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Pexera HC lança seu primeiro disco: “Matando o fascismo com agressividade hardcore” – Entrevista

Pexera HC por Paulo Braytner

Banda de recife, a Pexera HC traz diversas influências dentro de uma sonoridade hardcore agressiva, trocamos umas ideias com os caras

Nascida em 2022 no Alto José do Pinho, apesar de estar começando os seus trabalhos, o trio PEXERA HC tem em seus componentes a história do hardcore recifense nas veias, fazendo lembrar as antigas e clássicas bandas anteriores na história de seus integrantes, como: Every Day, Armas da Verdade e Como Desistir?. Em suas letras, que refletem o cotidiano da periferia das cidades, o trio tenta com uma feroz indignação mostrar sem máscaras as dificuldades e o cotidiano dos subúrbios, exportando com classe e às vezes com acidez o seu antifascismo e se posicionando sempre contra toda a forma de preconceito.

Com 7 faixas, o primeiro álbum da banda chamado “Pexera”, mistura elementos de punk, hardcore, crossover, melódico, grind, metal, tudo isso com muita agressividade e poesia. Em suas letras, feitas pelo vocalista Erison Silva, a memória de um governo negligente e fascista, que durante 4 anos atacou de todas as maneiras a população e segue vivo ainda hoje. Para além de relembrar as barbaridades do governo anterior em faixas como  “Caça Aos Homens de Bem”, “Presidente” e “Ladrão”, que conta com a participação de Beto Nunes, vocalista da banda pernambucana Saga HC. O trabalho também relembra nomes importantes da nossa história política social como Mariele Franco e Marighella, além de olhar para o futuro de forma positiva e sempre combativa para toda forma de preconceito. Tudo com agressividade, mas sem perder um pouco da ironia e sempre mantendo a poesia como arma.

Além do som, o trio também faz parte do coletivo Fervo, que vem movimentando culturalmente bairros como o Alto José do Pinho e a Mangabeira, na zona norte do Recife. Junto com o espaço Poesis, vem realizando eventos de formação social, além de shows, sarau de poesia, tudo voltado para o enriquecimento da comunidade. O álbum termina com a poesia “O Oco”, de Jailson de Oliveira, professor, ator e criador do Poesis. Grupo/Movimento com mais de 30 anos de atividades na luta política pela comunidade, sempre agindo através da arte, como o teatro, a dança e a poesia.

Resolvi bater um papo com o vocalista/Guitarrista Erison Silva e com o baixista Magno sobre a banda, o álbum, o Fervo, o facismo, tá tudo abaixo pra você ler ouvindo essa pedrada em forma de álbum (Ouça ou baixe ele aqui).

Qual a referência do nome da banda “PEXERA HC” com o som que vocês fazem?! E porque PEXERA?!

Magno: O nome Pexera HC se deu devido a necessidade de trazer raízes nordestinas para um nome que não é escrito dessa forma mas que faz alusão a dialética sertaneja da origem de todos os componentes. Além disso, o nome PEXERA cria um escudo de característica para a banda, quem lê o nome PEXERA em qualquer parte do Brasil vai entender que a banda não faz parte do sul do país.

Todos os integrantes tem histórico no punk e hardcore do Recife e região. Porque insistir no erro e recomeçar?!

Magno: Isso mesmo, Erisson por ser o mais velho entre os 3 já tocou em bandas de nome aqui no underground recifense, a mais exponente delas foi o Armas da Verdade que fez inúmeros shows no final da década de 90 e início dos anos 2000 onde culminou em um CD com o mesmo nome da banda e com o baterista que pra mim ainda é o melhor do gênero no Brasil, isso mesmo no Brasil, Pernalonga toca demais, mas isso é uma opinião minha e acho que de Victor tbm rsrsrs.

Já eu e Victor começamos ali anos 2001, estudávamos juntos na escola estadual Dom Bosco aqui em Casa Amarela (bairro da zona norte do Recife) e foi quando um parceiro meu ganhou de um metaleiro uma fita que achou no lixo e não gostou do som eu e esse amigo o (COELHO) começamos a ouvir e adorar o som que no futuro saberíamos que era um punk hardcore californiano no NO USE FOR A NAME logo depois chamamos o cara pra cantar e assim montamos a EVERY DAY, banda de HC melódico influenciada por NOFX e cia. Essa banda tinha apenas 1 guitarra e eu insistia em ter outra, mesmo sendo baterista e aí que depois de muitas brigas foi que o Victor entrou, mesmo sem saber tocar nada, muito menos que nós, ensinamos ele a colocar base e ele decolou, a banda acabou em 2004 e em 2010, eu e victor começamos a COMO DESISTIR? que ainda existe e está aí tocando quando rola.

Em 2022, Erison e victor estavam tocando sozinhos e insistiram em que eu tocasse baixo no então projeto Pexera e assim fizemos nosso primeiro show com a Plastic Fire do Rio de Janeiro e a Dead Nomades da Paraíba, lá na Paraíba e foi um show foda. Acho que essa insistência se deu em um momento conturbado para o mundo e principalmente no Brasil que além de pandemia ainda tinha o presida Bolsonaro que fudeu com tudo, a vontade que estávamos de fazer algo e sair da inércia foi maior.

Como vocês enxergam a diferença da experiência no começo de uma banda ou projeto com mais maturidade e vindo após outras experiências?!

Erison: Da forma que não dá mais pra perder tempo, em 1994 eu não sabia o que queria e a partir de 1997 eu comecei a entender um pouco, a partir dos anos 2000 eu vi que sim era isso que eu queria fazer, tocar música pesada pra doido curtir, porém no meio do caminho coisas acontecem e dão errado, por isso agora eu quero a mesma coisa, porém sem perder tempo, se for de mudar eu mudo, uma letra, um riff ou a música inteira se eu ver que isso vai me manter trabalhando naquilo que gosto eu faço, antes eu me importava com o que iam falar de mim se algum dia eu chegasse no mainstream, hoje tô pouco me fudendo.

O álbum tem um norte no governo anterior do país. Qual a importância de ainda falar disso?!

Erison: Pra que nunca seja esquecido, tem aquele ditado que diz que brasileiro tem a memória fraca, pois é estamos aqui pra lembrar a todos que tivemos um governo irresponsável, tivemos um governo em que o presidente disse que deveríamos esquecer o holocausto,  que não se importava com povos originários e quilombolas, deixar de falar disso é passar pano pra fascista.

Como foi o processo de composição e gravação deste novo trabalho?!

Erison: As composições partiram todas de mim, no meu quarto num calor da mizera, muitas vezes desistia de fazer a música devido ao calor, depois que conseguir fazer os esboços de algumas, comecei a marcar ensaios em estúdio, os primeiro foram bem ruins mas com o tempo a coisa foi melhorando. Após um ano e meio ensaiando resolvemos gravar no estúdio Palco esse que é nosso primeiro álbum, gravado pelo o técnico Daniel Farias, que trabalha com isso acho que a mais de 30 anos, nos conhecemos a mais ou menos esse tempo.  Foi bem divertido e estressante ao mesmo tempo, pois todos queriam um disco perfeito bem gravado, eu sinceramente não gosto de um disco 100% bem gravado, acho que isso tira o fator humano da parada, eu gosto que fiquem certas imperfeições como respiro, passada de notas, esse tipo de coisa, porque aí você vê que o disco foi gravado realmente por uma pessoa e não por um robô.

Magno: O álbum foi gravado no dia 06 de novembro de 2022. Passamos o domingo todo gravando as baterias e o baixo de todas as músicas que foram mixadas pelo próprio Daniel Faria, tivemos algumas participações com membros das bandas Saga HC e Pernalonga (Leon), lendário baterista da periferia do Recife.

Escolhemos essas músicas porque elas são as que mais refletem o que estávamos vivendo no conturbado ano de 2022.

Quais as influências sonoras e outras dele?!

Erison: Influências diretas de hardcore crossover, porém como eu gosto muito de mistura, nele tem hardcore, crossover, melódico, grind e metal, nos solos simples de guitarra da pra sentir bastante a influência do Sepultura e do Ratos de Porão, com solos sendo usados o efeito Wah Wah.

A PEXERA HC existiria se não fosse no Recife ou no Alto Jose do Pinho?!

Erison: Falando de forma escancarada das letras, acho que não, pois é o celeiro onde cresci. As influências que tive diretamente na minha adolescência e vida adulta sempre me jogaram pra fazer algo desse tipo, e também por conta de Victor Max, batera da banda, que vivia me pedindo pra fazer um projeto onde eu voltasse a cantar e também tocar guitarra. Demorou mas saiu e já tá vindo o primeiro filho.

Magno: Eu particularmente acho que existiria uma Banda, não sei se a PEXERA HC ou uma com essa pegada, mas a vontade de tocar é muito maior do que muitos outros sonhos que achava que tinha, acho que só perde para o amor que sinto pela minha filha.

Vocês tem um coletivo aí no Alto José do Pinho, que desenvolve shows e vários trabalhos culturais. Falem um pouco sobre ele.

Magno: Isso, o Coletivo Fervo. Na verdade essa vontade de tocar era bloqueada pela falta de show e eventos onde as bandas da periferia nunca eram chamadas a exemplo as domingueiras do Dokas e etc. daí pensamos, se ninguém chama, vamos fazer nós mesmos os shows. ai unimos 4 amigos que já tocavam em bandas e montamos esse coletivo onde reunimos uma grana e fazemos os eventos do próprio bolso sem aquela porcaria que acontecia nos anos 2000 onde as bandas tinham que vender ingressos para tocar, isso cresceu e bandas como Plastic Fire (RJ) e Test (SP) passaram por eventos da Fervo

Erison: No meu caso fica difícil falar sobre o Fervo pois eu não estava na composição dele, eu só entrei meses depois a convite dos caras. O que posso falar é sobre minha atuação nele que é mais voltada para coisas operacionais, como montar o som junto com Victor e dar apoio técnico a banda que está tocando. Mas falando um pouco mais a fundo a necessidade de se ter um coletivo no Alto José do Pinho e Mangabeira é de muita importância, já que muito antes da pandemia as atividades culturais de shows de bandas, recital de poesias eram todos feitos pelo centro cultural POESIS. Com a vinda do Fervo, o POESIS ficou mais livre de programação e realização de eventos sozinho, somando assim o Fervo a sua equipe de apoiadores e organizadores. O Fervo também dá suporte e apoio técnico não só às atividades  do POESIS, mas também a outras localidades como Maranguape 1 onde tem o Coletivo M1 e outros coletivos que precisarem de ajuda técnica.

Onde a PEXERA HC quer chegar?!

Erison: Eu quero que a banda chegue nos máximo de pessoas, para que o máximo de pessoas escute a mensagem da banda, não me importa se vai ser grandes ou pequenos palcos eu só quero levar o som da banda o mais longe possível, dentro e fora das periferias, com ou sem uma grande ou pequena gravadora, estamos fazendo a coisa acontecer com nossas mãos com pouco dinheiro e muito esforço.

Magno: Acho que apesar de ter menos de 2 anos, estamos em um patamar legal onde a cidade sabe que existe uma banda com o nome PEXERA e que, diferente de antigamente, hoje em dia podemos, por meio dos nosso trabalhos, ter um disco e algum instrumento pra tocar, mas para não dizer que não queremos mais nada, sim desejamos tocar em um Abril Pro Rock e da um rolé pelo eixo Rio – São Paulo não seria ruim, temos vários amigos por lá sempre convidando mas como toda banda de periferia a grana e o tempo tem que ser bem trabalhados.

Qual a importância da agressividade como forma de arte para vocês?!

Erison: No caso a agressividade musical e poética, é com isso que mostramos nossa indignação com quaisquer que sejam os governos, o governo anterior proliferou o ódio, e isso me gerou ódio deles, porém minha forma foi canalizar esse ódio em música, e não atirando nas pessoas nas ruas e até mesmo dentro de suas casas, a forma agressiva da música é assim porque ela está canalizando o ódio que está dentro de cada componente da banda, onde a resposta é uma tapa sem mão muito bem dada.

Magno: Não da pra conversar com um racista ou nazista com flores e como não podemos mata-los, gritamos nos seus ouvidos como eles são desprezíveis.

-Pexera HC lança seu primeiro disco: “Matando o fascismo com agressividade hardcore” – Entrevista

Por Diego Pessoa (Hominis Canidae)

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