Pali Trombon é uma cantora e instrumentista que faz alguns anos se radicou na Bahia e lança agora a homenagem: Original Jamaican Covers(2018)
Certamente artistas não se contentam em fazer covers, eles querem colocar pra fora sua veia criativa e mostrar que também são capazes de construir música de modo original. Um álbum de covers nessa perspectiva seria a demonstração de fraqueza criativa e do aproveitamento do repertório clássico afim de surfar na onda do já estabelecido. Não é o caso de Pali Trombon e de sua banda, que lançaram no dia internacional da mulher um disco que é um misto de exercício e louvação dos clássicos da música jamaicana.
Ao mesmo tempo, é também o registro em estúdio dos shows eletrizantes que a cantora, compositora e instrumentista argentina radicada na Bahia, nos entrega. Pali se radicou na Bahia em 2013 para aprofundar seus estudos na música de origem diaspórica. Tendo escolhido o reggae que já era sua paixão em terras argentinas, onde participou de diversas bandas, aqui ela foi muito bem acolhida e sua paixão e qualidade musical vem sendo progressivamente reconhecida.
Sua caminhada em terras baianas incluem também o trabalho com a banda Obirin dirigida pelo maestro Leitieres Leite, tendo também participado de diversos projetos como backvocal e trombonista. Em 2014 essa excelente cantora e instrumentista criou o projeto próprio OJC (Original Jamaican Covers), uma forma de fazer um tributo a música jamaicana em terras baianas.
O resultado desse projeto é o que podemos conferir agora, com uma qualidade absurda de execução e muita autenticidade, fruto da escolhas dos músicos, repertório e obviamente da própria artista. E agora voltamos ao tema inicial desse texto, seria um álbum inteiro de covers o signo de pouca criatividade e a oportunidade de se fazer em cima de um repertório já estabelecido? Em 2017, Pali Trombon deu uma pequena prova de sua capacidade de ser original com seu próprio material, frente a outro mestre da música jamaicana, apesar de londrino, o grande Pato Banton:
O time reunido por Pali não é brincadeira, grandes nomes da música baiana a acompanha nessa jornada que é o disco Original Jamaican Covers (2018) dando o colorido diferenciado que o disco transmite. Nessa trupe temos Ricardo Correia (Bateria), Alan Dugrave (Baixo), Alex Lacerda (Guitarra), Prince Addamo (Guitarra), Hugo Sanbone (Teclado e trompete), Normándo Mendes (Trompete), Karyne Rosselle (Backing vocal), Nilce Ramos (Backing Vocal). Basta pegar fichas técnicas – hábito pouco comum entre nós – pra perceber que estamos diante de um time de estrelas. Uma constelação que colabora de modo brilhante para que o repertório seja executado com a qualidade devida.
A artista argentina não tem medo de mostrar publicamente sua potência em recriar alegremente clássicos da altura de um No No No, da jamaicana Dawn Penn, ou de envergar a força de uma potência histórica e musical da estirpe de Marcus Garvey ( Burning Spears).
No entanto sabemos o quanto é difícil a vida de artistas independentes, e o disco é resultado de dois anos mais ou menos de gravações. No entanto está aí lançado o resultado, e como já esperávamos transmite muito bem a sensação que temos ao ver a argetiniana, em ação. Faz pouco fomos num show dessa moça, e passamos algo em torno de 50 minutos dançando ininterruptamente. Os arranjos das músicas apresentadas tanto no show quanto nesse álbum não nos deixa outra opção, dançar e louvar a música jamaicana.
Veja-se por exemplo o caso do excelente clássico Should I do mestre Dennis Brown, e como a execução de Pali e de sua trupe dá um conotação diferente para a canção sem deixa-la no entanto longe demais de sua características primordiais! Apenas a aceleração no ritmo da canção e a consequente versão dub, atravessada pelo trombone da Pali, já nos dá um outro gostinho!
É possível recorrer também a momentos intrumentais, para além da versão dub de Should I, em Drifter, outra canção do Dennis Brown, podemos perceber tranquilamente o peso da banda que acompanha a cantora e instrumentista. Alan Dugrave e Ricardo Correia dialogam lindamente dando-nos a ver a força da cama sonora sobre a qual Pali pode desfilar com desenvoltura.
Original Jamaican Covers é um disco para nos alegrar ouvindo releituras potentes de clássicos da reggae music, reforçando o amor que nutrimos pela música reggae. Mas pode também e ao mesmo tempo, ser uma excelente porta de entrada para esse mundo fascinante.
De resto, é preciso dizer que essa estreia é ainda uma especie de imenso single, ou antes uma mostra do que pode a artista. Ao mesmo tempo em que lança o resultado de dois anos de trabalho, Pali Trombon já entrou em estúdio e já começa a preparar seu disco de inéditas. Então, amiguinhos e amiguinhas que acompanham o oganpazan, peguem a visão dessa maravilhosa homenagem a música jamaicana e vamos aguardar os próximos lançamentos da Pali Trombon.