Grandes lançamentos do Rap Nordeste é uma pequena compilação de seis excelentes lançamentos do interior e de algumas capitais da região!!!
O ano de 2017 tem sido um ano de reafirmação da qualidade do Rap Nordeste. Uma história que há muito vinha sendo silenciada teve os holofotes virados em sua direção. E o que era óbvio tem sido constatado dia após dia em lançamentos de vulto que vem aos poucos ganhando adeptos em outras regiões do país. Nessa virada de semestre já temos trabalhos de grande qualidade lançados, ep e discos cheios. O último deles o grande disco e desde já concorrente a um dos melhores do ano: Roteiro para Ainouz, Vol.3 do grande Don L. Não esqueçamos também que o disco elogiadíssimo do rapper baiano DaGanja, o pesado Bonde 36 (2017) também já apareceu. Ainda aguardamos para esse ano os álbuns de uma turminha pesada como Cintia Savoli (BA), Nego Gallo (CE), Nova Era (BA), Baco Exu do Blues (BA) e do Pertnaz (PB). Isso por que não estamos falando dos ep’s já lançados e a lançar.
Em termos de singles a rapa tem seguido a escala industrial, lançamentos por minuto a invadir timelines. Tenho até medo de saber as estatísticas de lançamentos do rap nordestino. E obviamente com o começo da atenção dada pelo resto do pais ao que aqui se produz, o Rap Nordeste não esta deixando a peteca cair. Nessa corrida – utilizamos a imagem mais tradicional dos nossos vaqueiros nordestinos – quem ganha somos nós. Iniciativas que tem juntado artistas de estados diferentes, grupos e mc’s dos interiores dos estados, produzindo forte.
Se por um lado existe uma inflação brutal de lançamentos, o que nos leva a ter dificuldade de ouvir tudo, existem sempre aqueles nomes que nos calam fundo. Sejam novatos, sejam veteranos, sejam das capitais ou do interior desse continente nordestino, estamos sempre de olho no que vem pintando de melhor. Colaborações entre artistas de estados diferentes, canais de youtube, produtoras tem sido criadas para dar conta desse mercado, ainda incipiente. Esperamos que em breve já comece a existir o que realmente fará com que esse mercado se funde e se sustente, a criação de interação lucrativa entre mc’s de estados diferentes, sendo capazes de fazer turnês nordestinas.
Abaixo temos seis trampos bem diversos em alguns casos, com rappers de locais diferentes da região e alguns temas tratados de forma original. Vejam o que selecionamos pra vocês:
1. Os Alquimistas Estão de Volta
Durante um tempo se cantava: “Os alquimistas estão chegando, estão chegando os alquimistas”, pois já tinha-mos a noticia da volta do trampo desses manos de Aracaju- SE. Agora já pode-se cantar: “Chorava todo mundo, mas agora ninguém chora mais”. Afinal, Fio da Navalha marca esse retorno do Alquimia Solar, com a dupla Saulo Darthayan e Pedro Guaraná destilando ideias transmutáveis, metáforas lisérgicas e uma política alquímica que é a sua marca registrada.
A track gravada e lançada em parceria com a DiCanto Records, é um aperitivo. Por enquanto, os caras soltaram esse lyric com metade dos integrantes para deixar aquele gostinho do que vem pela frente. MKM e Avicena estão em meditações intensas esperando a captação da harmonia das esferas quando ai sim o time vai estar completo.
Uma galera pesada compartilha essa track, Pernambuco (JG/ZN) – Bahia (Salvador), underground rimando absurdos no trap, numa produção muito pesada. Interessante como ao buscarmos mais informações terminamos por nos deparar com figuras importantes que de outro modo talvez não encontrássemos. É o caso do mano Capadolla (Galo de Souza), grafiteiro sinistro, reconhecido internacionalmente e também mc, que já tem um disco lançado. E o mano chega rimando pesado com Biggie N, nome fundamental da rapa de JG (Jabotão dos Guararapes).
Juntando-se a esses manos temos Planeta Máfia (JG) e A Banca Z (ZN), rimando em cima de um beat/mix do soteropolitano Davzera (Beirando Teto) e Lucas Ferraz que também assina a master. Vídeo de Gabe e lyric vídeo de Pita Jr para fechar o time dos insanos da rima e do audiovisual. Líricas afiadas se juntando nessa conexão entre uma rapaziada de Recife que precisa de mais atenção pois tem feito trabalhos muito interessantes. E o Davzera que sempre está “Beirando o Teto” com suas rimas chapadas e com uma pegada bem diferente do comum. Clique nos nomes e tenham acesso aos trabalhos dessa rapa!
Dois grandes nomes do rap nordestino e brasileiro, Galf (AC) que vem do lançamento de seu primeiro disco, a mixtape muito consistente e que precisa ser mais escutada: Fragmentos de Uma Mente Volátil (2016). E Coro Mc, um dos grandes nomes que vem de Fortaleza para se juntar ao baiano mandando muitas ideias reais. Um tema que de algum modo é muito batido no rap, a ideia de que as rimas devem estar em plena harmonia com as práticas e com a vivência dos poetas, encontra nessa dupla excelentes exemplos.
Uma aula de técnica que unida a real caminhada desses dois manos produz um excelente single, uma cartilha grátis disponível no youtube para as novas gerações. Apesar dos rostinhos jovens, os dois juntos já fazem uma boa “história do rap”, são muitas primaveras nessas caminhadas. E mesmo com toda dificuldade que sabemos existir na música independente de modo geral e no rap em particular a independência permanece como o traço mais flagrante no trabalho deles. E é sobre isso que os manos rimam com excelência e de modo real, mostrando também o contraponto da essência hip hop.
O beat, mix e master ficaram por conta de Coro Mc que botou quente numa trapzera cadenciada e elegante, por onde os manos desfilam as rimas. O lyric vídeo teve a arte de Raphael Brito e a edição de Weirdo Warrior. Coisa fina viu, escuta aê!
O interior da Bahia vem surgindo com uma força absurda e o Quinta Esquina é o representante que chega pesado diretamente de Santo Antônio de Jesus (BA). E como se não bastasse trazem nessa track os parceiros do Estados Alterados da Mente, do – a cada dia mais forte – rap de SAJ. E essa junção chega bonita, provando o óbvio, os nossos interiores estão plenos de música de muita qualidade.
Com a produção, mix e master do onipresente Dactes nos Beats, a música versa sobre problemas e soluções encontrados nas caminhadas pelas Ruas do Terceiro Mundo. Aliando com muita coerência e qualidade visão política e poesia underground, a música segue numa espécie de perambulação lírica. E nesse flanar pelas ruas, muito bem captado e produzido pela Maloca Filmes, vamos entrando no clima da letra. Sentido a batida e as dores e alegrias que nós também caminhantes dessas ruas, vivemos. Os manos dos dois grupos abrem a caixa de ferramentas líricas e não deixam por menos, aliterações, multi-silábicas e muitas imagens poéticas interessantes compõe a canção.
Um salve a Santo Antonio de Jesus e aos manos do Quinta Esquina e Estados Alterados da Mente e a todo rap do Interior.
Planos sequências são grandes desafios na produção audiovisual, mas Fernando Baggi produziu um bom exemplo de controle técnico e ao mesmo tempo oferece-nos um correlato bacana para a música. Diomedes Chinaski em Quando As Pineais Se Cansam chamou um bando muito interessante para colar nessa track, Lucas Sang, A Banca Z e Davzera. E é através desses atores que o plano vai deslizando a câmera, captando uma série de versos pesados. Onde todos os Mc’s rimam sobre expansão da consciência social.
Chinaski é talvez um dos únicos rappers do país hoje, que vem chamando atenção para o atual cenário macro político com embasamento e sem medo de se posicionar e novamente ele traz sentenças poéticas pesadas sobre o assunto. Da crise econômica fabricada em que estamos vivendo, até às soluções neofascistas que muitos aderem e propõem, é o momento em que o rap e seus atores mais são necessários. Lucas Sang reforça a necessidade de uma geração contramão, estudiosa da realidade em que vive e através dessa musculação mental, conquistar espaço e dias melhores. A Banca Z traz pesados braggadocios com um força incrível nas rimas, afirmando a necessidade de uma individualidade plena para se compreender melhor o coletivo.
Davzera fecha a faixa produzindo uma cartinha diretamente do eterno, flutuando no espaço anti gravitacional da poesia, entre a critica à violência policial e a observação de alguns aspectos sócio políticos. O correlato visual captado pela Du.Solto Films e acima referido, vem exatamente da ideia da câmera a percorrer o interior de uma casa como se os mc’s representassem um contínuo bem equilibrado das nossas faculdades mentais. A Razão Pura, o Juízo e a Moral unidas e repartidas como cômodos de um todo cerebral. Chamo isso de música, aqui chamo de rap e áudio visual de altíssima qualidade.
Produção: Zaia
Captação : Vinew Records
Mixagem: Lucas Ferraz e Davi Nadier
Masterização: Lucas Ferraz
Apoio: Stax Supply
O NSC é gangueragem pesada mas não abre mão de cantar as belezas de sua cidade, seja o seu amor pela quebrada do Reginaldo, seja – como no caso aqui – as belezas das praias de Maceió. Alex e Carol Mc rimam num trap produzido por CH e Quinze, sobre as diversas possibilidades e curtições que as areais das praias nordestinas nos oferecem. O desanuviar dos problemas, o apreciar das belezas e o desfrutar da natureza. A cervejinha gelada na beira mar, o beck pra contemplar a vista, são prazeres que são inclusive acessíveis a rapa de nossas favelas.
E os elogios às mulheres alagoanas estar presente inclusive pela postura corajosa de Carol Mc, cantando desde de sua perspectiva lésbica. As criticas não faltam, pois mesmo pra curtir é preciso ter consciência. e nesse sentido, há a incitação a preservação ambiental. A produção do vídeo clipe ficou por conta de Ronaldo Moisés e Quinze. NSC – Neurônios SubConsciente sempre tem proposto visões que diferem do comum, pontos fora da curva do que o rap esta acostumado, apesar de se manterem firmes em suas criticas sociais. Um grupo de renome dentro do rap nordestino e que precisa ser mais escutado também!