Santana – III

Quando um grupo tem uma ascensão meteórica, calcando sua cozinha em uma sonoridade muito diferente e complexa, o normal é que (se a banda tenha sucesso), esta dita ”trama revolucionária”, seja explorada ao máximo.

Só que existem alguns grupos que não se acomodam (ou acomodavam) com o sucesso ”estável”, queriam buscar reconhecimento e o queriam sempre da maneira mais audaciosa musicalmente falando. Experimentando, encerrando um ciclo e indo para outro, outro e assim sucessivamente. Não importa o resultado, o foco é a relevância, são as novas tendências e sonoridades dela, sempre ela, a música.

Quando Carlos Santana adentrou o festival de Woodstock, o guitarrista alastrou sua onda de Peyote pelo festival e ainda ousou culminar a Jam com seu swing latino. O mundo viu que se tratava de algo especial e sentindo o momento, sua banda prontamente atendeu o pedido com seu debut autointitulado, LP que fora lançado ainda no mesmo ano do festival, o homérico e estelar 1969.
Deu certo, o disco vendeu muito bem e colocou os caras no mapa dos principais circuitos de shows, mas agora que a banda tinha tempo, era necessário afirmar tal qualidade e potencial. E para tal, o ápice criativo veio a tona um ano depois (em 1970), com ”Abraxas” e culminou naquele que encerra esta fase puramente ácida e cigana do grupo, o instrumental riquíssimo e arisco de Santana III e sua ”Woodsrock Experience”, lançado em 1971.

Line Up:
Carlos Santana (guitarra/vocal)
Greg Errico (percussão)
Thomas ”Coke” Escovedo (vocal/percussão)
Gregg Rolie (teclado/piano/vocal)
Neal Schon (guitarra)
David Brown (baixo)
Michael Shrieve (bateria/percussão)
Luis Gasca (trompete)
Jose ”Chepito” Areas (bateria/percussão)
Mario Ochoa (piano)
Linda Tillery (vocal)
Mike Carabello (vocal/percussão)

Track List :
”Batuka”
”No One To Depend On”
”Taboo”
”Toussaint L’Overture”
”Everybody’s Everything”
”Guajira”
”Jungle Strut”
”Everything’s Coming Out our Way”
”Para Los Rumberos”

Esse disco fecha um ciclo em vários sentidos da vida do Santana setentista, Santana banda como um todo e Santana, Carlos, o guitarrista especificamente. Primeiro que esta bolacha marca o fim da formação Woodstock e marca o início das experimentações puramente Jazzísticas.

Segundo que se afastando desta cozinha mais fervente e intensa, o guitarrista abre novos panoramas musicas para si mesmo, trazendo novos instrumentistas e produzindo ótimos discos com os mesmos. E a quadra ”Caravanserai (1972), ”Welcome” (1973), ”Love Devotion Surrender” (junto com McLaughlin) e ”Borboletta” (1974) falam por si só.

Esse trabalho é o melhor desta fase para este que vos resenha, pois no primeiro, tudo foi feito muito rápido. Mesmo com um resultado excelente. Em ”Abraxas” a criatividade é fora do comum e boa parte dos principais clássicos estão lá, mas aqui a banda estava mais madura, Santana e toda a crew extraem EXATAMENTE o que queriam de seus respectivos instrumentos e quem escuta esse trabalho sente isso.

A mudança era inevitável, ou banda ia morrer com o mesmo som e acabar produzindo músicas iguais umas das outras, ou rumaria para outra cozinha, seja ela qual fosse. Sendo o Jazz o ritmo escolhido, o único jeito era fechar o estrelato desta época com uma compilação faiscante de improvisação, por isso, ”Salpica Mami”!

Perceba o inevitável meu caro, esse disco fecha uma era e o faz com requintes de crueldade. Note o baixo em completa harmonia com a paercussão e os riffs de Carlitos em ”Batuka”. Perceba o desenvolvimento dos temas, a profundidade… Não dava pra ir além disso, por isso temas como a aérea ”No One To Depend On” e o caldeirão concetrado de ”Taboo” regem a experimentação final. Sempre adicionando vocais mais marejados, fritando com velocidade (”Toussaint L’Overture”), muita percussão (”Everybody’s Everything”) e muita salsa para selar o pacote.
O destinatário era o Jazz, gênero que absorveria toda a atenção do mexicano dai pra frente, logo, ao escutarmos guitarras com toques aparentemente ”novos”, como na panela de pressão de ”Guajira” e ”Jungle Strut”, sentimos uma leve inclinação dos próprios músicos para com o estilo, pois encarem os fatos, ir para Funk não abriria tanto o leque. ”Everything’s Coming Out our Way” mostra isso, fora que a overdose de John McLaughlin que Santana estava administrando não ajudava muito, ele precisava sair desse ambiente, precisava ”latinizar” sua própria Mahavishnu Orchestra.

Peço apenas que o senhor não fique bravo companheiro, assim como esta fase, o pico Jazz também passou, com a diferença que as raízes voltaram. Cinco anos depois, Carlos viu que seus fãs estavam um tanto quanto descaracterizados com esta sonoridade, por isso o guitarrista veio com ”Amigos”.

O disco que parou de alienar os fãs que não eram muito chegados ao Jazz e fidelizou os antigos. Relembrando o bom número de vendas do começo dos tempos, teses mercadológicas que mesmo com belas críticas em tempos de ”Caravenserai” e ”Borboletta”, não fizeram as platinas voltarem para a parede, nem as rádios tocarem temas deste inspirado tempo que se encerrava com ”Para Los Rumberos”.

III:

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