Primus – Primus & The Chocolate Factory With The Fungi Ensemble
admin
Praticamente vinte anos se passaram desde que o trio raiz do Primus não tocava junto. Pode parecer desculpa para começar o texto só por começar, mas quem conhece a banda entende minhas palavras. Acho que o Primus é muito celebrado por contar com Les Claypool no baixo, o cara de fato é um monstro do instrumento, toca fretless de seis cordas com alavanca! O Zappa do baixo aguns diriam rs!
Mas ficar do lado de um cara desses deve até ser chato, a crítica se mata em elogios ao reverendo, e seus companheiros de banda acabam passando meio batido. Larry LaLonde é um ótimo guitarrista, não mudou a guitarra ou causou tanto frisson tal qual Les com seu groove, mas dentro do que o Primus se qualifica a fazer ele é um excelente músico.
Tim Alexander é um baterista também muito bom. Fruto da música extrema tal qual Larry, o americano é conhecido pelo ritmo frenético com o qual conduz e acompanha a veloz e abrupta cozinha da banda, sem perder o rumo, tampouco o peso. O Primus é excelente no conjunto e no fator individual, não existe banda de um homem só, e para celebrar esse fato o trio até se reuniu para concretizar ”Primus & The Chocolate Factory With The Fungi Ensemble”, oitavo disco de estúdio de uma das bandas que mais exalam novas ideias e quebras de paradigmas sonoros. Realmente achei que o novo trabalho seria maluco, mas nem perto do que presenciei com meus próprios ouvidos.
Line Up: Larry LaLonde (guitarra) Les Claypool (baixo/vocal) Tim Alexander (bateria)
Lançado no dia 21 de outubro, ”Primus & The Chocolate Factory With The Fungi Ensemble”, surge com uma proposta absurda, servir de trilha sonora alternativa para o clássico ”A Fantástica Fábrica de Chocolate”. Mas como se isso já não fosse o suficiente, pasmem senhores, a trilha não é para o remake mais recente (que inclusive conta com Jack Sparrow no papel principal), e sim para a película lançada em 1971.
Quando li a ideia desse disco já esperei por um completo absurdo sonoro, algo semelhante ao terceiro disco da banda, o excelente ”Pork Soda”, mas não, essa viagem vai muito mais além do caótico terceiro disco de estúdio, e digo mais, ousem escutar o som enquanto assistem ao filme antigão, rapaz que viagem, as vezes ando pela casa e posso jurar que vejo Oompa Loompas de rolê pelos cômodos,
São 40 minutos de música, aliás creio que sejam os quarenta minutos mais interessantes que pude despendiar neste ano, e foi de longe o disco que mais recomendei, e o melhor foi ver a reação das pessoas quando explicava o que a banda planejou para esse novo lançamento.
Em termos musicais o Primus segue a mesma coisa, você é absolutamente incapaz de adivinhar o que a banda vai fazer, Alexander segue infalível no acompanhamento das seis cordas mais ariscas dos últimos tempos, Les continua demonstrando sua loucura laboratorial e LaLonde muda as regras do jogo investindo em muitas texturas de guitarra, algo mais supimpamente leve se comparado ao caos de entrar solando a hora que ele costumeiramente se propunha.
A questão deste disco é realmente ambiente. Não se trata de música ambiente, mas os temas tentam te levar para dentro da mente achocolata de Les Wonka, e ”Hello Wonkites” abre os trabalhos enquanto nos guia em uma tour pelas dependências da fábrica. Mas é quando ”Candy Man” começa a reverberar que a coisa começa de fato.
O aspecto sensorial é muito bem estimulado, o disco está recheado de introduções, é como se cada tema fosse uma parte do filme, e o grau de demência do instrumental é absurdo. A voz de Claypool nunca esteve tão confortável dentro de um padrão estilístico tal qual se posiciona neste trabalho, e olha que quando ele achar o bilhete dourado só piora. De ”Golden Ticket” pra frente a lucidez mostra-se um detalhe completamente desncessário na vida, o Slap dessa faixa, o diálogo com Oompa Loompas, as guitarras, xilofones…
Sua mente surfa em cachoeiras de chocolate, você vai parecer uma criança de cinco anos maravilhada com um baleiro lotado a cada take. E docinho após docinho, de ”Pure Imagination”, passando por ”I Want It Now” e concluindo a overdose de glicose em ”Farewell Wonkites” sua mente fica numa confusão adocicada brilhante.
O aspecto irreal torna-se uma fuga fantástica… Andar pela casa e enquanto o play ainda está tocando é uma tarefa digna de resgate de Indiana Jones, cada cômodo parece um labirinto temporário, você vira e olha um Oompa dançando com seu pinguim de geladeira, anda na ponta dos pés atrás do bilhete dourado, faz o plie dos chocolates, e acaba no relevé saboreando a música de Willie Wonka, que a essa altura já revelou sua identidade: Les Claypool. Cuidado para não comer o disco! Veja o filme original e ouça a trilha das barras de chocolate.