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Reja estreia na cena com o drill “A Mais Braba” – Entrevista!

Jovem valor da cena sergipana, Reja estreia com um audiovisual pulando como “A Mais Braba” em um drill do VIG Beats!

O nascimento público de artistas independentes no cenário nordestino é algo que precisa de acolhida coletiva, pois representam renovações importantes e necessárias. Em um cenário tão inóspito e que não garante a sobrevivência de veteranos, novos valores precisam ser incorporados, não como mais um e sim como um a mais. É óbvio, que em um contexto de escassez é comum ver as pessoas fingirem não ver, a ausência de investimento impede a veiculação massiva pelo algoritmo e o público termina por não conhecer.

Seguindo uma tradição recente, e coincidentemente, foi graças a Volúpia – nossa agente interna do cenário sergipano – que tomamos contato com a estreia de Reja. Ora, tivemos a honra de termos sido um dos primeiros veículos a noticiar a estreia da Real Bitch e agora ela nos retribui o favor nos apresentando outra talentosa estreia do rap sergipano, no melhor estilo: uma puxa a outra.

Desde os 14 anos compondo e burilando com a música, Reja estréia com um audiovisual da faixa “A Mais Braba”, rimando – e com qualidade – num beat drill produção do mano VIG Beats. Oriunda da região metropolitana de Aracaju, Reja vem da pequena cidade de Nossa Senhora do Socorro, multi talentosa, a artista também é engajada no grafite, um dos importantes elementos da cultura hip-hop. 

Nesta estreia musical, Reja traz uma faixa que aborda algumas questões interessantes, atravessando temas como raça, lealdade/sororidade e traz a sergipana num flow pique metralhadora, encavalando os versos, as punch e as ideias sem nos fazer perder nenhuma sílaba. Clareza na proposta e ideias escurecidas que representam uma visão de conquista, um início de caminho com a visão em 4k.  

O audiovisual, que conta com a direção de Nuna Melo e a direção de fotografia de Elton Rickarty, nos passa a impressão de um book em imagens em movimento, apresentando a artista nesse primeiro momento ao público. Como estratégia nesse primeiro momento, o clipe e a música estão disponíveis no Youtube, com vistas a fidelizar o público e garantir o crescimento do seu canal. Sendo assim, você que diz apoiar a cena e o trampo das manas, já se inscreve no canal da Reja e ativa as notificações! 

Procuramos a Reja para sabermos um pouco mais de sua caminhada, vivências e dos próximos passos da sua carreira, confira abaixo a entrevista:   

Oganpazan – Porque a escolha do drill como beat para essa primeira faixa? 

Reja – Essa letra foi escrita sem usar qualquer beat como referência, estava mais focada na necessidade de externalizar aquelas idéias que estavam dentro de mim, mas assim que finalizei a escrita automaticamente senti a necessidade de colocar em cima de um drill, além do fato de acreditar que seria o encaixe perfeito, a agressividade sempre foi uma característica do meu trabalho e o drill também trás isso. Percebo que ainda que inconscientemente, as pessoas esperam letras, beats, e expressões mais “suaves” vindo das mulheres, mesmo que dentro do RAP, e aí quando aparecem mulheres que seguem uma proposta diferente do que se imagina, as pessoas ficam impactadas sobre algo que deveria ser natural.

Oganpazan – Quais foram suas primeiras influências musicais e hoje o que mais te inspira em termos de música? 

Reja – Me recordo da primeira música de RAP que parei pra ouvir e prestar atenção na letra, analisando tudo até o fim, eu ainda era criança ea música foi “ROSAS” do grupo Atitude Feminina, eu me arrepiava inteira, e ainda me arrepio até hoje quando ouço, e tenho certeza que o fato de ser um grupo feminino teve total influência na maneira de como na minha cabeça sempre esteve certo que eu também poderia fazer aquilo, outras grandes referências foram Racionais, e Nocivo Shomon. O que sempre me inspirou e continua me inspirando é a realidade, as coisas que eu passo ou que eu vejo, a necessidade de desabafo, sempre tive a música como uma espécie de diário, onde eu relatava o que eu sentia ou a minha visão diante das coisas, a diferença é que atualmente eu exponho esse “diário”.

Oganpazan – Reja, você participa da cena hip-hop sergipana, vê alguma importância na cultura? Você acha que o drill é um sub gênero que faz parte do rap? 

Reja – Eu faço parte do hip-hop exatamente por reconhecer a importância que ele tem na sociedade, sempre bato na tecla de que o hip-hop mudou a minha vida, me salvou e me deu a possibilidade de tentar tocar a alma das pessoas da mesma forma que a minha foi tocada, a arte é transformadora, e principalmente pra pessoas pretas e da periferia, nos dá a chance de nos conscientizar, ter acesso a debates, a assuntos que muitas vezes são ocultados de nós, além de nos proporcionar lazer e interação com pessoas como nós. 

Referente ao drill, eu enxergo que sim, os sub gêneros estão se expandindo a cada dia, e os artistas estão na função de produzi-los, tento ir estudando sobre na medida do que posso, sempre existem coisas novas pra descobrir em torno deles.

Reja em ação no grafite

Oganpazan – Conta um pouco de como é o cenário para as mulheres sergipanas no Rap local e na cena hip hop? 

Reja – O que eu digo atualmente é “ninguém nunca vai poder dizer que não há mulheres fazendo Rap na cena Sergipana”. O que difere é a forma como somos tratadas, quem são as pessoas escolhidas pra fazer parte dos eventos, o que esperam do nosso trabalho e de que forma enxergam ele. O ponto é que as minas de Sergipe passam pelas coisas que maior parte das minas da cena de outros estados passam: invisibilidade, exclusão, e muitas vezes desmerecimento do corre. Mas ainda com essas dificuldades, não posso deixar de falar que a cada dia que passa percebo que a gente está botando mais a cara, se jogando pra fazer as coisas mesmo com todas essas questões, e quanto mais mina tem, mais mina gera, estamos usando umas as outras como incentivo pra continuar.

Oganpazan – Na música você aborda a questão da deslealdade entre mulheres, como você vê a questão da sororidade no cenário? União numa cena é algo utópico? 

Reja – Chegamos em uma etapa em que muito se fala sobre sororidade, e acredito que existe algo ilusório dentro dessa questão, o primeiro ponto que me incomoda é tentar colocar mulheres brancas e mulheres negras no mesmo lugar, enquanto “irmãs” que se gostam e se compreendem. A minha vivência enquanto mulher preta não é e nunca será como a de uma mulher branca, existe uma infinidade de coisas que nos separam, e isso deve ser levado em consideração, mas não falo individualmente, isso se trata de uma questão coletiva. Para além da questão racial, vejo que “rivalidade feminina” acabou se tornando em muitas situações, argumento pra qualquer tipo de desentendimento entre mulheres, que é normal e acontece. É preciso entender que temos personalidades diferentes, posturas diferentes e compreender junto a isso, que os conflitos existem. A união dentro do Hip-Hop é essencial, e deve prevalecer, não acredito que seja utópico, mas não podemos esquecer que o Hip-Hop não é uma bolha onde pilantragem e escrotice são incapazes de penetrar. É como a gente costuma dizer por aqui “A vida não é um morango”. 

Oganpazan – Para quem está tomando contato agora com sua música, quem é a Reja? 

Reja – Reja é uma mulher, preta, periférica, e sergipana, que teve sua trajetória invadida (felizmente) pelo hip-hop em um dos momentos mais conturbados e assombrosos da sua vida, precisou reconstruir sua autoestima, e sua vontade de viver, que apesar de amor a música, se bloqueou de expor seu trabalho musical durante muito tempo, e hoje com muita felicidade consegue expor e transportar ele pra vocês, que entende que esse é só o começo, que há um longo caminho a percorrer mas que se encontra com disposição pra contribuir com a cena e levar as letras dela o mais longe que puder.

Oganpazan – Sabemos que apesar de existir um movimento nacional de valorização dos trabalhos das manas e das monas, a mulher preta nordestina ainda precisa romper a bolha da xenofobia, como você vê esse problema? 

Reja – A xenofobia sempre foi algo presente na música, principalmente dentro do RAP, a gente segue firmemente tendo que se reafirmar, bater de frente e mostrar que a gente também faz, que existe cena de rap no nordeste, não é só sul e sudeste. A invisibilidade e desvalorização é presente, a gente tem grandes artistas, artistas incríveis que foram e que vão ser boicotados ou sofrer hate por serem nordestinos, o que a gente pode fazer diante disso é nos fortalecer, consumir mais dos nossos, divulgar mais os nossos, contratar mais os nossos. Uma grande característica nossa é o sotaque, e é algo que sempre que mostrava meus sons pra alguém era motivo de comentário, não mudei e não vou tentar adaptar o meu sotaque aos ouvidos de quem tá acostumado a ouvir um padrão de sotaque, nordeste tá fazendo acontecer e vão ter que aceitar.

Oganpazan –  Outro ponto crucial na sua estréia é a ideia de que quem tem a sua cor entra no jogo pra ganhar porque tem que se esforçar duas vezes mais. Enquanto mulher preta e nordestina, você acredita que a xenofobia por parte do eixo Rio São Paulo, passa também por um recorte racista? E no cenário sergipano, esse racismo se faz presente por parte de produtores de shows, mídia e etc… ?

Reja – É preciso entender que o racismo tem ligação com tudo, desde a grana que a gente tem, até a forma que vão tratar o nosso trabalho musical, e não seria diferente no cenário sergipano. Quando digo que a gente tem que correr mais que dobro, eu não falo só musicalmente, isso está atrelado a qualquer coisa que façamos, pessoas pretas tem se dedicado, dado o seu melhor e feito melhor em diversos aspectos de várias coisas, e maior parte das vezes as maiores referências e influências, principalmente divulgadas pela mídia, são de pessoas brancas que muitas vezes possuem um trabalho inclusive inferior, dentro do rap isso ainda é presente e a gente segue lutando todos os dias pelo reconhecimento que merecemos.

Oganpazan – Quais os próximos passos, o que podemos esperar da Reja em 2022? 

Reja – A mais braba foi o ponta pé inicial, o que tenho em mente pra esse ano é além de alguns singles, um EP, quero que as pessoas conheçam outros lados da minha música, realmente gosto de explorar e fazer o que me sinto confortável, sempre fui muito eclética.

Oganpazan – Se não perguntamos algo que você queira falar, o momento é esse, o espaço é seu, aproveite e deixe uma mensagem para os Oganautas!

Reja – Consumam artistas pretos e pretas, nordestinos, apresentem pras outras pessoas, os contratem!

Para as pessoas que fazem música e não se sentem seguros pra expor, trabalhem isso dentro de vocês, tentem estudar e desenvolver o trabalho de vocês até que se sintam confortáveis e confiantes pra colocar isso pro mundo, mas coloquem! A contribuição da sua idéia pode mudar a vida de alguém.

-Reja estreia na cena com o drill “A Mais Braba” – Entrevista!

Por Danilo Cruz 

 

 

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