Nos seus 100 anos de nascimento e dez de falecimento, nenhuma homenagem em vista por aqui, ao menos que eu saiba…
Rewind <<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<
O cenário é a Salvador pré-industrial, os personagens são muitos, mas começaremos por estes dois: o Reitor da UFBA Edgard Santos – um visionário, inspirado nas idéias revolucionárias de Anísio Teixeira – e o músico alemão, um dos protagonistas do movimento da vanguarda histórica europeu do início do século XX. Resumindo a história: Edgard Santos convidou Koellreuter para vir passar um tempo na Bahia com a missão de ajudá-lo a criar os cursos de Arte da Universidade.
Tal qual um técnico de uma seleção responsa, o maestro escalou para o recém criado Seminários de Música da UFBA, nada menos que Walter Smetak, Ernest Widmer e Piero Bastianelli, dentre outros. Para as outras linguagens (Teatro, Dança, Artes Visuais), convocou Lina e Pietro Bo Bardi, Yanka Rudzka, o pensador português Agostinho Neto, a fina flor do pensamento de vanguarda da época. Em pouco tempo Lina Bo Bardi foi escolhida para fundar o MAM (Museu de Arte Moderna da Bahia, totalmente chapada pelas idéias avançadas desse gênio perseguido pela polícia política da época (ecos da ditadura de Getúlio Vargas), que foi o Anísio Teixeira. A idéia dele era montar um Museu “popular” um espaço não hierárquico entre as chamadas baixas e altas culturas.
Tropicalismo
Sem dúvida esse momento tem um reflexo direto no que viria a ser conhecido posteriormente como Tropicalismo. Quem rodava por lá? Segundo Tuzé me contou, Rogério Duarte (pensador e designer das melhores capas de Lp’s brasileiros da década de 70 + cartaz do Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha) andava a discutir/divergir eruditamente com Smetak,
Tom Zé descreve a sua formação nos Seminários de forma idílica e assombrada, Marco Antonio Guimarães (Grupo UAKTI- MG) também passou pelas aulas de Widmer e Walter Smetak, o percussionista Djalma Correia idem, boa parte da turma que bota pra quebrar até hoje como Tuzé de Abreu, Fred Dantas, Paulo Costa Lima, passaram por lá.
Caetano Veloso produziu o segundo disco de Smetak, homônimo, lançado pela Phillips em 1974; as bases de voz e violão dos últimos discos brasileiros de Gil e Caetano foram gravados no estúdio da UFBA, tendo, posteriormente, Rogério Duprat escrito e produzido os arranjos para orquestra e acrescentado as participações de Lanny Gordin e Tutti Moreno.
Sobre Koellreuter
Koellreutter veio para o Brasil em 1937 fugindo do nazismo e foi personalidade de destaque na História da Música Brasileira do século XX. Suas ideias se difundiram entre muitos artistas da música popular e da erudita.
O compositor tentou atingir na sua obra sons e músicas orgânicas, destruindo as fronteiras entre vida e arte: música, literatura e imagens. Seu trabalho foi acronotópico e se compõe de estruturas indeterminadas, sobrepostas de pequenos eventos sonoros no espaço-tempo.
Sua estética musical se caracterizou pelos seguintes aspectos:
1. os conceitos de tempo – o racional (de relógio), e o vivencial (relativo);
2. a substituição de melodia e harmonia pelo chamado campo sonoro;
3. a ausência de referenciais fixos e pré-determinados;
4. a ausência de uma lógica causal, que evita o previsível e o pressentido;
5. uma estrutura musical que dá passagem ao fundo “vazio”, isto é, ao silêncio em que a música ocorre;
6. presentificação “a princípio” dos componentes da partitura musical, isto é, ausência de antes e depois;
7. equivalência de todos os componentes da partitura, ou seja, ausência “a priori” de hierarquia;
8. complementaridade dos contrários, ou seja, transcendência entre o dualismo dos opostos, assim como consonância – dissonância, tempo forte e fraco, primeiro tema e segundo tema, e outros. (Encarte do CD Acronon, 2000).
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Por Edbrass B. – Músico, pesquisador e produtor do Low Fi Processos Criativos.
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Doc Informação Koellreuter – de Rogério Sganzerla, 2003