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Rap e R&B do norte ao sudeste no audivisual, com muita qualidade!

Rap e R&B do norte ao sudeste, com muita qualidade e diversidade traduzida em sotaques e estéticas diferentes, um pequeno 3×4 em movimento!!

O fato é que quando você se dá conta da febre unificadora dos “criticos” eleitores das estrelas da nossa música, você se cura e percebe que aquilo que eles elegem e impulsionam como nacional é na real uma selfie. O pseudoretrato que eles colocam em evidência, é na real um retrato do próprio umbigo, um autoretrato do próprio gosto e muitas vezes de preferências pouco pesquisadas e ou refletidas.

O Brasil é um continente e qualquer recorte é um breve 3×4. Porém independente disso, eles se fazem necessários, são importantes quando não são excludentes e quando buscam deixar claro que o que está sendo apresentado é um pedaçõ do grosso da produção.

Dito isso, trazemos aqui alguns produtos do audiovisual da música rap e r&b feita em nosso país. De norte ao sudeste, temos aqui excelentes artistas e produções variadas para quem quer conhecer novos sabores, para quem quer valorizar grandes nomes pouco conhecidos ou ainda para quem quer expandir seus gostos. Vamo lá!

Thaís Badu

Acompanhamos de perto o trabalho da Thaís Badu há algum tempo e ficamos bastante contentes que essa preta de Belém venceu o edital da Natura Musical e no ano que vem vai soltar seu primeiro disco cheio. Aqui, essa mana que desfila linhas fortes em qualquer estilo que você meter, que esbanja arrojo e técnicas variadas em seu repertório, foi a convidada do Pitiú Sessions. Excelente projeto que visa visibilizar os artistas locais, com produções audio visuais de muito bom nível.

A cena de Belém como já falamos por aqui algumas vezes é uma cena muito rica quando se trata de rap, e assim como toda a região norte guarda excelentes artistas. Talvez a Thaís Badu seja uma das mais completas, dona de um bonito timbre vocal é fácil perceber o seu jeito de corpo em qualquer beat lançado, e aqui nessa produção do GBM Trap City, vemos isso muito bem. A preta rima, canta, e vai com tranquilidade se adequando poeticamente ao Trap e as linhas de um ragga no meio da música com muita naturalidade. Desde já um dos discos mais esperados do ano que vem, Thaís Badu promete muito. Vida longa a Pitiú Sessions, uma das excelentes janelas do audiovisual do norte!   

Nego Gallo

Fechando o ano em alto estilo, Nego Gallo que lançou no começo do ano o seu primeiro disco: Veterano (2019), chega num clipe metendo dança e passo no melhor estilo das favelas de Fortal. Um dos melhores em atividade no Brasil é também um mano que é real até o tutano, e não poderia ser diferente. Nego Gallo segue nas trincheiras combatendo o bom combate, não apenas na música. Nego Gallo é arte-educador e uma inspiração grande para quem sabe quer ser hip-hop vai muito além de rimas.

A faixa escolhida é certamente um dos pontos altos do disco, Onde há fogo, há fumaça recebeu um clipe animado dirigido por André Maleronka, Don L, Felipe Larozza. e o beat é do Coro Mc. Um single, agora em audiovisual, que condensa muito bem toda a força dessa estréia de um dos nossos mais velhos na cena, um griot vindo das ruas da capital cearense, com muita vivência e muita arte. 

Bella Kahun

Um deliciosa descoberta, Bella Kahun, pernambucana de Garanhuns soltou esse clipe que fomos ver desprentensiosamente e ficamos admirados! A voz é bela e rapidamente nos damos conta que estamos diante de um talento que também compõe muito bem. A artista nos traz um novo frescor diretamente de Pernambuco para o R&B nacional. PE SQUAD na casa, e se tomarmos o Luiz Lins membro da gangue como referência já sabemos de antemão que nada de ruim vem daí e já começamos a imaginar o que seria um disco colaborativo em parceria.

A direção do clipe ficou por conta do grande Rostand Costa e o roteiro é do Rafael Gaijin, essa dupla conseguiu o feito de num clipe de baixa de produção produzir uma peça fora do comum. A estética do audiovisual dialoga e expande as percepções sugeridas na composição da Bella Kahun que se erige em mais um beat marcante do Mazili. A jovem cantora e compositora de apenas 18 anos, chega ao seu terceiro single pela PE Squad e já mostra que além de tudo atua muito bem. O roteiro muito bem elaborado a capta entre beijos e choros, e nos apresenta esse novo potencial do single que foge dos padrões heteronormativos tão comuns no R&B, jogando-o a uma outra esfera. Fiquem atentos a essa mina e a essa gang. 

Jeferson Devon feat. Senpai & Dactes

Jeferson Devon é um dos jovens valores do rap baiano, localizado na capital e oriundo do grupo N’Ativa, acompanhamos sua caminhada desde o começo profissional do extinto grupo. Agora o Mc começa uma caminhada solo, porém como bem quer o espirito hip hop, aqui ele aparece num audiovisual dirigido por ele próprio e por Daniel (Ontheline Studio), num beat produzido por Dactes, que também cola nas linhas. O beatmaker e Mc Dactes é um parceiro de longa data do Jeferson Devon desde o tempo do grupo acima mencionado. Hoje também em carreira solo e comandando o Na Calada Rec. um dos estúdios mais renomados da cidade. Fechando a trinca de Mc temos Senpai (Underismo), que por sua vez também vem construíndo uma bonita caminhada na cena, seja com o seu grupo, seja em tracks solo e participações.

São três jovens artistas multi talentosos inserido num capitalismo doentio onde o ter e o ser se confunde para muitos mas não pra eles. Como muito bem colocado em diversas linhas ao longo da faixa, eles possuem a consciência da necessidade de inverter a equação. Não é ter para ser, é o ser que sendo pode conquistar algo que não tem preço: valores como a liberdade por exemplo, mencionado por Devon. Estão aqui alguns nomes para vocês acompanharem de perto.

Netto Galdino e Clara Castro

Caravelas no extremo sul da Bahia deu a luz a esse mano que vem se desenvolvendo na arte de produzir, escrever e cantar e agora Netto Galdino convidou a Clara Castro para um parceria aka feat, onde a dupla reflete sobre o amor como fruto de relações que deveriam ser inicialmente passageiras. O resultado é essa música, OLX numa pegada trap e r&b com muito apelo pop onde a dupla reflete sobre as relações na contemporaneidade.

O audivisual filmado numa belissima praia apresenta a dupla transformando em canto o desejo de se desapegar daquele lance que deveria ser rápido. Em tempos de usufruto livre dos desejos facilitados pelo contato on-line através de aplicativos, a dupla Netto Galdino e Clara Castro, propoem uma reflexão em chave pop. A produção do Netto é envolvente e casa muito bem com os tons e as linhas melódicas dos dois, o audiovisual coloca-nos um contraponto, pois apresenta os dois em uma linda paisagem como num conto de fadas. Mas ao mesmo tempo, a letra problematiza esse desejo de relações volateis e a constatação de que algo ficou. Vale a pena ver, ouvir e pensar!

“808” do Aldeia Records (Batalha da Aldeia)

Brisa Flow, Lucas Boombeat, Torya, Cayari e Laysa  

Aqui começaremos falando da Isa Hansen e Deyse, pois elas são artistas autorais fundamentais para o audiovisual que é um dos objetos do que estamos tratando aqui . Não que os outros diretores aqui presente não sejam, mas nessa cypher o audiovisual é um dos maiores destaques. Contra rimas  misóginas, homofóbicas, transfóbicas, racistas, capacitistas e gordofóbicas essa cypher nos apresenta um trabalho artístico que possui também um caráter pedagógico.

E essa missão que ocorre sob a direção das duas diretoras acima mencionadas, recorrem a pedagogia divergente de Brisa Flow, Lucas Boombeat, Torya, Cayari e Laysa, todos ancorados no beat do Greezy. As linhas que estão em desfile através dos corpos de resistência indígena, negra, feminista, periférica, nordestina e LGBTQI+, encontra na produção audiovisual diferentes “planos” e cenários que nos mostram a origem ancestral e ou atual de discursos e práticas que precisam ser incorporados nas rodas urbanas das batalhas. O final do vídeo que recupera os atores e atrizes no estúdio da Aldeia Records, faz com que toda a metafóra exploda de sentidos… Realmente uma aula magistral!

Tássia Reis feat Monna Brutal 

Temos por aqui uma politica de privilegiar artistas com menos visibilidade, não é cota, é uma busca simples por algo mais horizontal. Porém, a Tássia Reis é exceção a essa regra. Próspera desse jeito, bonita desse jeito, demonstrando exuberância desse jeito, rimando com a Monna Brutal ao lado e desse jeito, só a Tássia Reis. É muito bom ver o ano que essa baita artista está tendo, um discão como Próspera (2019), turnê pelo estrangeiro, e excelentes números de visualizações. Ficamos contentes demais, sobretudo por ser uma grande figura da cultura hip hop.

A participação da Monna Brutal é aqui apenas o complemento necessário e ao mesmo tempo a demonstração do quanto essa artista é relevante para artistas relevantes. O ano da Monna Brutal é outra coisa bonita de se ver, mesmo sem o reconhecimento oficioso, ela simplesmente arregaçou como já de costume por onde pia. E nessa participação não foi diferente.

O clipe é um audiovisual muito bem construído sobre o próprio roteiro da composição (Tássia Reis & Monna Brutal) e dirigido por Camila Tuon e Gabiru. Encenado muito bem pelas duas artistas e contando ainda com a participação da Liniker, a fotografia e os figurinos assim como as coreografias dão um show e nos levam a rir daqueles que não conhecem a caminhada e acham que podem criticar. E ao mesmo tempo como a música o faz, toca em pontos importantes com rigor cirúrgico sem perder o bom humor, o clipe é um pontos altos do rap nacional em 2019, assim como o trabalho da Tássia!

 

-Rap e R&B do norte ao sudeste no audivisual, com muita qualidade!

Por Danilo Cruz 

As imagens que ilustram a matéria são de duas pioneiras do cinema, as cineastas Jessie Maple e Ida Lupino, respectivamente!

 

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