Preto Aplick CH, lenda viva do Rap Nacional esteve pela primeira vez em Salvador como atração da Batalha do Pelô em sua 5º edição!
Alguns nomes já bastante conhecidos de nossa cena marcaram presença na 5ª edição da Batalha do Pelô, a cidade que aos poucos vem retomando seu calendário cultural, ainda que vivendo à sombra de um período pandêmico (que ainda não acabou), aos poucos vem retomando também o seu “Calendário Hip Hop”.E para celebrar essa retomada, algumas festas já vinham sendo realizadas na cidade e coincidindo com os festejos finais do aniversário de 472 anos da primeira capital do país que aconteceram no primeiro domingo de abril de 2023, e chocando com dois grandes eventos quem aconteceram quase que simultaneamente, a final do campeonato estadual, onde o mais popular clube do estado ergueu o troféu de campeão estadual pela 50° vez em sua história, e a aguardada apresentação de: Caetano Veloso, Gilberto Gil, Luedji Luna e Ivete Sangalo, no Farol da Barra, também rolou a 5ª edição da Batalha do Pelô, e foi o Rap que ditou o ritmo e se fez presente, ecoando seus graves direto do Centro Histórico/Pelourinho na tarde-noite do primeiro domingo de abril de 2023 e o QG dessa celebração foi a Praça Teresa Batista.
Nomes já conhecidos de nossa cena como o anfitrião Mr. Jack RN, DJ Serra, Tipo A, DJ Maicon Rasta, se juntaram a nomes já conhecidos do Rap. Ba, como Kaos MC (La Família), o consagrado DJ Gug, Bruno Natty, Chagas MC e o trapstar Zidane MC.
E para coroar ainda mais a festa, diretamente do extremo Leste de São Paulo, reduto de grandes nomes do Rap paulistano, o rapper Preto Aplick CH (DRR Produções Favela), do consagrado grupo Consciência Humana também aportou na cidade em turnê de seu mais novo trabalho, o disco solo: Ghetto Eyez (2020), o público presente também pôde prestigiar grandes clássicos da carreira do CH, não faltaram canções como: Lembranças, Lei da Periferia, 1, 2, 1, 2 Drão e Tá na Hora.
Quem também marcou presença no rolê foi o site Oganpazan, que enviou o “Correspondente de guerra”, Paulo Brazil, que trocou uma ideia com Preto Aplick CH e que você pode conferir agora aqui no Oganpazan!
Preto Aplick CH: Salve! Boa tarde, parça!
Oganpazan: Mano, você já deve ter respondido essa pergunta em outros canais de mídia. Mas para o público do Rap baiano, nos fale um pouco sobre seu início na música. Você tem uma caminhada no Samba que antecede o Rap, né!? Conta pra nós um pouco de sua trajetória musical e de sua entrada na Cultura Hip Hop.
Preto Aplick CH: O Samba vem desde família, parça! O meu paí já era músico, não cantava Samba, mas artisticamente, ele cantava forró. E o Samba veio pra dentro de casa nos anos 70. E nos anos 80, montamos um grupo entre família, o nome do grupo era: Os Panteras Negras, que depois esse grupo virou o grupo Simpatia e depois virou o grupo Pintando o 7.
Aí eu acompanhei por alguns meses e depois comecei a dar mais atenção pro Rap, já no finalzinho dos anos 80. Foi quando surgiu os trabalhos do Hip Hop e quando eu comecei a participar dos festivais que haviam na quebrada, que era o festival da Zimbábue, que tava tendo num salãozinho próximo. Daí surgiu o De Menos Crime mas antes eu tinha montado o grupo: Falcon Rap Dance, no finalzinho dos anos 80, 87… por aí. Pegando o final da Ditadura, quando ela começava perder forças. Desse grupo surgiu a Posse DRR.
Tinha, eu, Bocão, o DJ que era o finado Renato (o qual eu falo na música: Tá na Hora), Robson, o grupo no total era composto por 5 pessoas. Daí eu montei o De Menos Crime, junto com o Pereira, aí já íamos pros bailes da Chic Show, da Kaskata’s, da Black Mad, Zimbábue, sempre pra fazer um Rap. Íamos nos encontros da Praça Roosevelt, Sindicato Negro e nesse tempo montei junto com o Pereira e mais uns amigos a Posse DRR e com a Posse DRR, o DMC, quando eu sair do DMC e montei junto com o W. Gi o Consciência Humana, no CH a gente tinha o DJ Samuel, a Bernadete, que era nossa empresária. Após isso o Samuel se afastou e ficamos com o DJ Andermad (que hoje é Gângster Selvagem) e após o Andermad sair do CH, ele entrou para outro grupo de Rap e o DJ desse outro grupo entrou pro CH no lugar dele, que era o DJ Adriano.
Após isso: DRR Produções Favela, juntamente com todos esses grupos vamos fazendo vários outros trabalhos e estamos aí ainda trabalhando como Posse, protestando na rua. O CH tá produzindo um CD mas no momento estamos trabalhando os CD’s solos que foram feitos. W. Gi lançou o CD: Você é Capaz (2019) e eu lancei o meu CD: Ghetto Eyez (2020), que é um CD que veio no intuito de fortalecer o grupo, o nome (da banca DRR) e o Hip Hop. Porquê muita gente perguntava e queria saber a respeito, queria saber se um dia a gente iria fazer um trabalho solo. Aí surgiu esse interesse e fizemos. E ele vem bastante contundente, é um CD que levou 4 anos pra ser lançado, e foi lançado com muita cautela, frieza… porquê o mercado é complicado. Levou 4 anos pra ser feito, mas é um CD que compensa ouvir, compensou esses quatro anos para deixar ele pronto.
O CD tem participação de vários produtores: Lico Crazy, DJ Luiz CH Só Monstro, Hood Good Productions-LA-California e Gaimchng3r, Havoc SCC, essas gravadoras são dos caras lá de South Central, de Compton. Teve participações de DJ’s, como: DJ Cia, KL Jay, participação de Dum Dum FC, Mago Abelha DMC, também de Anaiya JRoots, MC Eiht CMW.
Oganpazan: Mano, você vem de uma geração em que era comum o trabalho coletivo no Hip Hop, tanto que você é um membro fundador e um dos representantes da DRR, um dos coletivos de Hip Hop mais antigos em atividade e talvez o mais conhecido do Brasil. Ao que você atribui não vermos mais núcleos de Hip Hop como a banca DRR?
Preto Aplick CH: Hoje não tem mais Posses, mas estamos lutando pelo mesmo objetivo, nosso coletivo tem um objetivo só. A união, ela vem devido a isso e hoje com essa nova era, essa tecnologia, os coletivos ficaram escassos. Não se precisa mais do coletivo para poder se fortificar, cada um planta sua ideologia. E a Posse, ela vem disso, a união de vários grupos, que lutam pelo mesmo objetivo. E hoje os coletivos não estão brigando mais pelo mesmo objetivo. A união das ideias, a união da força. Então, a DRR ainda hoje se mantém viva porquê tem essa essência. A união que a gente tem é pela luta do mesmo objetivo.
Oganpazan: Mano, o Consciência Humana sempre foi e ainda é um grupo de discurso combativo muito forte, vocês formaram o grupo no início dos anos 90, ainda vivendo a sombra de uma recém extinta Ditadura Militar. Pouco tempo depois, vocês já lançaram os primeiros trabalhos do grupo, no Projeto Rap Brasil (Dj Armando Martins): “Cidade Sem Lei” e “Navio Negreiro”, já alçando grande sucesso para um grupo iniciante. E essas músicas já davam o tom do que viria a ser a proposta de trabalho do grupo. Falando ali do início dos anos 90, vocês chegaram a ter problemas na época em que essas músicas foram lançadas?
Preto Aplick CH: Tivemos sim, tivemos bastante problemas com a polícia, com essas e mais com a música: “Tá na Hora”, que é uma música que relata fatos reais. E conforme ela foi pro ar, o capitão Conte Lopes (na época, capitão da Rota), tinha sido eleito Vereador (por São Paulo), ele foi no Notícias Populares (jornal da época), rebater a nossa causa.
Falando que o Consciência Humana era música de adolescente e tal. E que era pra gente parar de cantar essa música nos shows. E todos os shows do Consciência Humana, a Rota vinha e enquadrava o CH, fazia várias perguntas. Chegou uma época que a gente tava fazendo show com advogado, para que a polícia não invadisse o camarim e oprimir nós. Fora as abordagens violentas na rua. Mas a gente sempre rebateu e sempre vamos rebater, problema com polícia sempre tivemos.
Oganpazan: Como já citou anteriormente, você já tinha uma caminhada no Samba antes mesmo do Rap, e para surpresa do público do CH, vocês convidaram a “Madrinha do Samba”, Bete Carvalho para participar do 3º álbum do grupo, na faixa: “Território Lado Leste”, como surgiu a ideia dessa parceria!?
Preto Aplick CH: Falar pra você! São Matheus é o berço do Samba, temos diversos grupos. Tem um grupo inclusive chamado: Berço do Samba mesmo. E o grupo é composto por vários artistas, como se fosse um Posse (de sambistas) e eu acompanho essa rapaziada, de vez em quando faço um Samba com eles e tal.
E tinha a casa da Dona Cida, que tinha a tradição de Samba na casa dela e na casa da Tia Cida (como também era chamada), foi onde eu conheci a Beth Carvalho, isso em meados dos anos 90, em uma feijoada e a Beth Carvalho estava lá. Fui apresentado a ela e tal. O trabalho do Consciência Humana já tava no ar e apresentaram meu trabalho pra ela, dei uma camiseta pra ela e fiz convite, através dos meus parceiros Tocão e Casca, o Casca era do grupo de Samba: Quinteto em Branco e Preto, que é um grupo histórico de São Matheus também, inclusive eles que fizeram a “cozinha” (a batucada desse trabalho, dessa obra) e foi através deles que surgiu esse primeiro contato com a Madrinha do Samba, Beth Carvalho e ela aceitou fazer o trabalho devido o conteúdo do CH. E isso pra nós foi muito gratificante, porque a Beth Carvalho, eu sempre ouvia dentro de casa, curtia o trabalho dela, sou fã. E tive esse privilégio, essa honra de tá com ela num Samba, fazer o convite e ela aceitar. E ter ela dentro de um trabalho nosso, de um CD do Consciência Humana, isso foi muito bom, não só pro CH mas pro Rap nacional.
Oganpazan: Ainda dentro dessa caminhada no Samba, no novo trabalho, você convidou o grupo de Samba: Semeadores de Cristo, para uma das faixas do novo trabalho, a faixa: “Casa Velha”! Considera uma espécie de resgate as suas raizes musicais?
Preto Aplick CH: O Samba sempre teve presente na minha vida, né cara! E essa família que fez esse Samba comigo: “Casa Velha”, inclusive a composição é minha, do Jorge Henrique Sampaio, do Roberto Ferreira da Silva e do Thiago Mosquito. Essa família fazia parte de um grupo de Samba que eu participei no passado: Pintando o 7, que se tornou o grupo Simpatia.
Um grupo família mesmo, composto entre primos e irmãos e nesse meu CD vim com a proposta de fazer também um Samba raiz, um Samba que mostra a essência, entendeu!? E de certa forma sim, resgatar a minha origem musical. Aí convidei os: Semeadores de Cristo pra poder fazer esse trabalho comigo. E acho que é isso aí mesmo que você falou, um resgate de minha origem musical.
Eu gosto muito do som deles, o Samba deles hoje é de um grupo gospel. A “Casa Velha” é uma casa limpa de tudo e reformada. Uma casa onda Deus veio pra morar e é um trabalho que tá repercutindo bastante.
Quem acompanha o CH sabe que no Preto Aplick o Samba corre na veia. Antes de escola de Samba, Samba de Roda, Samba de Mesa, Samba de Palco, Samba de buteco. Pode esperar que nos próximos discos também sempre virá uma. Tenho mais dois Sambas aqui escrito, que vem nos próximos trabalhos. É um Samba dos “trabalhador”, e outro Samba é o que diz que o Samba canta o Rap e o Rap canta o Samba, lembrando de velhos partideiros. Pra que possamos manter nossa origem sempre de pé, que é a nossa essência. Com o Samba eu aprendi muito, pois tem uma mensagem pra toda ocasião. Então o Samba significa muito para mim, contribuiu com o meu Rap.
Oganpazan: Com mais de 30 anos de uma sólida carreira no Rap nacional, quatro grandes discos lançados com o Consciência Humana, inúmeras participações em trabalhos de outros artistas, até de outros segmentos, eis que em 2020/2021, Preto Aplick CH, nos entrega seu primeiro trabalho solo, recheado de participações de peso, tanto no time de produção, quanto em participações, dentre elas a que talvez tenha mais chamado atenção do público seja a do MC Eiht, do lendário grupo gângster Compton’s Most Wanted (L. A.). Como se deu essa conexão entre os gângsters do Brasil com os dos USA para compor esse novo trabalho?
Eu falei, demorô! Vamos fazer sim. E aí ele apresentou esse trabalho aos outros integrantes da banca do South Central Cartel, aí apresentaram o trabalho ao MC Eith que também queria participar do CD, também foi apresentado o trabalho a Anaiya JRoots, que é uma menina de um grupo de Blues underground e ela também aceitou e quis também fazer o som.
E disso daí surgiu o som Ghetto Eyez, que dar título ao CD e isso pra mim foi gratificante, porque eles sempre foram referência pra mim nos anos 90, essa banca da West Coast, com o projeto que os caras tinham e os caras vieram fazer o trabalho comigo. Tanto que após ter feito a música: Ghetto Eyez, surgiu mais outra música, que é: União OG’z, que tem a participação do LV, que é do SCC, do Young Prod, Evil Skeen e do lendário Spice1. Então rolou um “apadrinhagem”.
Os caras meio que me apadrinhou lá na West Coast, apresentando o meu trabalho para outros caras. E outros trabalhos vão surgir, estamos na sintonia aí. Mas foi difícil sim, o meu CD foi programado para sair antes da pandemia, mas a pandemia surgiu e eu tava no meio do trabalho e não parei, soltei. E dessa forma surgiu essa parceria que está crescendo e vai ficar eternamente.
Oganpazan: Sobre a apresentação do último 2 de abril, a primeira do Aplick em solo baiano e já com o seu trabalho solo, além do repertório do novo trabalho o público pôde acompanhar ao vivo alguns clássicos do Consciência Humana. Você pretende retomar a Salvador numa apresentação com a banca completa do Consciência Humana?
Preto Aplick CH: Sim, meu mano! Pretendo voltar sim! Voltando com o Preto Aplick e Consciência Humana, inclusive, dona Telma e dona Jussara estão programando mais um evento com Preto Aplick. Com mais calma, com uma divulgação, entendeu!? Eu retornarei sim, com certeza. Espero retornar com o CH, está programado para daqui uns três meses, para tá rolando um Preto Aplick novamente aí no Pelourinho com o grupo Consciência Humana completo.
Fui sozinho pra conhecer o movimento, os integrantes do movimento o qual faço parte e interagir e contribuir com a arte, entendeu!? Com a minha disposição e fazendo com que a gente fique bem mais forte. E pode ter certeza, Consciência Humana estará em Salvador com o grupo completo em breve.
Oganpazan: Aplick, você vem acompanhando a nova safra do Rap nacional!? O que você está escutando?
Preto Aplick CH: Meu mano, vou falar pra você! Essas novas vertentes que tá acontecendo, eu não vou falar pra você que eu tô acompanhando, porque são muitas coisas que tão saindo todo dia e eu também tô em fase de projeto dos trabalhos, então eu não tô com tempo pra acompanhar o que o mercado tá lançando, muita coisa por dia e a gente não consegue acompanhar tudo.
Mas alguma coisa que tá saindo aí e que eu tô acompanhando é do Rio de Janeiro: Favela Vive, daqui de São Paulo, o CD do Nego Mola tá muito louco, o CD W. Gi que tá pesado também. E mais alguma coisa que tá saindo aí, o trabalho novo que o Trilha Sonora vem fazendo agora também tá muito bom. Não tô acompanhando muita coisa nova dessas vertentes.
O Mano Fler eu tô vendo, o Pateta, esses mano aí com as ideias boas, Filosofia de Rua, De Menos Crime. Mas eu mesmo sou parado mais no Old School pra parar pra eu ouvir mesmo. Não consigo acompanhar tudo mas o pouco que eu vi, a psicologia tá vindo muito barata, entendeu!? A psicologia barata sai cara depois. Então a indústria se envolve e faz com que nossa psicologia fique barata.
Oganpazan: Mano, obrigado pela troca de ideia com Oganpazan. O espaço tá aberto pra você fazer suas considerações e mandar seu salve para quem você quiser. O espaço é seu, mano!
E dar um salve pra essa rapaziada do Nordeste que faz o Hip Hop, pro Paulo que conheci e pude presenciar o trabalho, pude tá somando. Que não parem de fazer o Hip Hop, vocês são fortes. O Hip Hop do Nordeste é muito forte, e eu pude sentir de perto , pude tá participando dessa energia positiva. Então quero dar um salve a todos que fazem o movimento para não esquecer de ninguém, a todos que contribuem cada um com a sua disposição, com o seu ponto de vista. Isso faz com que a gente fique mais forte, independente de onde quer que a gente esteja. Esse é o meu salve a todo o Hip Hop do Nordeste.
Dar um salve pra minha família DRR Produções Favela e a todas as outras DRR , dar um salve aos Homens Crânio, ao De Menos Crime, Daiane Corleone, a minha família e a todo movimento Hip Hop. E pedir que o Nordeste nunca esqueça de nós. Segue firme Oganpazan, nós estamos juntos. Precisar do Preto Aplick aí, pode dar o salve. Humilde, simplicidade, proceder e atitude. Essa é a Posse Domínio do Raciocínio Real/Defensores do Ritmo Rua. Tamo junto Bahia-Salvador. Conexão 011 X 071.
-Preto Aplick CH (Consciência Humana) na 5º edição da Batalha do Pelô – Entrevista.
Por Paulo Brasil