Padrim, também conhecido como FBC foi do que chamamos de disco tipo ocupação, a elaboração de um grande disco de Trap!!!
O FBC lançou o disco Padrim. Tudo bem que não somos trappeiros de marca maior, nem daqueles especialistas no sub gênero musical do tipo que conhece o nome da vó do Young Thug, mas de vez em quando a gente dá uns chutes. Nesse final de 2019 desgracado para o Brasil e grandioso para o rap nacional, preenchido de lançamentos maravilhosos que contrastam com a penúria que é o cenário político e talvez por isso mesmo, enquanto o rame rame de melhor disco do ano não para, cravamos aqui: Padrim (2019) é o melhor disco de trap nacional que escutamos.
Veja bem, não falamos melhor mixtape, nem melhor EP, falamos em melhor disco e é sobre isso que vamos dixavar abaixo. É preciso que se diga que o Trap nacional tem uma história muito pouco conhecida, fãs de trap são muitos, consumidores e trappeirxs influencers são muitos, mas a história do gênero, suas nuances e pioneiros, as formas como o sub gênero desembarcou no país, as conquistas técnicas? são muito pouco conhecidas. E aquela peça publicitária, pois aquilo não pode ser chamado de documentário, lançada pelo Spotify certamente apenas contribuiu para manter a desinformação e a ignorância.
Ora, assim como o rap ao desembarcar no Brasil recebeu influências e tomou direcionamentos que não sincroniza no tempo e no espaço com o que acontecia/acontece na matriz do gênero, com o trap, nos parece, não foi e não é diferente. São artistas e contexto em locais muito distintos, e obviamente por esse fatores fundamentais não podemo partilhar do mesmo contexto e dos mesmos problemas.
Pois bem, dentro da recente história do trap no Brasil, o que percebemos não sendo especialistas é resumidamente uma primeira geração em evidência que chamou o trap para jogo rimando no formato de construção do boombap, outros que iniciaram um trabalho de construção e pesquisa dentro dos formatos técnicos próprios do sub gênero e aqueles que agora estão dando seu próprio estilo ao formato. E obviamente aqui, não estamos em condições de analisar todo o histórico do trap nacional, mas é importante ressaltar esses aspectos para situar o Fabrício no contexto em que queremos. ]
Uma estupidez que a cena do rap cultiva é o de criticar o trap por seu caráter hedonista, pop, porraloca, aspectos essenciais para sacar que essa expressão possui traços oriundos de sua origem. Por outro lado, há também uma outra bobagem de achar que o trap exclui por essas características – digamos primordiais – qualquer possibilidade de contestar o “sistema”. Poderíamos citar aqui citar diversos exemplos de trappers e de sons que rompem essa barreira artificial, mas vamos falar apenas que Raffa Moreira é Deus!
Tendo chamado o nome do senhor, não em vão, precisamos falar do Padrim aka FBC, o filho bastardo do caos, conseguiu uma façanha que para nós soou à perfeição: fazer um disco onde conjuga os aspectos mais pops e ao mesmo tempo mostrar que é possível ser o mais politico e atual da mesma forma, no mesmo pacote. A música preta não conhece distinções do tipo corpo x espírito, alegria x seriedade, diversão x entretenimento, todas essas dicotomias são fruto de uma perspectiva de mundo branca e ocidental.
E ao romper com essa dicotomia e produzir um disco nojento de tão pegajoso como os piores clichês da pop music, o FBC consegue a façanha de produzir um disco de Trap, e ao mesmo tempo o melhor disco do subgenero no que nos concerne do que foi lançado no Brasil. É aquela fórmula do sucesso que consegue agradar gregos e troinanos e que ao mesmo tempo não pode ser aprisionado por uma facção apenas. Quando ele sai do Trap e faz uma música cantando como em “Se Eu Não Te Contar“, ainda assim você sente o força daquilo que o rapper FBC quer representar: “Eu estava em tudo que é lutas de classe e de causa e o incrível é que em todas eu via você.”
Não é díficil de perceber que as produções dos beats de trap, por parte do Go Dassist são digamos assim conservadoras, que aqui não é um palavrão, pois servem ao excelente proprósito de vincular – senão revolucionárias – mensagens de fortalecimento e de auto cuidado que são o mais necessário nesse momento de nossa história nas nossas periferias. É só ouvir a nojenta “Money Manin”, uma das melhores músicas que ouvimos no rap nacional esse ano. Você quer REP mais consciente e suscinto e mais comunicativo com uma geração que não quer mais do que 180 caracteres do que esse? FAÇA!
Uma faixa que trabalha dentro de um registro de resgate dos nossos que fazem tudo por dinheiro, inclusive entregar a vida, nada mais politico. Nada mais gratificante do que essa busca por salvar vidas e o Padrim ainda insere uma enunciação sobre o governo Lula que ganha uma dimensão histórica fabulosa. Depois de um governo que privilegiou o lucro dos grandes empresários e rentistas, e tentou ao mesmo tempo distribuir renda com os mais pobres e melhorar o consumo e acesso a seguridade social: “Essa corrente eu parcelei no governo do lula mano” é uma linha talvez mais complexa do 90% do que ouvimos constantemente, por que é de uma verdade ambígua perfeita.
Pra ficar no registro da macro politico em “Assim Que Se Sente“, há toda uma cartografia social e racial (implícita) que questiona o desconhecimento que possúimos enquanto sociedade, dos mecanismo que estagnam famílias. A questionamentos diversos atravessando o disco como em “Capa” – sobre impressões e técnicas do jogo – tem um popzeira, pique hit imediato como “Iphone“, que é grudenta mais do que chiclete. Ao mesmo que discute relação e impressões falsas sobre relacionamentos, que se complementa com a “Ode a Tristeza“, a outra única faixa que foge do trap, onde o artista fica a um triz de fazer uma música chata e mal executada vocalizada.
No entanto, encontramos um tanto quanto, a solução para essa segunda faixa nas músicas de amor hitzeira “$enhor“. Acho que uma primeira lovesongmoney, um constraste a money manin, mas também uma ironia e uma critica fudida a importância do nosso amado senhor de todos os dias: DINHEIRO. Com participação de dois mcs cariocas na primeira pratileira do rap nacional: BK e L7nnon, é uma das faixas que chamam atenção por inserir complexidade a um conteúdo e a uma prática comum no Trap. A elegia ao dinheiro aqui é subvertida por toda uma gama de constatações que nos chama atenção para as tragédias que a falta do “senhor” nos causa.
A música que tem a partipação da maravilhosa e fuderosamente trapper de Ebony, “Confio”, é a mais pesada do disco, que apresenta um flow extraterrestre e arrasta facilmente a faixa. Os versos da carioca vão do processo de escravidão que resultam do contexto atual em que vivemos à indústria cultural e a assimilação de certos signos pela negritude. Um popzera total e que pode nos levar a pensar que temos apenas uma ode ao rolê: “THC” feat Luccas Carlos. Mas mais uma vez o FBC consegue dentro dessa faixa ressaltar o racismo e a violência policial e junto com a busca pela diversão da juventude periferica e preta.
As participações presentes no disco ao longo de algumas das faixas são não meros acessórios, mas confirmações das intenções iniciais e da concepção estética que o disco carrega brilhantemente. Aí percebemos com legitimidade o pensamento do artista e o conduzir das peças numa visão de conjunto. Ao escolher as participações de seu disco, mas sobretudo ao conceber o disco da forma apresentada o FBC conseguiu um segundo disco – que geralmente é difícil – se transformar no melhor disco que já ouvimos no trap nacional. Pois rompe com a quadradice de blogueiros e público ao mostrar que o trap é uma cama onde quem possui qualidade e inventividade pode deitar e rolar, e o Padrim transformou num tapete voador!
Para finalizar, é preciso avisar ao mano Fabrício que os portais de rap trabalham sério demais, sem conseguir grana alguma. E que não cabe de modo algum fazer criticas infudadas aos mesmos, sendo assim, de minha parte admiro muito todo o trampo de busca engajamento pelas redes e é esse um caminho, mas outro é conseguir montar um material e mandar para os blogs, e não estamos falando dos cuzão dos sites de fofoca. Agradecimentos ao Rafael Barra e Alice Duck, responsaveis pela produção executiva do álbum!
-Padrim: Da Ocupação a um grande disco de Trap, voa FBC
Por Danilo Cruz