A morte tem mostrado interesse por Ozzy, colocando o Madman diante de um novo questionamento existencial.
Não é fácil lidar com a finitude humana, a consciência de que em algum momento deixaremos de existir é angustiante. Todos enfrentamos em alguma medida esse fato existencial. Alguns conseguem ser indiferentes, simplesmente desenvolvem mecanismos responsáveis por esconder essa terrível experiência. Contudo, chegará o momento de encará-la.
Quando somos jovens isso não é um problema, a morte parece estar sempre muito longe. Por algum motivo durante a juventude nos comportamos de modo a encarar a morte dentro de um processo natural e portanto, só a enfrentaremos quando alcançarmos a velhice. O jovem cuja consciência é atormentada pela máxima “pra morrer basta estar vivo” precisa de um analista.
Quem leu a autobiografia Eu Sou Ozzy sabe que o Princípe das Trevas sempre flertou com a morte ao longo de sua vida. O consumo desenfreado de todo tipo de drogas e os eventos deflagrados sob o efeito delas colocaram Ozzy diante da morte inumeráveis vezes. Sua consciência nunca absorveu a possibilidade de morrer como algo factível. Ou talvez, Ozzy não tinha motivos para se importar em estar vivo ou morto.
Porém, Ozzy vivencia uma nova experiência em sua longeva relação com a morte, desta vez ela o procura, ela toma a iniciativa e flerta com ele. Esse novo viés coloca ao frontman uma inédita questão existencial: estará Ozzy preparado para as consequências deste flerte fatal?
Esta resposta está dada em Under The Graveyard, single lançado recentemente, prévia do novo álbum solo que será lançado em janeiro de 2020. São 10 anos desde o lançamento de Scream (2010) e certamente houve motivação para a quebra desse hiato. O novo álbum receberá o título de Odinary Man e foi gravado com as presenças de Chad Smith (Red Hot Chili Peppers) na bateria e Duff McKagan (Guns N’ Roses) no baixo.
Under The Graveyard é uma balada sombria, cuja atmosfera densa e pesada nos coloca em contato com as experiências vividas por Ozzy nos últimos tempos. No início de 2019 Ozzy sofreu grave acidente em sua residência quando foi ao banheiro durante a noite. Disse ter perdido o equilíbrio e caído de cara no chão. Viu-se imóvel e notou ter quebrado o pescoço.
Essa queda agravou os problemas que vinha enfrentando desde 2003 quando se acidentara pilotando um quadriciculo. Ozzy passou por três cirurgias, as quais o infringiram dores terríveis, levando ao cancelamento da turnê No More Tours 2 prevista para 2019. Under The Graveyard (Embaixo do Cemitério) tem letra angustiante, fúnebre, uma perspectiva negativa em relação à morte, ao que parece, uma questão com a qual o vocalista tem se ocupado.
Os trechos abaixo da música atestam essa percepção acerca do que tem sido essa nova experiência para Ozzy Osbourne.
It’s cold in the graveyard (Está frio no cemitério)
We all die alone (Todos nós morremos sozinhos)
Under the graveyard (Debaixo do cemitério)
We’re all rotting bones (Somos todos ossos podres)
…
Everything you are (Tudo que você é)
Can’t take it when you go (Não resiste quando você parte)
Trata-se de uma visão bastante sombria e pessimista não apenas do que seja a morte, mas também do que é estar consciente de sua proximidade. Os primeiros dois versos abordam a solidão, a frieza do fim, o que remete à declaração do Ozzy sobre a falta de um telefonema dos companheiros de Balck Sabbath Geezer Butler e Bill Ward enquanto se recuperava do grave acidente no qual quebrou o pescoço.
“Não ouvi nada de Geezer Butler ou Bill Ward, o que é bom, porque ninguém é obrigado a ligar. Mas se fosse qualquer um deles eu estaria no telefone o tempo inteiro.” Fonte: Rolling Stone Magazine
A intenção aqui não é dizer que os versos foram compostos a partir desse episódio, apenas ilustrar o contexto que envolve Ozzy neste momento da vida. Ao longo das últimas décadas o cantor passou por três cirurgias complexas, valendo-lhe a convivência com dores agudas enquanto viver.
Os dois próximos versos expõem a compreensão da morte como fim definitivo, condição a qual todos estão igualmente subordinados, em que finalmente todos os seres humanos serão iguais, ossos podres enfiados debaixo da terra.
Nos dois últimos versos selecionados Ozzy mostra obsessão pela morte em tal grau que não percebe o engano de seu juízo ali formado. O vocalista parece ter esquecido seu legado, esquecido quem ele realmente é e que seus feitos em vida lhe permitirão vencer a morte. Tudo o que Ozzy é resistirá à morte! É compreensível a preocupação dele acerca do fim de sua vida orgânica, mas não podemos deixá-lo esquecer que não significará o fim de sua existência!
https://youtu.be/FqZKcDDzRho