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Prêmio Nacional de Rap no Brasil é amigo secreto da firma!

As listas desse ano reproduzem com “finesse” o que o Hutuz (Prêmio Nacional) fazia com o prêmio melhor grupo de Rap do Norte-Nordeste!

“Eu lembro do Caetano me entregar um prêmio
De melhor do nordeste
O que diz sobre isso
Porque não tinha uma categoria pro sul
Então era tipo
Esmola pra segunda divisão, tru
Mas eu nunca comi partido”  Don L

Há um problema indisfarçável quando se trata de falar do rap nacional, pois ele simplesmente não existe. Quando algum MC famoso em São Paulo indica alguém do Nordeste ou do Norte, aí então mídia e público vão atrás. Sempre imaginei que para escrever sobre um determinado gênero musical era necessário pesquisar sobre o que é feito. Ledo engano. Construiu-se uma imagem do que seja o rap nacional que em geral é perniciosa pois baseia-se na exclusão e no desconhecimento do que é produzido nacionalmente.  

Curiosamente as mídias que produzem a cobertura dos acontecimentos, reproduzem a xenofobia com um caráter limpinho: “não chegou o material na gente”, “não conhecíamos tal artista” e outras desculpas que visam seguir apagando toda e qualquer iniciativa produzida no Norte e no Nordeste. Sabemos e cobramos a profissionalização na comunicação dos artistas, mas quando chega o material muitos fingem não ver e em certa medida a pesquisa inexiste, com raríssimas exceções. 

Trabalham com cotas e tokens: inclusões simbólicas para passar como não apagamento. Essa é a regra geral, e é facilmente perceptível perceber que são os números e o capital quem pintam a cara do que é o rap nacional e não as mídias. E nesse sentido, isso parece ter tomado uma força tão grande que toda a mera reprodução desse ‘gam’e não pode nem ser questionada. 

Toda premiação obviamente passa por apreciações subjetivas, e é aí mesmo que a coisa degringola. Falar que nas premiações deste ano – mas serve para qualquer ano – houveram votantes das regiões excluídas só nos mostra que esses mesmos votantes não escutam o que foi produzido por aqui no Nordeste ou mesmo no Norte do país, mas também no Centro-Oeste e no Sul. 

Aborde qualquer adolescente em Salvador e pergunte o que ele escuta de rap, a resposta será imediata: Rio e São Paulo. Ao que parece, o jurado da região segue a mesma lógica e nos coloca uma questão que se refere ao critério que é utilizado para a amostragem do prêmio. Seria possível fugir dessa lógica? Óbvio que sim, basta que as pessoas que trabalham com a comunicação no rap, não orbitem o ano inteiro ao redor dos mesmos nomes. Que essas pessoas não se sintam na obrigação de avalizar artistas que não devem ser o público das mídias ou do jornalismo. 

Sabe-se o quanto artistas não valorizam as próprias mídias, isso é um fato, a não ser que sejam muito elogiados, às vezes nem assim. As críticas negativas hoje são chamadas de “hater”, inveja, tentativa de derrubar etc.. Ao buscar pensar o modelo que está implementado em termos de mídia e premiação no país, não fazemos isso para ganhar moral com nenhum artista. O nosso trabalho é escrever para o público sendo honestos com o que pensamos dos desenvolvimentos dos artistas!  

A dificuldade em fazer jornalismo cultural no Brasil nós conhecemos, porém não é desejável que somente o óbvio seja objeto de atenção quando se propõe a falar do Rap nacional. Criticar a forma como se conduz as listas de melhores do ano, não é o mesmo que “desmerecer” o trabalho dos envolvidos, muito pelo contrário, a crítica é exatamente para que passemos da fase de inclusão simbólica. Nós entendemos a importância de premiações especializadas, porém elas precisam ser especializadas! Nós entendemos que a exclusão é parte constituinte de premiações mas poderiam ser menos, e isso nos parece um fato também. 

A inclusão de nomes como Vandal, Don L, Nic Dias, Victor Xamã não disfarça outras tantas ausências e apagamentos históricos. Como disse certa vez o Marquês de Sade: “Mais um esforço se quiserdes ser republicanos”, isto ainda no século 18. 

A reprodução de releases, assim como a ausência de pesquisas são reproduzidas nas listas de fim de ano como “critério justo”, porém só demonstram que essas premiações são como o amigo secreto de fim de ano da firma. Mais um esforço se quiserdes ser realmente democráticos. Ou os prêmios são nacionais ou não o são, não é possível e nem desejável que aja uma premiação no rap nordeste como substituto da ausência em escala nacional. 

Como leitores que prestam atenção a linha editorial do Oganpazan, em 7 anos de trabalho nunca fizemos eleições de melhores porque isso não nos interessa. Pode ser que algum dia façamos, mas estamos interessados na horizontalização do mercado e dos gostos, e em utilizar nosso tempo para conhecer e dar a conhecer outras perspectivas e trabalhos. 

Não estamos batendo nessa tecla a toa, não faríamos isto para chorar por não estar em um prêmio de mídia, mas o prêmio de mídia foi a cereja do bolo. Pois mostrou que para 220 jurados, não existe mídia além do eixo, e o quanto esse mesmo critério é utilizado para o resto das premiações. 

Como certa vez o próprio Vandal disse em entrevista: “o eixo olha para cima para se inspirar, contorna o Norte e o Nordeste e mira nos EUA.”, nos parece muito verdadeiro. Porém somente em termos musicais, pois em termos mercadológicos e jornalisticamente somente o que está no eixo merece atenção e o nordeste segue sendo legal para tirar férias e para extrair daqui as inovações musicais. 

A xenofobia estar presente nessas premiações, por mais que se tente disfarçar com a inclusão simbólica de nomes que não seriam possíveis de não estarem ali. A proposição de que se faça um prêmio só do nordeste é a sofisticação de que se seguirá excluíndo o rap feito no nordeste como sempre foi feito desde o prêmio Hutuz, mas ao que parece mesmo escutando Don L, não entenderam ainda. 

Admiramos e já falamos mil vezes da importância de canais como o Rap TV e a Inverso, são trabalhos fundamentais para a cultura hip-hop nacional. Porém suas listas, os critérios das mesmas apenas deixam claro tudo dito acima, e o Oganpazan vem declinando de votar exatamente para não ser também um token, porque é sabido nacionalmente como age a nossa curadoria e a nossa linha editorial! 

“Aqui preto sem açúcar meu bem, não tente me refinar”

-Prêmio Nacional de Rap no Brasil é amigo secreto da firma!

Por Danilo Cruz    

 

 

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