Raw Power, controverso e icônico álbum de Iggy Pop, responsável por redefinir a música pop e influenciar gerações posteriores de músicos, completou 50 anos em 2023.
A Revolução Sonora de “Raw Power”
Há meio século, em fevereiro de 1973, o mundo da música testemunhou o lançamento de um álbum que mudaria para sempre a paisagem do rock ‘n’ roll. “Raw Power” de Iggy and The Stooges, causou alvoroço.
Podemos afirmar com firmeza se tratar de um álbum desafiador. Cujo lançamento estremeceu as convenções e as barreiras da indústria fonográfica.
Dessa forma, impôs ao público amante do rock a necessidade de lidar com as inovações sonoras trazidas pelo disco.
Os Stooges, atuaram como uma equipe de demolição no interior de uma indústria fonográfica dominada por bandas de hardrock. Desse modo, a banda preparou o terreno para se erigir uma nova estrutura sonora. Podemos dizer que Raw Power foi a etapa final da construção dessa estrutura por parte dos Stooges.
A parceria entre Iggy e Bowie
Aliás, a banda havia terminado devido divergências entre Iggy e os Ashetons. Meses depois do encerramento da banda, Iggy e Bowie se tornaram mais próximos. O resultado foi um contrato com a Columbia Records para um álbum solo de Iggy Pop.
Bowie tomou frente do projeto, tornando-se seu produtor. Contratou James Williamson para assumir as guitarras e gravar o que deveria ser o primeiro álbum solo de Iggy Pop. Falhando retumbantemente em encontrar músicos para se juntarem ao grupo para gravar o que viria ser o Raw Power, Wiliiamson e Iggy recorreram aos antigos companheiros de banda.
Ron e Scott Asheton aceitaram o convite a contragosto. Muito por estarem sem trabalho e perspectivas. Não fosse isso teriam rejeitado o convite. E assim os Stooges se reuniram mais uma vez. Contudo, os Asheton tiveram que engolir o nome do grupo dando destaque a Iggy. Os Stooges aparecem como banda de apoio em Iggy Pop & Stooges.
Da Incompreensão à Reverência
Entre estes podemos citar Kurt Cobain (Nirvana), Thurston Moore (Sonic Youth), Henry Rollins (Black Flag e Rollins Band), Johnny Marr (Smiths), John Frusciante (RHCP), entre outros guitarristas, além de uma penca de bandas do pós-punk, do metal e do pop também.
Iggy Pop, o carismático vocalista da banda, trouxe uma atitude única para o álbum. Suas letras provocativas e sua entrega incendiária foram um grito de rebeldia contra a apatia da época.
A faixa-título, “Raw Power”, encapsula a natureza crua e visceral do álbum. O faz através de suas guitarras estridentes e um ritmo pulsante. Características ainda marcantes, apesar das cinco décadas transcorridas desde seu lançamento. Por isso mesmo, sua sonoridade permanece com o mesmo brilho e intensidade originais.
O Legado Duradouro de “Raw Power”
Ao longo dos anos, “Raw Power” conquistou uma base de fãs leais e críticos aclamados. Músicos de todas as gerações, de Nirvana a The White Stripes, consideraram a influência do álbum em seu próprio trabalho. Todavia, o estilo distinto da guitarra de James Williamson e da bateria frenética de Scott Asheton são frequentemente citados como elementos que moldaram o som do punk.
A história por trás do álbum também é notável. A produção de David Bowie, que se envolve com o álbum a partir de sua ligação íntima com Iggy Pop, trouxe um toque glam-rock a “Raw Power”, criando uma fusão única de estilos responsável por cativar público e demais artistas identificados com o trabalho de Bowie e Iggy. Assim, as gravações caóticas e a vida intensa da banda durante esse período se refletiram na música, criando uma desvantagem que ressoa até hoje.
“Raw Power” não foi apenas um álbum, mas uma declaração ousada que desafiou as normas e abriu o caminho para o punk e o rock alternativo. Seu legado é evidente nas gerações subsequentes de músicos que ousaram ser autênticos e crus em sua arte.
Por isso mesmo, cinquenta anos após seu lançamento, “Raw Power” continua a emocionar e inspirar. Este álbum icônico provou que a música pode ser uma força transformadora. Indo além do mero entretenimento, sendo um grito de liberdade e uma expressão de rebeldia. Dessa forma, seu impacto cultural e musical perdura, lembrando-nos de que o poder da música é realmente inabalável.
As versões de Iggy e Bowie para o álbum
Um fato interessante sobre Raw Power está na mixagem do álbum. Iggy Pop resolveu entrar no estúdio e fazer ele próprio a mixagem. Isso porque não havia gostado do resultado final de algumas faixas.
Sabendo de mixagem tanto quanto sabia sobre física nuclear, Iggy acabou cometendo um grande equivoco técnico. Jogou a maioria dos instrumentos em um único canal e sua voz em outro, desequilibrando a equalização da sonoridade do álbum. David Bowie, que estava produzindo o álbum e corrigiu os erros de Iggy.
O resultado são duas versões diferentes do álbum. Uma delas, a de Iggy Pop, ficou mais crua, mais suja, mais alta e agressiva. Vocês podem conferi-la aqui. A versão oficial, lançada em 1973, realizada por Bowie ficou mais palatável.
Bowie respeitou as regras de edição, porém, do ponto de vista estético, acabou perdendo a organicidade e visceralidade captada durante a execução das músicas pela banda no estúdio.
Caso você não tenha ouvido uma das versões, fica aí a dica para fazê-lo e perceber as nuances entre a mixagem crua de Iggy Pop e a polida de David Bowie.