Se liga Fábio Brazza, num rolê com nós você não vai! O risível clipe lançado pelo paulista nos traz questões que vão ao encontro do racismo!
https://www.youtube.com/watch?v=gFEk0wtQK8Q
Brancos no rap, principalmente aqui no Brasil, precisam ter muita vivência, necessitam ter uma visão crítica muito ampla, sobretudo devem estar atentos e fazerem autocrítica. Nos EUA a coisa está melhor assentada. Essa semana mesmo vimos um babaca reproduzindo racismo numa batalha tomar um socão quando pronunciou a palavra nigga em suas rimas.
Mas o Brasil sempre nos surpreende quando se trata de racismo. Por aqui o racismo é escancarado e ao mesmo tempo toma ares de velado. Falando de rap, parte consistente da nossa cultura negra de periferia, é curioso ver um rapper de batalha como Buddy Poke fazer black face, insultar aspectos da negritude em batalhas e fazer uma cypher a favor do golpe da presidenta Dilma Rousseff e estar por aí participando da cena. Com todo esse incentivo nada mais normal do que Fábio Brazza explanar suas dores de homem branco que não encontra sucesso na cena.
Vejam bem, aqui não estamos falando de apropriação cultural, algo que segue marcha em nosso país nos últimos anos. Houve um período no qual a popularização do rap o colocou entre os muros dos condomínio da classe média, levando uma geração desse nicho social a adentrar a cena hip hop. Vimos um crescente movimento de apropriação cultural feito por brancos, assumindo que o topo do hype durante alguns anos.
Essa estrutura começou a ser questionada nacionalmente pelo Raffa Moreira, juntamente ao público do rap e ao movimento negro, e certos setores da mídia que sempre pautaram a questão da apropriação cultural. A discussão levantada nos últimos anos sobre o predomínio de rappers brancos numa cultura de origem negra e periférica, recebeu um amplo apoio de produções nesse sentido, bem como de pessoas interessadas no tema. Esse debate logrou êxito. Atualmente, pode-se dizer que existe um solo firme acerca da questão da apropriação cultural. Porém, aqui estamos situados em um outro terreno, o da acusação de racismo reverso ou, se se quiser, numa ideia abstrata e frágil, do que deve ser o rap emanada por um branco!
O Fábio Brazza em geral é uma piada musicalmente falando. Ouvimos suas produções o suficiente para dizer que se trata de algo de péssima qualidade musical. Da mesma sorte, o Murilo Couto, que dispensa apresentações, devido ao alcance midiático do seu suposto “humor”, tem participação chave no clipe tema de nossa reflexão: Flowzinho do Tyga. Nosso muy amigo “Carlim” se surpreendeu com o nível deste clipe e resolveu nos mandar. Em Flowzinho do Tyga encontramos uma vulgaridade e uma baixeza que não tínhamos conhecido antes. Existe ali uma espécie de união de tudo que não presta no rap. Não esqueçamos, recentemente o Murilo Couto começou a “fazer” rap.
No clipe as gargalhadas brotam de imediato tão logo o play é apertado. Logo de cara aparece o Fábio Brazza, junto ao seu par romântico atuando naquele nível de comercial de margarina, reclamar de que o “rap de mensagem não está dando certo e ele tem contas pra pagar”. O primeiro pensamento que nos vem a mente é: “olha o cenário”, mas não bastasse o pastiche, o mal gosto, a estupidez, a menina sugere: “Pede umas dicas pro Murilo”. E nesse momento o que era meramente um clipe pastelão, mais uma prova do quanto Fábio Brazza deveria estar fazendo outra coisa, passa a ter ares de Cine Trash.
O personagem encarnado por Murilo Couto no clipe, tenta emular um trapper – talvez um produtor – mas termina destilando todo o racismo que nossa sociedade possui, será que é isso?, dando um pito no menino amarelo e lhe indicando drogas, armas, dentes de ouro e roupas de marca. Será essa a forma rasteira, racista e escrota que o Fábio Brazza entende aquilo que ele chama de rap de mensagem? Sabe-se que nos EUA são os pretos que definem a estética do trap, e aqui no Brasil são copiados – em maior ou menor grau – por uma série de artistas, de maioria negra, que se identificam com essa forma de produzir música e obviamente com todo o lifestyle e arte.
Ora, não é necessário se aprofundar muito para entender que esse estereótipo ridicularizado pelo clipe do Brazza – nenhum nome seria mais adequado – mais parece uma ode ao racismo, além de ser um anacronismo absurdo. Rap de mensagem como faz o Fábio Brazza realmente nunca, em hipótese alguma, deveria ser levado em consideração, por dois motivos: 1. porque a mensagem é chinfrim e mal embalada artisticamente, 2. porque toda e qualquer música transmite uma mensagem.
As boas novas que esse Cristo branco e burrinho tem pra oferecer à cultura hip hop será sempre bloqueada por um motivo simples: “Você é branco, Brô”. E além de branco, playboy emulando um pseudo conhecimento universitário que em nada acrescenta a quem deve receber a mensagem. A música do Fábio Brazza é o lamento dos bem nascidos, dos que acreditam piamente que possuem algo a acrescentar, mas que infelizmente é um pastiche de si mesmo. O Flowzinho do Tyga dá um passo a frente nessa ridícula trajetória, pois talvez acrescente um racismo escancarado que é impossível esconder.
Na track, ele faz uma sequência de perguntas que envolvem o racismo reverso sofrido por ele mesmo (?) e consequentemente à sua não aceitação ou sucesso na cena. A resposta é muito simples e ligeira: “Não mano, num rolê com nós cê não vai”.
Fala feio e mora longe, não me chama de mano
E aí, brother, hey, uhuuul! Pau no seu aaai!
Serio que o Fabio Brazza toma enquadro dos gambé? Andar de chinelo a gente anda nas cadeias! A gente nasceu de chinelo, parcelar na C&A para muitos de nós é luxo, tomar catuaba? ah para. Há aqui uma apologia da pobreza que se contrapõem a busca por uma vida melhor, e um nível de ostentação que quando os pretos conseguem é problemático sim, mas que não é necessariamente danoso. O fato é que vendo tudo e pensando um pouco, percebemos que Fábio Brazza é muito ruim como artista, as ideias são rasas, o flow é desprovido de originalidade, fazendo trap de mensagem então piora tudo. O rap BR, tem vários brancos que representam grandão e que são parte da nossa história quando não são mestres do gênero, mas vomitar racismo reverso para conseguir views?
Tá bom, você conseguiu, mas esse foi um dos textos mais fáceis de fazer, e sendo assim, vamos deixar aqui um dos versículos que ilustram a matéria e que talvez explique melhor, tudo que foi dito acima, sobre o clipe:
-Se liga Fábio Brazza, num rolê com nós você não vai!
Por Danilo Cruz