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Por Enquanto É Isso? Mobbiu & Dj Indío: Redefinindo

Por Enquanto É Isso é a primeira mixtape solo de Mobbiu. Que se juntou ao Dj Indío para redefinir e voltar as raízes do rap, uma nova forma!

O rapper Mobbiu é um das figuras mais destacadas da cena soteropolitana – devo dizer nacional ? – e nordestina do rap. Além de músico há décadas, encontra tempo para ser também empresário e produtor. É uma figura que provavelmente a história oficial colocará como figura fundamental para a cultura Hip Hop na Bahia. Por Enquanto É Isso (2016), é sua primeira Mixtape solo, onde o rapper se uniu ao DJ Indío para uma volta providencial às raízes do rap. Reprojetando a forma original com que a associação entre rappers e dj’s se dava, aqui numa excelente colagem de músicas soltas. São singles e participações que Mobbiu já vinha soltando ao longo de 2015 e 2016. São aqui retrabalhadas pelas mãos habilidosas do Dj Índio.

Neste documentário abaixo podemos visualizar um pouco da longa caminhada que Mobbiu veem empreendendo dentro da nossa cena musical, com seu projeto anterior: o grupo Versu2. Tendo feito parte de outros grupos também como o lendário Testemunhaz.

Essa Mixtape (Por Enquanto É Isso 2016) marca um período novo  na arte de Mobbiu, agora com sua caminhada solo. E ao mesmo tempo se faz como um novo marco inicial, ou uma retomada, daquilo que a cultura hip hop tinha no início. Pois é sabido que esta cultura tinha nos seus primórdios uma ideia d0 dj como o instrumentista do rap. Era o papel do Dj a criação original de batidas e samples, que através desses procedimentos, transformava velhas músicas em novas possibilidades. E nesse disco encontramos um resgaste muito interessante com relação à cultura do DJ. 

Criando novas possibilidades pra sua música, essa mixtape  se apega ao conceito original de “fita mixada”, tendo sido trabalhada pelo Dj Índio  que faz de velhas músicas do Mobbiu uma obra nova. Ao promover colagens de músicas, de trechos de músicas, vinhetas presentes no documentário Meio, inicio, Meio e até uma fala do Silvio Santos, encontramos um outro sentido. Sentido esse ausente, ou pelo menos pouco evidente, se tomarmos as músicas em separado.  

Musicalmente o disco consegue efeitos sublimes ao se desvencilhar de espaços desnecessários, ao nos trazer uma porrada atrás da outra, como num set. Porém com um upgrade, pois  o trabalho possui uma unidade produzida por sua visão estética bastante evidente. Ao fazer entre uma colagem e outra a criação de um clima, certeiro em sua intenção e na medida em que conjuga o conteúdo das letras ao ritmo das mixagens. Consegue a condição para que os dois elementos da música e da cultura estejam plenamente de acordo – O Conhecimento e a Diversão – muito bem dosados pelas mãos hábeis do DJ. Que estabelece um pique capaz de aumentar o nosso apetite no decorrer da audição.

Dj Indio começa os trabalhos com colagens, samples e scratches do documentário sobre a Versus 2 e de alguns clássicos nossos (rap baiano?), como UGangue, Vandal, Nova Era. E uma das primeiras e mais importantes características do rapper e conteúdo onipresente em suas músicas se mostra de saída: Sua postura ética!

Mobbiu é um artista que ao longo de suas canções está sempre pensando em sua conduta. Refletindo sobre as suas relações com outros atores da cena, e com a própria cena, com a necessidade de manter a cultura hip hop como esta nasceu. O que não o impede de inovar esteticamente, pois possui uma poesia bastante introspectiva mas nem por isso, fazendo de suas letras chatos solilóquios. Aqui – e isso vai ficando evidente ao longo da audição – quanto mais produz reflexões sobre seu estado de espirito, mas vai ficando claro, que o rapper está falando da verdade de uma postura plenamente produtiva. Capaz de resistir aos desafios, aos obstáculos, seja daqueles que aparecem para um artista independente, seja para qualquer ser humano. 

Sua herança punk pode enganar aqueles que encontrarem nas imagens de cuspes, secreções renais, ou catarros verdes, marrons, simples imagens chocantes. Entendemos antes essas menções como uma reflexão sobre seu temperamento, sobre os humores e o caráter do mesmo.  

“Trago sangue nos olhares que registro, trago, ervas que aliviam como vivo, faço, Faço parte dos que pagam prejuízo mas no lucro tem objetivo claro. Tanta merda que cuspi, cuspi , que não sinto nem o cheiro do ralo. Pesadelo vira sonho se percebo os seus medos, quer segredo então me paga caro.”

Pague pra Subir 1 (feat. Nanashara Vaz) e 2, são músicas muito interessantes para quem estar acostumado com pensamentos lineares, ideias mastigadas, condutas pret-a-porter, porque quebram esses costumes. O rap de Mobbiu esta além do senso comum ao qual se esta acostumado em geral na cena nacional. Buscam outras referências e se apegam a uma visão de mundo carregada de experiência e reflexões constantes e muito próprias.

As duas músicas se colam como um excelente cartão de visitas, alertando quem espera beck e gatas rebolando para a realidade, de que o ralo esta emitindo um odor putrefato. O pseudo refrão de Nanashara Vaz, é um complemento da música, menos uma parada e repetição do que suas outras possibilidades melódicas. Os rins filtrando os dissabores da correria insana em meio ao caos, mas sempre ciente de seus objetivos, como artista, pai, empresário.

Problema e trabalho?

Dono de uma escrita impiedosa Mobbiu e o maestro Dj indío resgatam uma música presente na primeira Mixtape da Familía UGangue Vol. 1, Problema e Trabalho (part. DaGanja & Ravi Lobo), colando-a com Essa Porra É Minha Vida (part. Victor Xamã e Suburbano). O que nos propõe uma visão muito interessante, nessa relação insana entre o caminho da arte e suas inúmeras dificuldades. E se a escrita se mostra impiedosa, a mesma se faz de uma ética dura, quase Estoica, através da qual o rapper pode afirmar com muita propriedade: O rap e a cultura hip hop é sua vida!

Continuidade que atravessa o interlúdio com a fala do rapper paulista Emicida e chega em Hey Rap, onde essas questões éticas são ressaltadas e Mobbiu reafirma aquilo que tem lhe guiado dentro do rap. “Se não voltar pro gueto não tem por que ir buscar!” Mensagem social muito afiada e pertinente, conteúdo duro em suas ambições politicas, apesar do apuro poético que foge dos clichês.

Buscamos aqui apenas um pequeno aperitivo do que se pode encontrar nesse trabalho, que a nós parece redimensionar essa nova fase, da carreira solo do rapper. Mas que também coloca-nos muitos problemas que a música rap precisa enfrentar, ao mesmo tempo em que propõem uma obra num formato bastante original. As colagens do Dj Indío, diferenciam as canções, lançadas em outros contextos, entregando-nos com um novo frescor. Dando outro sentido para as mesmas músicas, em sua unidade, com os interlúdios que “comentam” as ideias presentes. 

O ideal mesmo é você escutar e ver por si mesmo, se as ideias presentes aqui estão lá ou não. Essa pequena resenha certamente não alcança o total de 25:51 do tempo da mixtape. Até porque, como dissemos acima, a Obra aqui é um todo, prenhe de muitos significados. Resta que cada um seja capaz de absorvê-la da melhor forma possível e reenviar a mensagem pra mais adiante.

Fazem parte também dessa mixtape: Suburbano, Nanashara Vaz, DogaLove, DaGanja, Ravi, Família Ugangue, Chokko, Victor Xamã, Emicida, Nova Era, Shoes Mc, Alvaro Réu, Dj Gug e Cintia Savoli. A produção da capa ficou por conta do mestre Fernando Gomes, sempre arrebentando em suas visões! O Clipe que ilustra o começo desse texto tem a direção e produção de muitos amigos do rapper e profissionais que cederam seu tempo e talento – a beleza de Robson Veio. Aqui você pode ver todas as pessoas envolvidas.

Você pode baixar o disco aqui e ouvi-lo abaixo!

Nota:      

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