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Quer saber do que o Motorhead é capaz? escute No Sleep ‘til Hammersmith

O som do Motorhead é como uma sessão de exorcismo dentro de um carrinho de supermercado descendo uma ladeira. Você sabe que é perigoso, mas vai só vai parar de ouvir caso aconteça alguma merda. No estúdio a banda teve problemas para captar a força quase nuclear de suas performances ao vivo, mas depois do debutante (autointitulado lançado em 1977), cada disco foi um avanço completamente desenfreado em busca de um equilíbrio.
A tênue divisão que separa uma overdose de speed de um porre homérico de Jack Daniels. Encontre essa linha imaginária e você terá ”No Sleep ‘til Hammersmith, um dos melhores lives já registrados e um retrato de como o Motorhead rumava para marcar seu nome na história: aos trancos e barrancos.

Era gravando um ”Overkill” ali, quebrando o pescoço do Philthy Taylor ali e mostrando muita vontade para ignorar as probabilidades que o Motor vivia. Seja lançando dois discos no mesmo ano (”Bomber e Overkill – 1979) ou chegando esgotados para a tour que eternizou essa gravação, por isso, que para se entender tudo que o Motorhead é e significa, escute ”No Sleep til Hammersmith (1981), o resumo dos 5 primeiros anos do grupo, um registro tão sublime quanto uma sessão de tatuagem no rally Dakar.

Line Up:
Lemmy Kilmister (vocal/baixo)
”Fast” Eddie Clarke (guitarra/vocal)
Phil ”Philthy Animal” Taylor (bateria)

Track List:
”Ace Of Spades”
”Stay Clean”
”Metropolis”
”The Hammer”
”Iron Horse/Born To Loose”
”No Class”
”Overkill”
”(We Are) The Roadie Crew”
”Capricorn”
”Bomber”
”Motorhead”

Com um saudoso trocadilho, foi com a ”Short Sharp Pain In The Neck Tour” (piada infame sobre o pescoço quebrado de Philthy Taylor), que o Motorhead partiu para Leeds e Newcastle com o pensamento de registrar o primeiro disco da história da banda a chegar ao topo das paradas britânicas. Histórico trabalho, que apesar do nome, não foi gravado no tradicionalíssimo ”Hammersmith Odeon”, veja só o itinerário:

27 de março de 1981: West Runton Pavilion – Norfolk
28 de março de 1981: Queen’s Hall – Leeds
29 de março de 1981: City Hall – Newcastle
30 de março de 1981: City Hall – Newcastle
04 de abril de 198: Maysfield Leisure Centre – Belfast

A ideia inicial era fazer de ”No Sleep ‘til Hammersmith”, um disco duplo, mas como o material do show realizado no Queen’s Hall no dia 28 de março não estava bom, a banda tinha quatro set’s para trabalhar e o conteúdo acabou não rendendo tanto. Algo que não se tranformou num problema, pois o Motorhead estava com tudo, embaladíssimo após o estardalhaço de ”Overkill” e ”Bomber”, além do EP ”St. Valentine’s Day Massacre” e do violentíssimo single para o clássico ”Ace Of Spades”.

Depois de anos sendo rejeitado por labels, aloprado pela crítica e vivendo no limite do saldo dos trocos de bala do curto orçamento do Motorhead, Lemmy finalmente teve o gosto do sucesso com esse disco, que é válido ressaltar, foi a cereja no space cake que o trio deve ter devorado após o fim de cada um dos shows dessa tour..

Com um dos set lists mais brutos e matadores que alguém já teve o feeling de montar, o trio eternizou um disco que quando colocado, chega chutando a porta da sua residência cristã, um lar de bons costumes. Com dois sons do primeiro play, a faixa título do terceiro, cinco do ”Overkill” e três do também mítico ”Ace Of Spades”, esse live condensou todo o coquetel Molotov que era uma show desses caras no auge.

Esqueça uma banda focada para gravar. Pense em 3 caras que viviam ligados, sendo que um deles era um baterista que meses atrás tinha quebrado o pescoço, um guitarrista que mal ouvia seu retorno na parede sonora (mas que insistia em seguir destrinchando riffs), e o chefe do bando, o compositor e também maior entusiasta da velocidade sonora regada ao novo timing que a chapação liberava.

Pense em tudo isso junto que talvez você se aproxime do conteúdo que esses 40 minutos emanam quando o vinil começara a rodopiar como um aposentado em status de crise de labirintite na fila do banco. Relaxa velho, é só o baque de ”Ace Of Spades” e os ecos da sóbria (só no nome), ”Stay Clean”.

A intensidade é impressionante, a bateria parece que bate no seu peito, a guitarra entra pela orelha como um pedaço de arame quente e o resultado são versões pulsantes e jams cavernosas, como na dobradinha ”Iron Horse/Born To Loose”.

Temos aqui o exemplo de uma banda que na época era inabalável, Lemmy seguia emulando seu Rickenbacker como uma guitarra, Phil acelerava o passo para acompanhar os padrões da glicose de speed e a sinergia com o público foi o combústivel para que ”Capricorn” surgisse como uma bomba.

Quem nunca ouviu Motorhead deveria começar por esse disco. Aqui, além de uma compilação dos maiores momentos da banda, parece que este também é o momento onde conseguimos chegar mais perto da fagulha que alimentava todo esse caos.

Parece que a cada orelhada, ”No Sleep ‘til Hammersmith” sintetiza toda a potência de uma das maiores bandas de todos os tempos, é como se a cada track, um jato estivesse passando a 5 metro de sua cabeça, você tenta pegá-lo mas não consegue. Por isso que os fãs escutam tanto esse trabalho, pois é a melhor tentativa de embarcar para um ataque Nazista ou para o hospital, afinal de contas seus ouvidos irão zunir como sempre, enquanto o Motorhead fode a porra toda como nunca.

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