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Quazimorto e a energia selvagem de Cold Front

O power trio catarinense Quazimorto lança seu segundo álbum, Cold Front, uma pancada na têmpora de quem acredita que o rock está morto, ou quase.

Fala-se o tempo todo sobre a morte do rock, que o rock não se renova e blá, blá, blá. Porém, quanto mais ouço bandas da cena independente mais percebo o quanto essa ideia do fim do rock está relegada à sua falência dentro da indústria musical. Isso porque o rock deixou de ter o apelo comercial de outros tempos, perdendo esse espaço para as várias vertentes do Hip Hop. 

Contudo ele sobrevive a cada geração que se renova e a cada geração que insiste em permanecer sob influência do rock. Uma banda encapetada como a Quazimorto, cujo som possui uma energia selvagem incontida, nos alerta que o rock não está resumido em renovações de formatos, criação de novos gêneros, mas depende muito mais da disposição que uma banda tem para materializar suas ideias e percepções sobre o que é o rock. 

Em seu segundo álbum, Cold Front, o power trio catarinense mostra versatilidade no que diz respeito ao uso das inúmeras influências da banda. O Quazimorto consegue dosar bem o uso dos elementos sonoros de forma a não gerar excesso de informações e tornar a sonoridade confusa.

A primeira faixa mesmo, Tuneus, é uma pedrada na têmpora! Os caras não poderiam ter escolhido outra música para abrir esse álbum. Uma barulheira muito bem urdida, cujo peso resultante do efeito escolhido para destacar as notas do baixo, se faz sentir nas caixas do peito. Esse “destempero” dos efeitos sonoros de Tuneus atordoa ao mesmo tempo que causa um impacto forte o suficiente pra levar seu corpo a liberar adrenalina suficiente pra deixar o ouvinte inquieto.

Segue o bonde com a faixa MDK pra manter o ritmo acelerado e a dose de intensidade selvagem da abertura com ainda mais peso. Seguem-se linhas melódicas mais rápidas sob quebradas esparsas no ritmo, dando uma sensação de ir e vir estonteante, caótica. A curta duração da música faz com que você fique com aquela sensação de “o que foi que aconteceu” quando a música acaba. Isso porque termina com a mesma selvageria e intensidade com a qual começou, sem preparar o ouvinte pro que vai acontecer.

Em Cabeça de Fósforo o som ganha nova dimensão, pois a música apresenta variações em seu transcorrer. Há interlúdios entre as partes gerando diferentes matizes sonoras que nos levam a  ter contato com outro lado da identidade da Quazimorto. Há nessa faixa inclusive momentos de suavidade, claro, considerando suavidade a partir do que é a sonoridade da banda como um todo.

Cold Front, faixa que dá nome ao álbum,  expande o espectro musical do disco, levando-o a ganhar proporções mais abrangentes. Tem um início em que o riff da guitarra é respondido pelas investidas em parceria do baixo e da batera. Esse “diálogo” conduz a um novo contexto de atmosfera mais intimista em que os instrumentos retomam suas funções iniciais.

Segue até a entrada de uma voz estridente, soando ébria, dar início a uma nova empreitada, alternando as intensidades até uma diminuição desta e a entrada de uma gravação quando todo peso dispersa. Quando esperamos a finalização da música entra um riff arrastado, próprio dos gêneros extremos, trazendo o peso de volta e jogando a música numa dinâmica vibrante até seu término. 

Essas faixas permitem que se tenha ideia da natureza desse novo trampo da Quazimorto. Não há motivos para se acreditar no atrofiamento do rock quando ouvimos registros como esse e conhecemos bandas desse naipe. Precisamos continuar garimpando a cena independente e a divulgando, para sempre mostrar que a força criadora do rock ainda crepita intensamente.


Quazimorto e a energia selvagem de Cold Front

Por Carlim

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