Selo Ibori Lança Mini-Documentário sobre o primeiro Studio Home Comunitário de produção musical do Nordeste. O hip-hop em ação direta!
A produtora independente Ibori Studio lança domingo (05/04/2020) o minidocumentário; Laboratório Musical Ibori Studio – Curso de Férias. O documentário é o registro da atividade comunitária que aconteceu entre os dias 15 e 23 de fevereiro de 2020, reunindo jovens negros da periferia de Cachoeira e de cidades vizinhas com o propósito de realizar uma formação intensiva no que diz respeito à produção musical em programas digitais
O Laboratório Musical Ibori Studio é uma experiência inovadora e, até então única a nível de nordeste, de consolidação de um espaço criativo seguro para jovens negr@s que moram, articulam ações culturais comunitárias em periferias urbanas que são diretamente atingidas pelas políticas de morte do Estado genocida brasileiro. Nas palavras de um dos coordenadores da ação comunitária ,
É uma iniciativa única , pelo menos a nível de nordeste. Nós estamos disponibilizando um espaço criativo seguro para que jovens negr@s de comunidades periféricas da cidade de cachoeira e, região circunvizinha tenham controle total de suas produções fonográficas ; produção musical, gravação, masterização mixagem e, distribuição em plataformas de streamings. E tudo isso gratuito.
Não estamos aqui querendo “ alavancar carreiras”, ou criar um “ manual de como ficar rico no rap”. Pelo contrário, estamos formando lideranças comunitárias, que a médio prazo vão instalar iniciativas parecidas em suas comunidades, pois nosso principal objetivo é esse ; dinamizar e multiplicar o acesso/ manuseio de tecnologias de produção musical , como uma ação de enfrentamento e prevenção aos altíssimos índices de violência letal contra jovens negr@s no recôncavo sul. É um programa comunitário, não uma iniciativa de ONG.
Na primeira Edição do Laboratório Musical , que foi realizado em um modelo intensivo de curso de férias, onde o Mc e, educador comunitário, Aganju, orientou os alunos da primeira turma a operarem o programa de produção musical , especialmente o FL Studio. Aganju deu ênfase na construção de sonoridades como Rap, trap, Drum N’ Bass, Jungle, Deep House, além de um conteúdo específico sobre técnicas de Samplers. Ao fim dos 5 dias do curso, os alunos além de construírem instrumentais, escreveram algumas letras que vão fazer parte de uma Mixtape, que será gravada, mixada, masterizada e distribuída em streamings, pelos próprios alunos. Nas palavras de Aganju, um dos coordenadores do programa comunitário ,
O Mini-documentário Laboratório Musical Ibori Studio é um fragmento audiovisual de um programa comunitário que temos desenvolvido de maneira subterrânea desde que fundamos Us Pior da Turma ( 2015) e o Studio Ibori ( 2016). Nós somos signatários da Cultura Hip Hop, desse modo, desde que nos inserimos no contexto da produção musical independente no recôncavo sul, nossa maior preocupação foi de como utilizar as tecnologias de produção musical no enfrentamento e, sobretudo, prevenção aos altos índices de assassinatos que tem atingido de sobremaneira jovens-homens –negros e suas respectivas redes familiares.
O laboratório musical Ibori Studio vai possibilitar a consolidação de um espaço seguro para criação artística e formação de organizadores comunitários, tal iniciativa, vai ter um impacto sem tamanho na dinâmica de vida desses jovens e, das comunidades que moram e, atuam como agentes culturais comunitários . Nossa meta é que daqui cinco anos, tenhamos conseguido instalar pelo menos mais 5 laboratorios musicais em diferentes periferias da cidade.
O minidocumentário do Laboratório Musical Ibori Studio mescla o estilo expositivo com o observativo, apresentando entrevistas dos participantes e sequências de imagens do processo de criação experimentado ao longo do curso. A abordagem apresentada pelo cineasta Augusto Daltro faz um registro histórico da realização da atividade ao mesmo tempo em que traz um discurso que justifica a sua realização, elencando as práticas violentas do Estado que estão presentes na realidade da juventude negra cerceando o seu direito à expressão e produção artística.
O Ibori Studio
O Ibori Studio foi criado em 2016 por integrantes do grupo de rap Us Pior da Turma juntamente com outros articuladores da Cultura Hip Hop local para impulsionar e monetizar as produções do grupo, bem como criar um espaço criativo seguro para a juventude negra das periferias de Cachoeira. Desde então o Ibori tem atuado na construção e distribuição de uma série de projetos musicais e se consolidado como o único estúdio musical comunitário em um raio de centenas de quilômetros.
A sede da produtora está localizada na comunidade do Cucuí de Caboclo, um dos bairros cachoeiranos mais diretamente atingidos pela brutalidade policial, ação de grupos de extermínio e , pelo abandono por parte dos poderes públicos . No mesmo espaço encontra-se o Centro Comunitário de Audiovisual Luiz Orlando que nos últimos anos tem sido uma das principais referências na realização de ações comunitárias e enfrentamento ao genocídio negro na região do Recôncavo. A produtora e o centro comunitário vem desenvolvendo uma atuação conjunta na comunidade, apostando na Cultura Hip Hop como uma importante ferramenta para a obtenção da autonomia comunitária.
Muitos dos jovens do Cucuí de Caboclo e da Rua da Feira (bairro adjacente) tem encontrado no Ibori um espaço não só para aprimorar as suas habilidades artísticas, como também um espaço de formação política e comunitária. Essa experiência já tem dado resultados, visto que ações paralelas já vem sendo articuladas por jovens MCs vinculados à produtora, a exemplo do “A Banca convida” e do “X Arte na Comunidade” que foram realizados no último ano com o objetivo de movimentar culturalmente a Rua da Feira.
-Selo Ibori Lança Mini-Documentário
Por Jamile Novaes