Repentless mostra que o Reinado de Sangue de 33 anos do Slayer está longe de acabar!
Quando o Slayer anunciou o lançamento de um novo álbum em 2015 exigia-se e esperava-se dos reis do trash metal apenas uma coisa: que Repentless soasse como Slayer. Simples assim. Para o bem ou para o mal isto é o que se espera de uma banda, seja a qual subgênero do metal ela pertença. A dúvida pairava no ar pelo fato de Jeff Hanneman e Dave Lombardo não estarem entre os membros da banda durante a gravação do novo álbum.
O Slayer mantem toda violência de seu som mesmo na falta da agressividade e velocidade da guitarra de Jeff Hanneman, falecido em 2013. Jeff criou os riffs mais pesados do Salyer que se tornaram verdadeiros hinos para os headbangers de todo o mundo. Estão na conta do cara Hell Awaits, Angel of Death, Dead Skin Mask, Raining Blood, dentre outras músicas responsáveis por fundar as bases do trash metal.
Contudo o desequilíbrio do espírito punk mesclado à intuição criativa de Hanneman são incorporados por Kerry King, parceiro de Hanneman nas guitarras do Slayer desde os primórdios da banda. O cara dá conta do recado e segura a onda de assumir a responsabilidade de ocupar o lugar de Hanneman em Repentless. Gary Holt do Exodus foi convocado para assumir as funções de segundo guitarrista da banda, desempenhando seu papel com maestria.
Repentless também marca o retorno do baterista Paul Bostaph após a saída controversa de Dave Lombardo. Essa nova formação deu uma sobrevida à banda, gerando a inspiração necessária para comporem novas músicas. As guitarras de Repentless oferecem o que há de melhor em termos de sonoridade trash metal. Parece que King e Holt tocam juntos há décadas. Andamentos maníacos, riffs extremos, agressão explícita, melancolia raivosa (ouçam Chasing Death pra terem noção dessa última característica). A nova dupla de guitarristas encheria Hanneman de orgulho!
Take Control convoca à guerra num grito de ataque manifestado pela voz de Tom Araya ainda capaz de toda ferocidade de tempos passados. Paradas e cortes precisos são feitos pela dupla King e Holt mostrando entrosamento maior que o trio de ataque do Barcelona. Esses elementos funcionando em harmonia fazem de Take Control uma das principais músicas deste álbum.
Como não podia deixar de ser, tratando-se de um álbum do Slayer, temos a música mais sanguinária do setlist. Fica difícil escolher, já que em maior ou menor grau este tema aparece em todas as músicas. Porém, Vicis possui trechos como este: “it’s a rush you can’t deny /a little violence is the ultimate drug / let’s get high!” que ao meu ver lhe garantem a premiação. Riffs de intensidade atingindo níveis estratosféricos injetam doses de adrenalina direto nos tímpanos do ouvinte, com solo massacrante de Kerry King.
Pra não dizer que não há participação de Jeff Hanneman em Repentless, a música Piano Wire foi composta parcialmente pelo guitarrista. Dá pra ver de cara a mão de Hanneman nos riffs de Piano Wire. São explosões sonoras alternadas por grooves precisos, cujas mudanças são bem orquestradas. Pra quem achava ser impossível substituir Dave Lombardo na batera do Slayer, a solidez e agilidade de Bostaph mostram ser esta uma opinião infundada. Uma das provas disso está em Cast the First Stone. Prestem atenção na alternância nas pedaladas duplas no bombo. O cara dispara uma metralhadora com os pés sem deixar o ritmo cair. Quero ver quem vai ter coragem pra atirar a primeira pedra no cara dizendo ter ficado devendo pro Lombardo.
When the Stillness Comes começa com arpejos de guitarra e timbals marcando uma atmosfera de mistério, invocando as sombras nos sussurros graves e perturbadores de Araya como num ritual pagão. Aos poucos essa atmosfera vai se desfazendo em riffs cadenciados, mas intensos, servindo-se de efeitos crunchy, funcionando bem como ponto de descanso no transcorrer do álbum.
A insanidade retoma seu lugar de direito em You Against You e segue até a última música. Repentless mostra um claro esforço de aprimoramento de uma banda determinada a manter sua posição no cenário musical e continuar sua marcha firme até onde for possível. Essa formação mostra que o Slayer continua em condições de fazer seu som ainda em alto nível. Pra quem gosta de som da pesada, temos aí motivo suficiente pra comemorar.