A nova geração do rap brasileiro canta o cânone da MPB. Rashid cantando Milton Nascimento, confira o resultado dessa experiência sonora.
O rap nacional segue quebrando todas as barreiras que encontra em seu caminho. Podemos dizer sem medo termos vertentes do rap atualmente fundindo consigo características de outros gêneros musicais. Há quem torça o nariz pra essas transformações, mas é importante que ocorram.
Não compartilho a ideia de que a sigla MPB defina um gênero musical. O fato de termos no Brasil desde os anos 60 gerações de músicos interessados em criar sem se preocupar em em fazê-lo dentro de um formato fez com que cada músico integrasse a sua música gêneros diversos. Chico Buarque tem sambas, bossas, rocks, boleros, blues e por aí vai. Isso gera uma dificuldade na hora de definir o gênero musical ao qual esse compositor pertente. E assim ocorre com a maior parte dos músicos brasileiros.
O rap começa a enveredar por esse caminho. O último álbum do Emicida, bem como os dois últimos do Criolo, são exemplos disso. Há quem diga que Nó Na Orelha e Convoque Seu Buda são discos de MPB. Isso porque o rap é mais um elemento presente nas músicas que compõem esses álbuns. Recentemente me deparei com o álbum tributo ao Milton Nascimento chamado Mil Tom e uma das versões para músicas do compositor mineiro chamou minha atenção. Foi a versão de Tudo Que Você Podia Ser que faz parte de um dos maiores álbuns de todos os tempos, o Clube da Esquina.
Quem canta esta música é o raper paulistano Rashid. O interessante nessa versão é que o Rashid se aventura por esse mesmo caminho que apontamos acima quando citamos Criolo e Emicida, realizando muito bem a fusão do rap com soul-jazz mineiro do Milton Nascimento. Essas experiências mostram todo potencial musical do rap. Jogam por terra os argumentos tecnicistas que desconsideram o rap como gênero musical pelo fato de não exigir domínio técnico-musical dos seus praticantes.
Não quero dizer que isso seja necessário para mostrar que o rap é um gênero musical, ou que seja preciso haver tal prova afim de que o estilo passe a ser música pra valer. Contudo, não podemos deixar de ressaltar termos aí a prova de que assim como o samba e outros gêneros populares, o rap depende muito mais da capacidade de criação e do domínio de técnicas a ele inerentes do que de possuir uma educação musical formal.
Fato interessante é podermos ouvir Rashid se enveredando num ambiente no qual é um verdadeiro forasteiro. Afinal seu habitat é o rap e costumeiramente só temos a oportunidade de ouvi-lo cantando as próprias composições. Olha, pra você que pode estar cético com relação à performance do Rashid nessa nova experiência, vou logo dando o spoiler: como interprete não chegou próximo de ser um Milton Nascimento, mas garanto que se saiu bem melhor do que um Milton Nascimento tentando ser um Rashid.