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Paula Holanda entrevista Iorigun

Amanhã tem Fervura Feira Noise edição Salvador e uma das atrações é a banda feirense Iorigun. Conheça mais sobre a Iorigun nesta matéria/ entrevista feita por Paula Holanda. 

Era 2012 quando vi o primeiro show da primeira banda de Iuri Moldes (vocais, guitarra), a Insert a Coin, que até então só havia tocado no Helyos, colégio onde parte dos integrantes se conheceu. Iuri queria usar um nome “mais adulto” e, em 2015, a banda passou a se chamar Cine Iris (nome de um finado cinema de rua feirense que passou a exibir filmes pornôs em seu período de decadência, aos leigos). Nesse mesmo evento — MECA 2012, para ser específica — vi também o primeiro show da Adestradores de Lentilhas, uma banda cover mezzo-Strokesmezzo-ArcticMonkeys que eventualmente fazia também covers de Gorillaz, Franz Ferdinand e The White Stripes e que, em 2014, após algumas mudanças de formação, daria origem à Expedição Gatos Atômicos — uma das bandas autorais mais populares entre a garotada indie feirense, em que Fred Lima (guitarra) e Leonel Oliveira (bateria) tocaram. Em 2013, Iuri se tornou o meu melhor amigo e eu comecei a namorar com o ex-vocalista da Expedição Gatos Atômicos, então passei a assistir os shows de ambas as bandas assiduamente, até mesmo quando eu não estava muito afim de.

Em paralelo, Moysés Martins (baixo) ainda atuava como baixista da Magdalene And The Rock And Roll Explosion, banda que começou um pouco antes, em 2010, flertava com punk, blues e garage rock e, apesar de ser praticamente contemporânea à Insert a Coin e Adestradores de Lentilhas, contava com membros mais velhos e visivelmente mais experientes do que os integrantes das outras duas —desta forma, por estar um pouco mais à frente, o grupo poderia ser considerado caçulinha de uma geração mais veterana, que engloba nomes como Calafrio e Novelta. Acompanhei a Magdalene muito menos do que gostaria, mas felizmente pude pegar algumas apresentações de uma das bandas mais enérgicas e potentes que já vi tocar em Feira de Santana antes que ela se dissolvesse.

Agora, após o fim de seus projetos anteriores, Iuri, Fred, Moysés e Leonel integram a Iorigun, que estreou nos palcos em julho de 2017, mas que vem sendo arquitetada desde o final de 2015 e tem DIIV, The Drums e Beach Fossils entre suas influências. Ela faz parte de um revival oitentista que passou a ganhar força em 2009,que atualiza referências do new wave, do pós-punk e do shoegazee, em um contexto nacional, pode ser representado por eliminadorzinho, Miêta e Terno Rei. Aos que, como eu, observaram de perto os trajetos percorridos por eles, é visível a evolução (estética, profissional e, por que não, pessoal) a qual os integrantes da Iorigun se submeteram para este novo projeto, cada qual com suas próprias referências e vivências, sejam musicais ou não. É também compreensível a forma como eles passaram a se comportar — ao vivo e em estúdio — e a velocidade incrivelmente rápida com a qual eles estão produzindo (eles já estão pensando em um segundo EP antes mesmo de lançar um primeiro!).

A Iorigun vem chamando cada vez mais atenção não só por sua sonoridade, mas também por seus shows agitados e performáticos. Por mais que os membros tenham históricos relativamente diferentes, o projeto é extremamente coeso e sincronizado, principalmente no palco— aos que quiserem tirar a prova, eles tocam no dia 14/11, em Salvador, para o Fervura Feira Noise(em parceria com o “Quanto Vale o Show?”, esquema “pague quanto quiser”) e no Amélio Amorim, em Feira de Santana, no dia 25/11, para o Feira Noise 2017.

No meio do ano passado, Iuri me mandou algumas demos de músicas que ele gravou sozinho e que hoje vocês tocam na Iorigun. A proposta inicial era ser um projeto solo? Como a banda chegou à formação atual?

Moysés — Não, a Iorigun sempre foi um projeto pensado como uma banda. Eu conheci Iuri através de uma gravação que ele estava fazendo em PV (Paulo Victor, Netuno Estúdio, ex-Magdalene) e a gente decidiu se juntar para começar a compor e formar uma banda. Nós passamos um tempo compondo, produzindo, aprendendo a usar algumas ferramentas no computador, porque a gente não tinha grana para gravar com outra pessoa. Depois decidimos passar a tocar ao vivo e começamos a procurar alguns elementos condizentes com a banda, pessoas que pudessem incorporar nosso projeto. Conhecemos Leonel e Fred assistindo a shows de outras bandas em que eles tocavam. Eu e Iuri tocamos com Leonel e outros dois amigos uma vez, foi legal, o som rolou, aí o chamamos para nossos ensaios. Sentimos a necessidade de um segundo guitarrista e Leo indicou Fred, que já tinha tocado com ele em outras bandas. Desde o primeiro ensaio bateu e foi isso aí, a Iorigun estava pronta.

Vocês me passam a impressão de ser uma banda bem organizada, muito mais do que todas as outras bandas que vocês já tiveram. Fora do palco, que outras funções vocês exercem na Iorigun?

Iuri — Sim, com certeza. Quando nós nos juntamos, nos juntamos com a proposta de fazer diferente, fazer certo. Nós temos sim nossas funções, cada membro tem uma função na Iorigun. Moysés é o agente da banda, ele que fecha os shows, organiza as paradas. Eu geralmente cuido da página do Facebook, Leo e Fred do Instagram. E não é só isso, uma banda independente tem muitas demandas, como marcar ensaios, por exemplo. Leo é quem marca nossos ensaios. São muitas funções que a gente tem que dividir, porque é muita coisa para se pensar — eu torço muito pelo dia em que a gente só vai se preocupar em fazer música, porque essa é a melhor parte.

Mas é comum que, mesmo depois de grandes, as bandas independentes continuem se preocupando com questões não-musicais, relacionadas à logística. Vocês pensam em ter uma equipe, então?

Moysés — A gente sempre vai se importar com tudo que tem relação com a banda. Com a estética, os shows, as artes das capas — sempre decidiremos sobre tudo. Mas a gente espera sim ter uma equipe que possa nos ajudar nesse processo. Não queremos nos preocupar com quem fará o próximo post no Facebook agradecendo o nosso último show, sabe? Nós queremos continuar dando as ideias e criando as coisas, mas esperamos ter uma equipe para executar isso e nos garantir mais tempo para experimentar e produzir. A gente tem demo pra caralho e potencial para evoluir em termos de som e qualidade, e achamos muito mais importante se preocupar com isso —queremos melhorar como banda ao vivo e em estúdio, por que não estamos no nosso ideal, incrementar novos equipamentos e timbres, gravar coisas novas, testar coisas novas. Infelizmente, o tempo é limitado, então a gente prefere dar prioridade à música, produzir muito, trabalhar muito — nós nos inspiramos muito em bandas como King Gizzard & The Lizard Wizard, que lança cinco álbuns em um ano. E a nossa intenção é pegar essa nossa energia e conexão e potencializar nosso trabalho, produzir mais.

Boa. E quem faz as artes da banda?

Moysés — As artes são uma visão da banda associada a outras pessoas. A gente já tinha a ideia do símbolo da banda em nossa cabeça, como nós queríamos e tal. Nós passamos essa ideia para um amigo nosso que trabalha com design, Ygor Mendes, e daí ele criou aquela imagem e o vídeo de Downtown que está no YouTube. Inclusive, Iuri já está trabalhando com Ygor para a capa do nosso EP. Maíra Dórea faz as fotos, ela já fez alguns ensaios com a gente e fotografa nossos shows, e também tem o Vinícius Lisboa,que fez nosso primeiro ensaio. É uma galera que ajuda a gente pra caramba.

Vocês podem me falar um pouco do conceito por trás desse símbolo?

Moysés — O símbolo representa o Cruzeiro do Sul, porque nós somos da América do Sul né, Feira de Santana. E além disso, é um conjunto de cinco estrelas, é um pentagrama de qualquer forma, que também tem uma representação forte. E as pirâmides que formam o Cruzeiro do Sul, substituindo as estrelas, também representam coisas fortes.

Que viagem da porra.

Fred — [risos] Mas é sério!

Não duvido da seriedade disso. A Iorigun está crescendo assustadoramente rápido e também está produzindo assustadoramente rápido. Vocês têm algum sentimento de urgência ou megalomania nela?

Iuri — Não acho que seja um sentimento de urgência. Foi só um casamento que deu certo, visto que todos, a princípio, tinham o mesmo objetivo — fazer música porque gosta e querer produzir cada vez mais. Acho que vislumbrar um futuro em que isso seja possível e facilitado é o que move a gente a seguir em frente e a trilhar um caminho. Esse comprometimento, o tempo e a energia dedicados à nossa produção acaba ajudando no nosso crescimento. Não sei se isso é ser megalomaníaco.

Esse não era um objetivo comum nas outras bandas que vocês tiveram?

Iuri — Não, acho que é mais uma questão de vibe mesmo. Estamos todos numa mesma vibe, num mesmo momento.

Todos vocês já tiveram alguma experiência em estúdio com bandas anteriores e agora vocês gravam em casa. Que diferenças vocês pontuariam entre gravação em estúdio e gravação caseira?

Iuri — Para mim, gravar em casa é uma experiência muito mais confortável, pois você está em um ambiente mais aconchegante, que é o seu ambiente. Além de gravar em estúdio, eu também tive outras experiências em casa. E usar ferramentas que eu já usava anteriormente, gravando sozinho, me deu muita confiança para experimentar mais e me sentir como parte do processo de gravação. Isso é algo importante para o músico, e para o crescimento do músico, também.

Fred — Em casa, nós temos todo o tempo do mundo para experimentar, aprender sobre o processo de gravação em si e deixar a nossa música com a nossa cara. Também é massa gravar em estúdio e a qualidade provavelmente será maior, mas acho que isso não compensa o preço e o limite de tempo.

Moysés — Realmente, é muito mais confortável gravar em casa. A gente pode experimentar e gastar o tempo que for preciso para nossas experimentações. E nós aprendemos muito com esse processo — se não sabemos de algo, basta pesquisar na internet e fazer. Mas eu gravei os trabalhos da Magdalene em estúdio, com André T. (Pitty, Retrofoguetes, Cascadura), e a qualidade da gravação é muito melhor. Ele tem equipamento pra caramba e já trabalhou com várias bandas grandes, então ele sabe exatamente o que fazer. Nós estamos descobrindo nossos caminhos fazendo e experimentando, e trabalhar com um produtor em um estúdio de renome garante uma qualidade de áudio muito maior.

Vocês acham que esse conforto que a gravação caseira promove traz algum retorno estético?

Iuri — Eu acho que sim. E acho que isso ocorre com muitas outras bandas que percorrem por este caminho — você tem que usar as limitações ao seu favor, usar das ferramentas que você tem em mãos para materializar o que você tem na sua cabeça. E essas limitações são boas, porque te possibilitam várias outras saídas que, possivelmente, você não pensaria se estivesse em um estúdio. Então acho que sim, tem tudo a ver.

Vocês já passaram por algum perrengue durante esse processo de gravar em casa, ou algo que vocês gravaram saiu muito diferente do que vocês imaginavam por conta dessas limitações?

Moysés — Não, nada saiu diferente do que a gente imaginava — com os equipamentos que nós temos, experimentamos até encontrar o que nos agrada. Mas por perrengue a gente passa o tempo todo. A gente grava em linha e depois pega uma parada que já tinha gravado antes porque a nova gravação não ficou legal, o computador trava, o que a gente acha que tá limpo e bem gravado tá sujo, quando começamos a mixar percebemos que tá tudo uma merda e ficamos frustrados pra caralho. Mas depois mexe em tudo e acha que tá bom.

O que vocês podem me dizer sobre o EP que vocês estão gravando?

Iuri — Nós gravamos quatro músicas para esse EP, “Downtown”, “Crash Into The Sun”, “HowWish I Had”, que a galera que vai nos shows conhece como “Iori II” e “The Trickster”, que é uma música nova que nunca tocamos ao vivo. Então ele vai consistir em uma música que já gravamos, outras duas que tocamos ao vivo e uma quarta faixa inédita. Decidimos incluir “The Trickster” por ser coerente ao EP — nós reunimos essas três músicas e tínhamos essa demo, que eu fiz há muito tempo e depois eu trouxe para trabalhar com a banda. Não havia a pretensão de incluir essa faixa no EP, mas nós ouvimos e percebemos que ela faz bastante sentido nele. Estamos finalizando a etapa de mixagem e, se tudo der certo, nós o lançaremos ainda esse mês.

Vocês foram rápidos.

Iuri — Nós temos tantas músicas que você nem imagina. Só para você ter uma ideia, nosso segundo EP, que também queremos lançar muito em breve, no meio do ano, já está praticamente pronto conceitualmente. Já temos todas as demos e ideias.

Por que vocês não lançam um LP?

Iuri — A gente tinha muita vontade, talvez até fizéssemos isso. Mas acho que um LP é muito mais do que um EP, é um ciclo muito bem definido. Acho que nosso EP está bem nessa pegada, mas acho que o LP tem que ser algo mais fechado e grandioso ainda. Fora que, fazendo vários EPs, podemos experimentar várias sonoridades diferentes.

Iuri uma vez me disse que não queria gravar “Don’t Wanna Be Here” — minha preferida da banda —porque ele acha que a música não tem mais a ver com a estética da Iorigun. Vocês concordam com isso?

Moysés — Nós trabalhamos na base do consenso — para tomar qualquer decisão, todo mundo tem que concordar e estar confortável com ela. Se Iuri não quer gravar um som porque ele acha que não combina com a nossa estética, a gente supera. Mas nada impede que a gente chegue mais à frente e escolha voltar atrás, grave demos que não gravamos no passado.

As fotos são de autoria de Maíra Dórea. 

Confira abaixo a performance da banda da música Downtown no Fervura Feira Noise 2017 edição que rolou no Offsina Music Loung no dia 06 de outubro. 

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