SEPET é cria do Hip-Hop baiano, Menino Rebelde (2020), seu primeiro audiovisual solo é a primeira parte de uma trilogia!
O jovem MC nascido e criado no favelão de Nova Brasília na Estrada Velha do Aeroporto, se apresenta como uma grande realidade do nosso Hip-Hop baiano. Logo cedo, SEPET entrou em contato com a cultura pelo próprio DNA. Filho do pixador e grafiteiro que badalava a EVA (Estrada velha do aeroporto) com o vulgo de SEPET (Cleber Santana), aos poucos Kevin Pereira Santana assumiu essa herança familiar, e foi através do projeto Fábrica de Rima que ele incorporou a alcunha do seu pai. Levando o nome SEPET agora para o outro elemento do hip-hop: O Rap.
Começando através das batalhas, e sendo cria também do Fábrica de Rimas, projeto realizado em seu bairro e que se ancora firmemente nos 5 elementos da cultura hip-hop, SEPET aos 12 anos já se destacava nas batalhas. Dos 12 aos 14 anos se aprimorou e mesmo muito novo conquistou diversas batalhas importantes, e participou da Cypher Trem Bala Part.2, projeto do OG Xarope MC junto com Sabótico, Aurea Semiseria, Saqk e Bulldog.
Certamente, esse início forte se configurou em uma espécie de preparação para a grande batalha sem fim que é a vida, e principalmente para uma vida como artista independente. Jovem negro, residente de um bairro periférico, cria também de um tempo onde tudo parece acontecer rapidamente, sabiamente, o jovem se retirou e agora volta com um trabalho solo sólido. Se tecnicamente já lhe admiravam desde sempre, agora aos 16 anos, a maturidade se configura numa estréia que já chega propondo uma trilogia, onde o MC produz uma forte descrição da realidade das periferias para os jovens negros.
Esse verdadeiro “Menino Rebelde” (prod. Drikko), abre os trabalhos com uma produção contemporânea dialogando com a estética do Drill, mas completamente enraizado na cultura hip-hop. Em tempo em que muitos dos seus contemporâneos e mais velhos que o MC de Nova Brasília-SSA, absorvem novas sonoridades e as trabalha de modo pouco refletido, SEPET já abre os trabalhos apresentando suas armas. Consciência das armadilhas do sistema, visão crítica, relato verídico de quem vive essa realidade. Esse é o tripé que sustenta a trilogia que ora se inicia com Menino Rebelde.
Já de saída com uma afirmação que nos coloca um problema: será realmente que essa é a rebeldia mais astuta? a mais duradoura? será mesmo que isso é rebeldia? Obviamente, por motivos diversos, a vida do crime é uma negação inicial ao que o sistema político e social e a sociedade de modo geral oferece a milhões de jovens negros.
Educação pública falida, sistema público de saúde ineficiente, desemprego ou subemprego. A guerra às drogas e a sua produção de uma estrutura lucrativa a curto prazo, parece ser a melhor das opções. Isso levando em consideração uma fase da vida – a adolescência – em que o imediatismo, onde não há medo de morrer, e os nossos valores éticos e políticos ainda titubeiam. Da mesma sorte que, como acima mencionamos, a falta de perspectiva e oportunidades são das poucas coisas bem distribuídas no país para nossa juventude negra.
E talvez, seja exatamente esses os questionamentos que “Menino Rebelde” nos provoque, ao narrar o cotidiano que se nos apresenta em diversas favelas de nosso país. O excelente videoclipe dirigido por Ramires AX (videomaker que tem produzido trabalhos memoráveis), com cenografia bem produzida, inclusive causou ruído com a comunidade que diante de peça estética tão bem montada, e tendo essa mesma realidade como próxima, acionou a polícia durante as gravações. Contornado esse problema, as gravações prosseguiram, prospectando vivências e expressando a arte e a consciência hip-hop de SEPET.
Uma subjetividade ainda em formação, um artista que agora temos o prazer de ver florescer com um trampo que já se apresenta com uma solução de continuidade que ainda vai dar muito o que falar. Para quem possui sensibilidade para tal, SEPET é uma das flores nascidas dos nossos lixões cotidianos, um jovem que sonha em viver de sua arte conscientizando os seus iguais. Levando uma herança familiar a frente com muita qualidade, e ao mesmo tempo enriquecendo nossa cultura. É fundamental diante de uma manifestação como essa, cuidarmos dessa jóia nova e rara, como de muitas outras que estão aparecendo ou que estão na luta a tempos.
Esperemos e cultivemos os próximos capítulos do Menino – verdadeiramente – Rebelde, SEPET, que já foi o Cleber que passou o amor pela cultura ao filho Kevin, transmitindo uma forte herança. Herança está cultivada pela forte iniciativa do Fábrica de Rimas e que agora começa a caminhar coletivamente para se tornar mais um agente transformador no seio da forte cultura hip-hop baiana.
Leia também a entrevista que SEPET deu ao portal Hitoubr
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-SEPET é cria do Hip-Hop baiano, Menino Rebelde
Por Danilo Cruz