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Salsalitre, um clipe que já nasce andando

Salsalitre, música do álbum Agogô da Ivan Motosserra levou três anos pra se transformar num clipe malicioso, cheio de swing e sensualidade.

Antes de mais nada precisamos lembrar que o clipe de Salsalitre começou sua fase de criação e produção antes do lançamento do álbum Agogô em 2018. São 3 anos desde o processo de concepção, gravação, edição, montagem, etc. De lá pra cá a banda passou por diferentes formações.

Contudo, sempre com os irmãos Gagliano, Rodrigo (bateria) e Rogério (guitarra), como a base fundamental da banda. No clipe, Gabriele Souza empunha o baixo. Aliás, a baixista é membro original da banda e participou de toda caminhada da banda desde sua origem até o lançamento de Agogô. 

Uma das principais características da concepção estética da banda é o referencial vintage. Nesse sentido, a Ivan Motosserra funde elementos dessa categoria com outros mais atuais. Vemos isso no clipe, que mostra a banda indo para uma apresentação. Para chegar ao local onde o som vai rolar, um fusquinha bege é usado como meio de transporte.

Os caras vão tirando os instrumentos do fusquinha e levando para o local que vão tocar: a beira da piscina de um hostel no território dos caras, Itapuã. Eis que a banda aparece tocando com a piscina ao fundo, os hospedes se deliciando no frescor de suas águas. A montagem feita por Rodrigo Gagliano intercala diferentes cenas até chegar ao clímax do clipe. Mostra situações distintas, a banda chegando pra se apresentar, dos caras tirando os instrumentos do carro, dos caras verificando o óleo do fusquinha, tudo isso girando em torno das cenas que amarram tudo mostrando a banda tocando.

Antes de falar do clímax do clipe vamos trocar aquela ideia sobre Salsalitre. Trata-se de uma música que nos leva por diversas ambientações. O faz através das mudanças rítmicas, das diferentes ornamentações usadas pelo conjunto instrumental, pelas inúmeras camadas sonoras presentes ao longo dos pouco mais de 4 minutos de sua duração. Todavia, essa diversidade de elementos poderia levar de fato a certa bagunça, porém a banda foi certeira na elaboração dos arranjos, na costura desses elementos e na dosagem de seu uso. 

Juntamente com isso, existe ainda outra característica fundamental para entender toda potência dessa música. Refiro-me ao cuidado dispensado à expressividade. O uso bem feito das dinâmicas de modo a criar efeitos sonoros em diferentes partes da música. A meu ver, contribui para que Salsalitre ganhe esse grau de excelência. 

Na introdução Rogério usa o que alguns guitarristas chamam de pica pau, que consiste no dedilhado pontual das cordas fazendo as notas soarem secas. Ouve-se apenas a guitarra, cujo dedilhado vai explorando diferentes alturas das notas gerando uma tensão no ouvinte. A partir de então, este passa a ter a sensação de que algo irá acontecer. Diga-se de passagem, essa sensação é fundamental par ao clímax do clipe. 

Sem frustrações, a sensação é confirmada, algo acontece, ouvimos o toque dos timbales feito por Rodrigo, despertando de imediato o swing da salsa. Logo depois é dissipado pela marcação forte do baixo e da batera que constroem a base de fundo para que a guitarra realize suas funções melódicas.

Destaque para a participação de Tadeu Mascararenhas que explora bem o timbre sombrio do órgão Palmer X22, construindo arpejos ao fundo, imprimindo diferentes intensidades a esta parte da música. O uso de um efeito, que me parece algo próximo ao chorus, enfatiza certas passagens, dando caráter dramático à música.

Do mesmo modo, temos que destacar a brilhante e inspirada de Adriano Vaz como organista canastrão. Atuação que não apenas reproduz os movimentos do organista sob as teclas de seu instrumento, passando em todas as suas cores, a sensação de se estar diante de um instrumentista legítimo. Mas também, uma atuação que transmite a canastrice do personagem muito bem alimentada pelo clima criado pela execução do órgão feita por Tadeu Mascarenhas. 

Voltemos a falar da música. A repetição dessa primeira parte da música, feita com mais ênfase, funciona como uma preparação que nos leva a uma ambientação mais leve.  Usando ritmo mais cadenciado e dedilhados explorando notas esparsas, resultando na leveza que precede o turbilhão prestes a estourar.

Baixo e bateria assumem o protagonismo e uma onda de graves toma conta da música, sendo entrecortada por arpejos rápidos da guitarra e os acordes longos do órgão. Após esse interlúdio, tocam uma vez mais a parte da marcação e aí chegamos à explosão orgástica dessa música.

De repente o som abre, a sensação que dá é de chegarmos em um lugar descampado, aberto, onde há liberdade para se movimentar. Exatamente isso o que ocorre, pois entra o solo do órgão que fica livre pra se locomover pelos espaços gerados pelo campo ritmo/ harmônico gerado pela guitarra, baixo e bateria.

Desta forma a banda vai aumentando a intensidade dessa sonoridade a cada segundo vencido. Ao fim do solo do órgão, a guitarra entra numa selvageria absurda, desembolando um solo cheio de bends licks bem acentuados, que se dissipa repentinamente e chegamos ao momento sublime.

Aos poucos a suavidade vai dando lugar ao swing e de repente estamos sob os movimentos sensuais de uma salsa quentíssima. Cujo balanço contagia nos fazendo um verdadeiro convite ao prazer. Precisamos ressaltar a importância do uso das congas e timbales nesse trecho. Suas acentuações rítmicas enfatizam a sonoridade caribenha, deixando marcante sua presença, fazendo o contraponto com a guitarra, órgão e baixo.

Chegamos às condições para que seja desembolado o clímax do clipe. A câmera foca a piscina, opta-se por uma tomada em câmera lenta. Imediatamente somos levados a esperar que uma bela e sensual modelo surja aos poucos. Expediente já batido em peças publicitárias, filmes, clipes, etc. que exploram e objetificam o corpo feminino. 

Entretanto, somos surpreendidos, pois aos poucos o que a cena vai revelando é algo mais parecido com o Monstro da Lagoa do que com a Isadora Ribeiro na icônica abertura dos anos oitenta do Fantástico. Ivan sai da piscina e assume a frente do palco iniciando sua dança sensual ao som da salsa envenenada da banda.

A partir daí o clipe passa a girar em torno da performance de Ivan. Até mesmo esquecemos que tem uma banda ali, atrás dele. O dançarino rouba a cena. Temos que fazer mais um destaque nesse clipe. O entrosamento ordinário entre Ivan e Adriano muito bem captado pela câmera quando Ivan passa dançando atrás do organista. A dupla consegue transmitir muito bem o clima faceiro da música através de seus movimentos sedutores.

Foi uma espera longa, mas vocês podem ver que valeu a pena. 

 

Ficha Técnica:

 

Direção de fotografia e imagens por Adriano Vaz
Edição por Rodrigo Gagliano
Música do disco “Agogô”, gravado, mixado e masterizado por Tadeu Mascarenhas, no estúdio Casa das Máquinas em 2017.
A banda nessa época era
Rogério Gagliano – Guitarra
Gabriele Souza – Baixo
Rodrigo Gagliano – Bateria
Ivan, o Motosserra – performances dançantes.
Participação de Tadeus Mascarenhas no orgão.
Dublador de organista: Adriano Vaz.
Filmado no terraço do Hostel Salvador (cenas com a banda) e na praia de Itapuã (cenas com o Fusca).

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