássica do cinema brasileiro,  quando o bonde do Zé Pequeno para de frente para a polícia em Cidade de Deus. No clipe  anterior temos uma fala desse mesmo filme servindo de interlúdio entre a parte de L4tro e a de  Sepet. Além disso, assim como no filme, a produção teve apoio de amigos, familiares e vizinhos  do Mc, tanto por trás das câmeras como na frente delas. Uma obra realizada na favela, pela  favela e para a favela. 

A versatilidade de beats que acompanha a trilogia é muito bem acompanhada por Sepet,  que rima fácil no trap, no drill (aqui nesse volume 3, um beat do Raonir Braz) e até no melódico refrão da segunda parte. Além de ressaltar em  suas letras e na de L4tro a complexidade da temática. O próprio título da trilogia e frases como:  “[…] cheio de ódio […]”; “[…] sou o revoltado da minha família […]”; e “[…] só os rebelde rivotril […].” revelam uma faceta psicológica em toda a problemática. E outras como “Você  não sabe como é ficar feliz, por uma pandemia te dar seiscentos conto na carteira.” mostra o  lado de quem, por não ter nada ou quase isso, fica esperançoso em meio a tragédia. 

Menino Rebelde, a trilogia, além de tudo que já foi citado é, contraditoriamente, um  grato alívio. Conhecido atualmente por um trap menos politizado, o Nordeste divide com o  Norte o ranking de violência do país. Encontrar um trabalho que relata essa realidade de forma  tão profissional e consciente como o de Sepet, que não opta pelas escolhas mais óbvias do trap  e se posiciona na subversão do gênero é reconfortante e algo a ser comemorado. Mérito do  próprio Mc e da VLM Produtora, que fizeram no Loteamento Vila Mar uma grande obra.

-Sepet e a sua trilogia audiovisual: Menino Rebelde!

Por Marcos Roberto Santos Pereira 

 

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