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Roger Waters faz da turnê Us + Then uma arma de combate ao neofascimo

O forte teor antifascista do show de Roger Waters em Salvador deixou os apoiadores de Bolsonaro caladinhos, paralisados diante da intensa manifestação contrária ao que representa aquele a quem  consideram”Mito”.

Grande parte dos fans do Pink Floyd presentes aos shows do Roger Waters em São Paulo tiveram ataques histéricos quando descobriram, em pleno show, que a tradução para o português de Another Brick The Wal, nada tinha a ver com a versão feita pelo cantor Falcão (Atirei o Pau no Gato) para o clássico da banda.

O trauma foi grande ao tomarem consciência de que as letras das faixas do cultuado álbum The Wall (1979) tratam de questões políticas, e assumem posições à esquerda, uma vez que denunciam a opressão e exploração das elites financeiras sobre a classe trabalhadora mundo afora.

Aqui no Nordeste a coisa foi bem diferente. O show de Roger Waters em Salvador levou o público a gritar em uníssono e a plenos pulmões “Ele Não!!!”. Foram vários os momentos em que Waters levantou a bola para que o público cortasse.  Caso houvesse fascistas presentes na Arena Fonte Nova, estes se recolheram a sua covardia, como sempre fazem quando não estão em grande número, e ficaram pianinho.

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A turnê Us + Them assume claramente uma postura de combate à onda neofascista que assola o mundo. As imagens exibidas no telão de líderes mundiais representantes dessa vertente da extrema direita, ilustraram bem o conteúdo da letras e a mensagem transmitida pelo show. Talvez por isso o público em São Paulo tenha ficado dividido nos shows que rolaram por lá.

Grande parte das músicas que compõem o setlist do show são dos 3 álbuns mais populares do Pink Floyd, Dark Side Of The Moon (1973), Wish You Are Here (1975) e The Wall (1979). Contudo, não se tratou de um “Baile da Saudade”, como geralmente acontece em turnês de ex-membros de bandas mega consagradas.

Isso porque o show de Roger Waters segue uma linha temática estabelecida pelo álbum Is This the Life We Really Want?(É Essa a Vida que Nós Realmente Queremos?) lançado em 2017 e que dá o teor da crítica política da turnê. Desse álbum foram executadas Dejá-Vu, The Last Refuge, Smell The Rose e Picture That.

Não por acaso as faixas Dogs e Pigs, do fenomenal Animals (1977), entraram pro setlist do show. O repertório contou ainda com a faixa One of These Days do álbum Medley (1971).

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Sempre gostei do Roger Waters devido ao fato de não ficar em cima do The Wall, no que diz respeito à política. A inquietação do músico com relação à exploração e opressão direcionada às pessoas através de seus governantes, o levou ao conceito por trás do álbum The Wall (1979). Posteriormente, transformado em opera rock com performances ao vivo da banda, contando com todo aparato cênico e teatral necessários às exigências dessa empreitada, que geraria ainda a aclamada versão cinematográfica do diretor Alan Parker.

Esse mesmo conceito criado por Waters em The Wall foi aplicado ao show da turnê Us + Them.  Dessa vez para combater o neofascismo, cujo principal representante, ao menos aos olhos de Waters, é Donald Trump. Certamente faria mais sentido se fosse estampada no telão a a versão do Trump que temos por aqui .

Acredito que muitas pessoas, assim como eu, ficaram ansiosas, invadidas pela expectativa de que em algum momento da música Pigs, a imagem devidamente caracterizada de Trump como um porco, recebesse a devida contextualização à atual realidade política brasileira, e o rosto do “Mito” substituísse o do presidente estadunidense.

Embora frustrados por essa expectativa não ter sido correspondida, fomos devidamente recompensados ao final de Another Brick The Wall. Os adolescentes do Projeto Axé, representando todos os oprimidos pelo neofascismo, emocionaram o público presente na Arena Fonte Nova ao fazerem o icônico coral da mais famosa música do Pink Floyd.

Elxs entraram no palco em fila, marchando, tal qual no famoso videoclipe. Trajavam macacões laranjas, simulando aqueles usados por presidiários e com a cabeça coberta, tal qual ocorre com presos políticos e de guerra em Guantánamo. Seus rostos foram revelados momentos antes do início da parte do coral, quando então começaram a cantar.

Ao final da música o telão clamava em inglês, RESIST, por resistência. Retiraram seus macacões laranja e revelaram o peito onde estava estampada a palavra RESISTIR. Enquanto o solo de guitarra era executado xs adolescentes dançavam e sorriam, expressando em suas faces, através de seus corpos a liberdade para saírem da coreografia e se manifestarem espontaneamente. 

Durante o intervalo do show o telão passava mensagens antifascistas, convocando as pessoas para o combate ao neofascismo. Num dado momento do intervalo a denúncia dos principais representantes dessa vertente opressora. Estavam lá, estampados no telão, os nomes de Trump (EUA), Le Pen (FR) e Farage (UK). Alguém ficou de fora. 

Em São Paulo o nome do “Mito” figurava entre os demais ilustres representantes do neofascismo, citado como o representante dessa vertente política aqui no Brasil. Porém, em Salvador foi adicionada uma tarja com a frase “ponto de vista censurado” onde deveria estar o nome do “Mito”. Como bom militante antifa, Roger Waters deu seu jeito de usar a censura contra os censores.

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Roger Waters guardou para o final a mais impactante manifestação contra o neofascismo apresentada durante o concerto. Perto do término do show surgiu no telão a imagem de Mestre Moa do Katendê. Uma homenagem poderosa ao mestre de capoeira brutalmente assassinado aqui em Salvador no dia 08 de outubro. Simplesmente por ousar se manifestar contrário ao “Mito” diante de um de seus eleitores.

Roger Waters leva seu manifesto político musical antifascista para a zona de maior força do bolsonarismo, o Sul-Sudeste do país. Para em Belo Horizonte (21/10),  depois segue para o Rio de Janeiro (24/10), Curitiba (27/10) e Porto Alegre (30/10). A recepção por aquelas paragens será menos calorosa. Certamente mandarão Waters para Cuba, ou melhor, de volta para onde foi melhor recebido, no Nordeste. Pois aqui, somos a maioria na luta contra o fascismo, temos Roger Waters como um aliado, não como o inimigo a ser combatido. 

Abaixo disponibilizamos o setlist do show, uma lista das músicas que fazem parte da atual turnê de Roger Waters. A playlist foi feita pelo portal de entretenimento Omelete. 

Galeria de imagens do show

(Fotos: Jairo Neves)

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