A boa esperança é a luta e é dessa forma que Emicida parece entender o momento atual do nosso país. Ele que vem ao longo dos anos entre um sucesso arrebatador e algumas pedradas recebidas, não desiste de expor toda sua indignação, seja através dos posicionamentos fora do palco, seja nele ou em suas músicas.
Em um discurso dos mais fodas que já se viu na Virada Cultural de São Paulo, Emicida bateu na ponta do queixo, ressaltando vários aspectos atuais. Bradou sobre o racismo, maioridade penal e a necessidade de apoio aos professores – pátria educadora – tudo isso em termos de rima. Não, Emicida não comprou a treta de partidos políticos. Seu discurso segue independente de siglas e se alia às causas do povo negro.
E nem bem esfriou a sanha de compartilhamentos e curtidas do seu discurso em nossas timelines e em publicações nos mais diversos sites, ele larga outra bomba. Depois do super discurso, o cara rouba a cena mais uma vez lançando um single – o melhor do ano até aqui – e deixando todo mundo de boca aberta e salivando na espera do álbum anunciado.
Boa Esperança segue a mesma linha e coerência do que é dito fora da música, é apenas mais uma expressão do mesmo homem. Contestação em alta num flow assassino, cheio do lirismo sempre presente em sua obra. No single esse lirismo encontra no tema do racismo a matéria prima para escaldar todos os aspectos que envolvem as percepções sobre os casos que se tornaram famosos e que são seculares em nosso país. Seja os autos de resistência, seja a hipersexualização do negro, o preconceito social diante da raça negra, violência e extermínio dos jovens negros pela policia, sensacionalismo na TV, intolerância racista com as religiões de matriz africana.
É sem dúvida nenhuma um prazer ver um artista que alcançou talvez um dos maiores sucessos no rap nacional, mantendo uma postura revolucionária, sem arrego. Seja na postura em palco, sem rabo preso com ninguém, seja na produção musical, sem diluir nunca suas rimas. Longa vida para Emicida…
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