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CD's, Richie Kotzen

Richie Kotzen – Cannibals

A música Pop deveria ter um subgênero. Falando assim pode-se concluir que a miscelânia de vertentes sonoras no ”mercado” não seja o suficiente, mas proponho está ideia por um fator simples e contundente, hoje existem dois tipos de música Pop: A tocada e a sampleada. Reparem nessas Kate Perry’s da vida que você encontra todo mês na internet, você acha mesmo que elas tocam algum instrumento no estúdio? 
Por favor, elas não deve nem escrever as músicas! Não devem adentrar o antro das gravações e começa a dedilhar riffs, nada disso, a gravadora monta um esquema e já surge com a banda. Eles elaboram algo na linha do que elas produzem e fim de papo, isso quando realmente tocam alguma coisa, no geral são samples safadas com um instrumental de base no backstage.
E isso realmente precisa ser desvinculado da música Pop verdadeira, aquela com caráter realmente musical, relembrando os tempos de ”Pop perfeito” do Steely Dan, as vezes até sem pretender tocar nas estações, mas se mostrando plenamente hábil de fazê-lo e diferente do resto de lixo recopiado que cirula por aí, algo puramente musical.
E nesse quesito creio que o Richie Kotzen seja um dos nomes mais fortes para estimular essa rachadura dentro do segmento mais apoiado da indústria. Esse cidadão fez de tudo, passou pelo Jazz, Funk, Soul, Hard, Heavy, Blues, algo mais clássico… Só falta pintar de Prog e começar a arranhar música brasileira! E dentro de seu vasto leque guitarrístico o lado Pop sempre se aflorou em certos momentos, e que orgulho disso! Por que o americano deixa claro que não existe problema nisso, o problema é música de péssima qualidade.
E isso definitivamente não é seu caso. Músico absolutamente criativo e produtivo, Richie já passou das 20 gravações solo, fora contribuições e a mais recente união com os Winery Dogs. Experiência? Vazando pelo ladrão, e os últimos 4 anos em especial foram realmente recompensadores para o guitarrista, vocalista, baixista… Ele realmente exala musicalidade!
O Winery Dogs deu muita (e merecida) popularidade para um dos maiores nomes da guitarra. E não importa o que digam, o Winery Dogs é a cara do guitarrista. O Mike Portnoy é um músico fantástico, assim como Sheehan, mas o DNA do Winery Dogs surge da guitarra e da voz do frontman. 
Só que a história é outra quando ele se concentra em seus discos solo. E o trabalho foi tanto nesses já citados 4 anos, que só em 2015 o músico arrumou tempo para seguir com suas inclinações nessa aresta. Sendo que ”Cannibals”, lançado dia 08 de janeiro, além de se aproveitar do furor do Winery Dogs, mostra como esse cara é alheio ao que acontece ao seu redor. Sua criatividade rema para todos os lados e ele sempre chega a algum lugar.
E é bem provável que ele seja um dos reponsáveis por um dos melhores discos Pops deste ano, seu vigésimo quarto disco de estúdio esbanja talento, criatividade e Funk, dentro uma época onde a música eletrônica virou o instrumental de praticamente toda uma vertente, logo, creio que Richie seja bom demais para se misturar com essa gentelha. Sua música segue com um feeling estupendo, seus dotes de multi insturmentista seguem excelentes e além de moer a guitarra e arrepiar na voz, o groove do quatro cordas come solto, com seus exemplares de baladas sempre açucaradas.

Track List:
”Cannibals”
”In An Instant”
”The Enemy”
”Shake It Off”
”Come On Free”
”I’m All In”
”Stand Tall”
”Up (You Turn Me)”
”You”
”Time For The Payment”

Pra abrir o disco o músico já mostra que nesses últimos anos têm dividido a cama com um baixo (seguindo a linha de raciocínio de Keith Richards), mas sem necessariamente trair a guitarra. O groove da faixa título embala numa pegada Funk/Soul que deixa muita banda do segmento no chinelo e a na hora de solo a virtuose confirma que a guitarra sempre esteve na cama do guitarrista, trata-se de um relacionamento aberto!
E quando se inaugura um disco ao frio na barriga vai pelo ralo, veja só a técnica despreocupada de ”In An Instant”. A batera segue mantendo a pegada do som, o swing prevalece e a timbragem dos instrumentos segue tão limpa quanto os backing vocals na retaguarda da jam. Mais do que um grande músico e compositor, Kotzen goza de uma tranquilidade criativa que chega a incomodar. 

Notem que ele grava discos direto, anuncia próximo da data, liquida as gravações em duas semanas e o resultado é sempre muito bom. Não tem pressão da indústria, foco em segmentos… Ele vai lá e toca, e se nesse disco o lado swingado ficou mais amostra foi por que ele andou dando uma olhada na discografia do Parliament. Só que as vezes a acidez do Funk abre espaço para um piano apaixonado (”The Enemy”), Apimenta a cozinha do wah-wah com ”Shake It Off” e volta a abraçar o lado Earth, Wind & Fire da vida com ”Come On Free”  e um dos melhores momentos vocais do disco.

Creio que essa faixa seja a atmosfera de trabalho de Kotzen. Percebam que ano após ano seus discos apresentam cada vez menos participações. Ele toca tudo, quer estar a par de tudo, e com isso domina suas composições de uma forma que poucos conseguem, afinal de contas ele gravou todos os instrumentos, só que a guitarra segue sendo o canal que todos anseiam por ouvir e com ”I’m All In” além de bons solos, temos até Doug Pinnick acompanhando o idealizador no projeto na voz. Mostrando que suas aulas com Sheehan deram muito certo, volta com o balanço em ”Stand Tall” (alimentando um órgão ao fundo) e chama seu companheiro de Winery Dogs para os backing vocals.
Poucas pessoas escutam esse cara, mas sinceramente, tenho pena desses desafortunados. Kotzen fez de tudo, ultimamente ele apenas aproveita o que conquistou. E sua música deixa isso bem claro, é fantástico esse sentimento de prazer que ele deixa evidenciado em cada take que registra, desde algo banal como ”Up (You Turn Me)” ou mais íntimo como ”You” (a balada que ele gravou junto de sua filha August), ou o retumbante final do disco com os dotes de viola clássica em ”Time For The Payment”… Muito obrigado pela música Richie, seja ela Funkeada, Hardeira ou Pop como nesse disco… Não me importa, o que vale é esse sentimento que só você agrega e que poucos estão interessados em passar para o ouvinte, sua voz nos brinda com tranquilidade nas baladas, nos faz pulsar com algo mais pesado e marejar com momentos como esse.

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